Sábado – Pense por si

Maria J. Paixão
Maria J. Paixão Investigadora
25 de agosto de 2024 às 10:00

O mito e o fogo

É praticamente inexistente o debate a montante destas questões. Não se discute porque é que os incêndios se tornaram um drama de dimensões dantescas em Portugal, nem tão-pouco planos para evitar que a situação se agrave no futuro.

Em 1419, embarcações com navegadores portugueses chegavam, pela primeira vez, a uma ilha que apelidariam de "Madeira" devido à abundância desta matéria-prima. A riqueza ecológica da ilha atraiu não só a Coroa portuguesa, mas também os banqueiros da Flandres e de Génova, que financiaram o empreendimento que viria a tornar-se a primeira pedra do Império português e, para alguns especialistas, o embrião do capitalismo moderno. Apesar da riqueza dos solos e das condições climatéricas ótimas, a densidade da floresta que ocupava a ilha impedia o desenvolvimento de atividades económicas, em especial agrícolas. O fogo foi, por isso, desde o início, um elemento essencial na colonização da Madeira. Foi através da queima de enormes pedaços da floresta nativa que os colonos conseguiram abrir espaço, não só para se estabelecer, mas também para erigir as massivas plantações de açúcar que tornariam a ilha um dos maiores produtores de açúcar do mundo na segunda metade do séc. XV. A relação íntima entre a colonização da Madeira e o fogo reproduziu-se num "mito de origem": um fogo iniciado pelos colonos ter-se-ia descontrolado, tendo lavrado por sete anos e, em consequência, consumido grande parte da floresta.

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