Mas será que não há limites para a baixeza de carácter?
A sordidez da vida política tem-se acentuado de uma forma tão ignominiosa que não consigo deixar de tomar posição acerca dessa baixeza que se está a tornar “o novo normal” dos terríveis tempos que estamos a viver.
O assunto que eu queria ter abordado no meu texto publicado no passado Domingo e que queria abordar hoje, pode ser sumariado nesta frase: O GENOCÍDIO DOS PALESTINIANOS DA FAIXA DE GAZA TAMBÉM TEM QUE VER COM A NOSSA LIBERDADE E A NOSSA SEGURANÇA.
Ou seja, não são só os ucranianos que lutam pela nossa liberdade e pela nossa segurança.
E, por razões que são para mim um imperativo ético, tenho mesmo que sobre ele discorrer.
Acontece, porém, que a sordidez da vida política nacional e internacional se tem acentuado de uma forma tão ignominiosa - cada vez mais ignominiosa – que não consigo deixar de tomar posição acerca dessa baixeza que se está a tornar “o novo normal” dos terríveis tempos que estamos a viver.
Efectivamente, é-me impossível não manifestar a minha profunda repulsa por todo o repelente circo que se desenvolveu a propósito da tragédia do Elevador da Glória, em que, em vez de se procurar apurar o que realmente se passou e em preparar as condições para que não volte a acontecer um acidente desta natureza e com as terríveis consequências que dele resultaram, assistimos a um muito pouco sério exercício de “passa culpas” e a inaceitáveis demonstrações de incoerência, nomeadamente quanto a exigências demagógicas e populistas de apresentação de demissões produzidas no passado relativamente a outros, mas não assumidas hoje por quem antes formulou tais exigências.
E chegou-se ao ponto de, deturpando a realidade dos factos, se comparar situações que não comparáveis e chamando a terreiro quem já não está entre nós para se defender.
O que é absolutamente repugnante.
Infelizmente, a imagem que nos é transmitida, por sondagens, pelas redes sociais e pela comunicação social, é a de que a generalidade da população portuguesa parece tolerar estas hediondas condutas, negando-se a punir social e eleitoralmente aqueles que acham que em política vale tudo.
Todavia, ainda não perdi a esperança de que, no próximo dia 12 de outubro, os portugueses e as portuguesas coloquem essa gente sem escrúpulos no lugar que merecem, isto é, no caixote do lixo.
E quanto às sondagens, por que motivo não constitui objecto de uma análise mais cuidada o facto de serem tantos os que, abordados para participar nessas recolhas de opinião, se recusam a responder?
Que efeito poderá ter essa situação na fiabilidade das sondagens?
Para já, fico-me pela formulação destas perguntas – até porque não sou especialista nessa área do conhecimento. Mas bem gostaria que alguém esclarecesse estas minhas dúvidas.
Retomando o assunto de que aqui me ocupo, mesmo sabendo que é profundo o ódio primário e irracional que uma parte muito significativa dos cidadãos e cidadãs do país nutre por aqueles e aquelas que governaram Portugal nos últimos 50 anos, continua a ser para mim incompreensível que um burgesso inculto e boçal como André Ventura consiga sair impune apesar de todas as alarvidades que saem da sua boca.
Será mesmo que os portugueses e as portuguesas querem ser representados por quem corre atrás do som de palavras em língua estrangeira sem se preocupar em saber o que elas significam? E que, com isso, põe em perigo o prestígio de Portugal junto dos países com os quais nos relacionamos diplomaticamente e traz vergonha aos portugueses e portuguesas que migraram para esses outros países?
Ou será que acham que as palavras estúpidas e ignorantes de André Ventura e a correspondente votação do Chega contra a deslocação do Presidente da República à Alemanha para participar numa Festa de Cidadãos destinada a homenagear Portugal e a comunidade portuguesa residente nesse país, não foram objecto de escárnio também fora das nossas fronteiras nacionais?
E, como de costume, a culpa é sempre dos outros, porque ele é uma vítima, um pobre coitado – enfim, um verdadeiro Calimero.
Tal como a histeria anti-imigrantes, que põe em causa a História de Portugal subsequente ao período dos Descobrimentos e o bom relacionamento estratégico do nosso país estabelecido ao longo de décadas com os povos das ex-colónias portuguesas (e que no caso do Brasil dura há mais de dois séculos), também esta mais recente conduta de André Ventura e do partido de que é o Chefe Omnipresente e Omnipotente, é absolutamente contrária ao verdadeiro interesse nacional de Portugal.
Mas o pior é que, de uma forma totalmente irresponsável e suicidária, o governo PSD/CDS-PP acolheu como sua essa estratégia que enfraquece a posição política do país no chamado concerto das nações e nos torna cada vez mais dependentes e irrelevantes e cada vez menos soberanos – isto é, cada vez mais incapazes de definir autonomamente o nosso destino.
Já a nível internacional, para além da cumplicidade intolerável com a criminosa conduta do governo liderado por Benjamin Netanyahu, que, depois de ter violado as fronteiras do Líbano, da Síria, do Irão e do Iémen, e sem contar com o genocídio que está a cometer contra os palestinianos e palestinianas na Faixa de Gaza, atacou o território do Qatar, eis que Donald Trump e os seus apaniguados voltaram a descer ainda mais o já antes muito baixo patamar de iniquidade que é aquele em que se movimentam.
Como é conhecido, um agitador de extrema-direita, xenófobo, amante do uso generalizado de armas que, usando e abusando das citações de passagens do Antigo Testamento, destilava ódio em todas as palavras que proferia, e obviamente defensor acérrimo do actual presidente dos EUA, foi morto a tiro no passado dia 10 de setembro quando participava num comício numa universidade em Orem, no estado de Utah.
Por todas as razões e mais algumas, deploro profundamente este tipo de violência sectária (mas da qual os integrantes do movimento MAGA tanto gostam e incentivam tendo como alvo “os vermelhos” e, em geral, os defensores dos direitos cívicos e dos direitos sociais, incluindo os direitos reprodutivos das mulheres), até porque, como já está a acontecer, sem qualquer surpresa para mim, torna as pessoas assassinadas uns mártires da Causa.
Como, aliás, acontece com os terroristas islâmicos.
Curiosamente, os assassinados que não são de extrema-direita não são considerados mártires e, pelo contrário, até são apodados de criminosos, por essa gente com um ideário reaccionário e fascizante.
Ora, na linha daquilo que nele é habitual, Donald Trump já exigiu, sem que qualquer julgamento pelos tribunais tenha ainda sido realizado, que seja aplicada a pena de morte ao alegado responsável pela morte daquele seu apoiante, e, cereja no topo do bolo, quer atribuir ao assassinado, a título póstumo, uma “Medalha Presidencial da Liberdade”.
Contudo, e em sentido absolutamente inverso, não atribuiu qualquer honraria às pessoas que foram assassinadas no ataque ao Capitólio dos Estados Unidos ocorrido em 6 de janeiro de 2021, perpetrado por partidários do então presidente Donald Trump por ele convocados para se reunirem em Washington, D.C. para protestar contra o resultado da eleição presidencial de 2020, justamente na data em que o Senado e a Câmara de Representantes se reuniam para certificar a vitória de Joe Biden, e, pelo contrário, logo no início deste seu actual segundo mandato, indultou e perdoou as penas daqueles que foram condenados pela prática desses miseráveis actos criminosos atentatórios da Democracia, da Liberdade e das liberdades públicas.
É esta trágica dualidade de critérios que me enoja. E me preocupa, porque é com ela que, aos poucos, se vai destruindo a Democracia e o Estado de Direito, e vão sendo violados impunemente os direitos humanos que são uma conquista civilizacional, fruto de um combate cívico que tantas vidas e tanto sofrimento custou a incontáveis gerações de seres humanos ao longo da História.
Conquistas humanas e não direitos dados por Deus como defendem esses reaccionários, xenófobos, intolerantes e supremacistas como o apoiante de Donald Trump assassinado no Utah, para quem a palavra “empatia” era algo de abjecto e intolerável.
E diz essa gentinha que são cristãos. Não são, de todo. Para além de ignóbeis mentirosos, o que eles são é idólatras e falsos profetas.
Até nisso são odiosos.
Mas será que não há limites para a baixeza de carácter?
A sordidez da vida política tem-se acentuado de uma forma tão ignominiosa que não consigo deixar de tomar posição acerca dessa baixeza que se está a tornar “o novo normal” dos terríveis tempos que estamos a viver.
Só espero que, tal como aconteceu em 2019, os portugueses e as portuguesas punam severamente aqueles e aquelas que, cinicamente e com um total desrespeito pela dor e o sofrimento dos sobreviventes e dos familiares dos falecidos, assumem essas atitudes indignas e repulsivas.
No meio da negritude da actualidade política, económica e social em Portugal e no resto do Mundo, faz bem vislumbrar, mesmo que por curtos instantes, uma luz.
É de uma ironia cruel que as pessoas acabem por votar naqueles que estão apostados em destruir o Estado Social. Por isso mesmo, são responsáveis pela perda de rendimentos e de qualidade de vida da grande maioria dos portugueses e das portuguesas.
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A sordidez da vida política tem-se acentuado de uma forma tão ignominiosa que não consigo deixar de tomar posição acerca dessa baixeza que se está a tornar “o novo normal” dos terríveis tempos que estamos a viver.
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