Para que mundo caminhamos?
Para assegurar a resiliência europeia às crises que se avizinham é crucial repensar na maneira como a Europa utiliza os seus recursos e criar uma nova estratégia que garanta prosperidade das pessoas e do planeta.
Não bastando a dívida pública, esta semana, no dia de sobrecarga da Terra, Portugal passou mais uma vez a estar em dívida com o planeta. Tal significa que passámos a gastar mais recursos do que aqueles que o planeta é capaz de regenerar durante um ano.
Como tantas outras datas que alertam para o futuro da humanidade, para muitos este dia passou completamente despercebido. Assim sendo, importa clarificar o seu significado. O dia de sobrecarga da Terra é calculado anualmente pela Global Network Footprint através de uma estimativa que divide a quantidade de recursos que a terra consegue providenciar num ano, pela procura de recursos. Assim com base nestes cálculos, estima-se que seriam necessários 2,9 planetas Terra para responder às necessidades de consumo dos portugueses.
Não querendo de todo colocar o ênfase nos consumidores, pois esse trabalho já as petrolíferas fazem de maneira exímia, faz-me sentido apelar à responsabilidade política dos governantes europeus, dado que Portugal segue as tendências europeias de se situar no topo dos países que mais cedo esgotam os seus recursos. Aproveitando que o Pacto Ecológico Europeu tem sido recentemente escrutinado pelos diferentes partidos políticos na corrida às eleições europeias, vale a pena analisar a sua premissa inicial.
A ideia deste Pacto, adotado pela Comissão Europeia em 2019, seria dissociar as emissões de gases com efeito de estufa e consumo de recursos ao mesmo tempo que a Europa cresce economicamente. No entanto, esta estratégia, chamada frequentemente de crescimento verde, ainda não produziu nenhuma evidência de que funciona. Pelo contrário, com o passar dos anos, os países europeus continuam a esgotar os seus recursos cada vez mais cedo, ao mesmo tempo que o número de emissões de gases com efeito de estufa não para de aumentar.
Desengane-se que quem pensa que a preocupação com o esgotamento de recursos tem um cariz puramente ecocêntrico. Na verdade, a principal preocupação é bem egoísta, pois prende-se com a capacidade da espécie humana conseguir adaptar-se a um planeta com uma temperatura média bem acima do que aquela que estamos habituados e com inevitável escassez de recursos. Até porque, o planeta continuará a readaptar-se, o ser humano é que pode não ter essa capacidade, tornando-se responsável pela sua própria extinção.
Deste modo, para assegurar a resiliência europeia às crises que se avizinham é crucial repensar na maneira como a Europa utiliza os seus recursos e criar uma nova estratégia que garanta prosperidade das pessoas e do planeta. Sabemos que o sistema atual não está a ser capaz de responder a estas necessidades, não só pela degradação ambiental que assistimos mas também pela crescente desigualdade social.
Assim restam duas vias: continuar a insistir no crescimento verde e acreditar cegamente no aparecimento imediato de tecnologias que ainda não existem para salvar a humanidade ou apostar em políticas públicas que privilegiem a prosperidade social e ambiental em vez do crescimento económico.
A primeira via, conta inevitavelmente com o apoio das gigantes tecnológicas e dos grandes grupos económicos, que, mesmo sem resposta para o esgotamento de recursos ao qual também estarão expostos, preferem adiar ao máximo a resolução destas crises. A segunda via exige coragem, pois é necessário reformar estruturalmente o sistema económico de extração intensiva. A União Europeia, pela sua capacidade de coordenação entre diferentes países, pode ser um grande trunfo para que isso aconteça. No entanto, é necessário enfrentar os grupos económicos que sustentam a classe política.
A sociedade civil e academia têm-se mobilizado para que a Europa saiba mais facilmente responder a este dilema e por isso mesmo foi enviada à Comissão Europeia uma carta aberta para a criação de uma diretiva que obrigue os estados a fazer uma gestão sustentável dos recursos. No entanto, este pedido, como tantos outros, acabou por cair no esquecimento.
Perante estes cenários, e estando a poucos dias das eleições europeias, altura em que podemos influenciar o futuro deste e de tantos outros pactos, peço ao leitor que reflita para que mundo caminhamos, relembrando que o seu voto pode ter impacto no mundo para onde queremos caminhar.
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