Sábado – Pense por si

Manuel Pinto Coelho
Manuel Pinto Coelho Médico
12 de julho de 2025 às 10:00

Compreender e eliminar as alergias

Capa da Sábado Edição 2 a 8 de setembro
Leia a revista
Em versão ePaper
Ler agora
Edição de 2 a 8 de setembro

A razão pela qual algumas substâncias desencadeiam alergias e porque é que não o fazem em todas as pessoas não é ainda muito clara, mas a história de outras alergias na família (a chamada atopia) parece ser o principal fator predisponente. 

Uma em cada três pessoas no mundo tem uma alergia (World Allergy Organization). 

Em Portugal, um terço da população sofre de doenças alérgicas, o que dá uma ideia do enfraquecimento do sistema imunitário. 

As alergias acontecem quando o nosso sistema imunitário responde perante uma substância (alérgeno) aparentemente inofensiva, por exemplo, o pólen das flores, como se este representasse uma ameaça ao organismo. 

Quando as pessoas alérgicas contactam com essas substâncias, dá-se a produção de um anticorpo especial, a imunoglobulina E (Ig E), que se liga a células especiais (mastócitos), muito abundantes na pele e nas mucosas, que revestem o aparelho respiratório e o tubo digestivo, "à espera" do seu alérgeno. 

O resultado é uma intensa inflamação que origina os sintomas da alergia, como espirros, nariz a pingar, olhos vermelhos, tosse e comichão na pele. 

Quando a exposição a esse alérgeno é intensa e muito prolongada, essa inflamação e a doença alérgica podem tornar-se crónicas e persistentes. 

A razão pela qual algumas substâncias desencadeiam alergias e porque é que não o fazem em todas as pessoas não é ainda muito clara, mas a história de outras alergias na família (a chamada atopia) parece ser o principal fator predisponente. 

A resposta poderá estar em alguns genes que passam de pais para filhos e nalgumas condições do ambiente que favorecem a "proliferação" dos alérgenos (Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica – SPAIC: Vwww.spaic.pt). 

Contudo, o aumento das alergias está cada vez mais associado a um ambiente doméstico progressivamente mais hermético, com as crianças a passarem 90% do seu tempo dentro de portas, ao consumo de certos ácidos gordos e conservantes e de medicamentos como os antibióticos, que diminuem as defesas naturais que residem no intestino. 

As doenças alérgicas mais frequentes são: 

Rinite alérgica – Nariz tapado, comichão, espirros e pingo no nariz. 

Conjuntivite alérgica – Inchaço, vermelhidão e comichão em ambos os olhos. 

Asma – Tosse, falta de ar, chiadeira no peito, que surge subitamente, ora em determinados locais, ora após constipações, com o exercício ou no local de trabalho. 

Dermatite atópica – Também chamada eczema, surge com vermelhidão, comichão, descamação da pele na face ou nas dobras dos cotovelos ou joelhos. 

Urticária – Alergia da pele, com manchas e pápulas que dão muita comichão. Os episódios são muitas vezes desencadeados por hipersensibilidade a certos alimentos, medicamentos e stresse. 

Anafilaxia – é a forma mais aparatosa e grave da alergia. Surge em poucos minutos após o contacto com o que provoca a alergia (alimentos, penicilina, picada de abelha ou vespa, contacto com borracha, látex, etc.), com inchaço, calor, urticária, espirros, falta de ar e sensação de desmaio. Quando não é tratada imediatamente com adrenalina injetável, pode levar à perda de consciência, choque e morte. 

Sinusite e otite média – Apesar de não serem doenças alérgicas, estão muitas vezes associadas à rinite, complicando o seu quadro. A inflamação aguda ou crónica das cavidades em redor do nariz e atrás das maçãs do rosto e dos ouvidos é muitas vezes uma extensão da inflamação alérgica que, pela sua cronicidade, facilita as infeções. 

O tipo de alérgeno e a forma como este é transportado determina a alergia que vai provocar, e que pode ser: 

Respiratória – Os alérgenos são transportados pelo ar, sendo os mais frequentes o pólen de ervas (gramíneas), ervas daninhas, arbustos e árvores, os ácaros do pó, os esporos de fungos, os epitélios de animais e os insetos. 

Alimentar – É uma reação a um alimento ou parte dele e afeta o aparelho digestivo, podendo ainda causar reações generalizadas. As mais importantes são ao leite, ovos, trigo, amendoim, frutos de casca rija, marisco e moluscos, peixe e soja. 

Insetos – Na Europa mais de 95% das reações alérgicas provocadas por insetos são resultantes da picada de abelhas e vespídeos. Os mosquitos, moscas, pulgas e percevejos podem provocar reações, geralmente locais, resultantes da mordedura e não da picada. As espécies mais importantes do grupo de insetos himenópteros são: Vespulas, Dolichovespulas, Vespas, Polistes e Apis melífera (abelha do mel). 

Medicamentos – Quase todos os medicamentos podem provocar alergias. Mas existem alguns grupos que são mais problemáticos, como os antibióticos, nos quais se incluem as penicilinas e as sulfamidas, o ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não esteroides, utilizados como analgésicos, mas também os relaxantes musculares, os medicamentos antiepiléticos e os produtos de contraste (para exames radiológicos, por exemplo), entre outros.

Mais crónicas do autor
12 de julho de 2025 às 10:00

Compreender e eliminar as alergias

A razão pela qual algumas substâncias desencadeiam alergias e porque é que não o fazem em todas as pessoas não é ainda muito clara, mas a história de outras alergias na família (a chamada atopia) parece ser o principal fator predisponente. 

05 de julho de 2025 às 10:00

O que é a imunidade

A imunidade é responsável por prevenir o cancro e atua a dois níveis.

28 de junho de 2025 às 10:00

Infeções, como surgem e o que provocam (3)

Lavar as mãos. Nunca como nos últimos tempos estas palavras foram tão repetidas. Um gesto simples, que salva vidas.

21 de junho de 2025 às 10:00

Infeções, como surgem e o que provocam (2)

Sangue, sémen e fezes transmitem micro-organismos, tal como as dentadas de humanos e animais e outras feridas que rompem a pele e que, desta forma, podem permitir que os micro-organismos disseminados invadam o corpo

14 de junho de 2025 às 10:00

Infeções, como surgem e o que provocam (1)

Os primeiros registos de infeções em seres humanos datam de 7000 a.C., no Egito e na Babilónia.

Mostrar mais crónicas