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Lara de Sousa Dantas
Lara de Sousa Dantas
21 de dezembro de 2024 às 10:00

Natal: Uma Luz na Mesa e no Coração

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Edição de 5 a 11 de agosto

O consumo, quando feito com consciência, pode ser um caminho de solidariedade e uma forma de fortalecer a economia sem perder de vista o significado da época.

O Natal aproxima-se, trazendo consigo a magia das luzes, os reencontros familiares e a pausa que muitos de nós tanto precisamos.

O Natal é bonito. Sempre foi. Eu gosto do espírito do Natal.

Dá-nos esperança, devolve-nos famílias após correrias apressadas.   

É uma época de tempo partilhado, de união e de gestos que falam de amor. Por mais que o brilho das decorações e o encanto das músicas nos cativem, há algo mais profundo que o Natal nos oferece: a oportunidade de refletirmos sobre a nossa sociedade e sobre o que realmente significa esta celebração.   

Este é um tempo que não só aquece corações, mas também aquece economias.  

O consumo, frequentemente criticado, tem o seu lado positivo. É ele que dá vida ao comércio, que sustenta milhares de famílias e que, nesta altura, cria oportunidades para pequenos negócios prosperarem.   

Cada prenda comprada numa loja local, cada garrafa de vinho de um pequeno produtor, cada doce tradicional encomendado à pastelaria do bairro é mais – aliás, muito mais – do que um simples ato de compra.  

É um gesto que apoia comunidades, valoriza o que é nosso e cria laços mais fortes com o que nos rodeia.   

O amor pelo que é português tem crescido.  

Hoje, escolhemos mais produtos feitos em Portugal, mais serviços locais, mais pessoas que colocam alma no que fazem.  

E isso é um sinal de que estamos a mudar enquanto sociedade.   

É bonito ver como o pequeno comércio está a recuperar o seu espaço. Como as ruas se enchem com as luzes das lojas de bairro e como os mercados de Natal se tornaram pontos de encontro e celebração.  

Os mercados de Natal são, quase – atenção, digo quase – como uma esperança de que possam substituir o "shopping".   

O consumo, quando feito com consciência, pode ser um caminho de solidariedade e uma forma de fortalecer a economia sem perder de vista o significado da época.   

Mas o Natal não é só luzes e movimento.  

É também um espelho daquilo que somos enquanto sociedade. Por vezes, esse espelho reflete desigualdades que não podemos ignorar.  

Há famílias que não conseguem pôr bacalhau na mesa, trabalhadores que não têm folga para celebrar e idosos que passam a noite sozinhos.   

É nesta época que percebemos como a felicidade não é igual para todos.  

Há famílias que passam o primeiro Natal sem alguém.  

Há pessoas que enfrentam a pobreza extrema. Há quem não consiga comprar um brinquedo para os filhos.   

A saúde mental é outro tema que merece destaque, especialmente nesta altura do ano. Para quem está a enfrentar dificuldades emocionais, o Natal pode ser um período especialmente duro.   

A felicidade extrema, como bem disse Gustavo Corona, "é uma bomba-relógio para quem está triste". Quando o mundo parece exigir alegria, aqueles que sofrem sentem a sua dor amplificada.  

E isso é algo que todos podemos mudar.   

O simples ato de incluir, de perguntar como alguém está, de convidar quem está só, pode fazer toda a diferença.   

O consumo e a solidariedade andam lado a lado nesta época. Um não invalida o outro. Cada gesto de generosidade, cada prenda pensada com carinho, cada momento partilhado, contribui para um Natal mais humano.   

Não precisamos de escolher entre celebrar e ser conscientes. Podemos fazer as duas coisas: aproveitar o que esta época tem de bom e, ao mesmo tempo, estar atentos a quem está ao nosso lado.   

O Natal tem essa dualidade: é celebração e reflexão, é alegria e empatia. Talvez seja isso que o torna tão especial.   

É uma altura para nos lembrarmos de que, mesmo num mundo imperfeito, somos capazes de nos unir, partilhar e construir algo melhor.  

Este Natal, perguntemos como alguém está. Abramos mais um lugar na mesa.  

Liguemos àquela pessoa a dizer que pensamos nela.   

O Natal não precisa de ser perfeito. Precisa de ser verdadeiro.  

Feito de gestos simples, mas cheios de coração.   

Este Natal, sejamos luz para quem precisa. Isso é o que torna o Natal verdadeiramente inesquecível.   

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