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Venâncio Mondlane responsabiliza forças de segurança pelo assassinato do seu advogado

João Vaz de Almada, em Maputo 19 de outubro de 2024 às 20:40

O advogado Elvino Dias, assessor jurídico do candidato à presidência de Moçambique nas últimas eleições gerais de 9 de Outubro, Venâncio Mondlane, foi esta madrugada assassinado em Maputo, capital de Moçambique.

Pouco passava das 17h30 locais (16h30 em Lisboa), quando Venâncio Mondlane, candidato à presidência de Moçambique nas eleições do passado dia 9, chegou ao local do crime onde esta madrugada o seu advogado e assessor jurídico, Elvino Dias, e Paulo Guambe, mandatário da partido Podemos, foram brutalmente assassinados com cerca de 25 tiros, por dois indivíduos que se puseram em fuga.

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Foto: João Vaz de Almada, em Maputo
Foto: João Vaz de Almada, em Maputo
Foto: João Vaz de Almada, em Maputo
Foto: João Vaz de Almada, em Maputo

Antes disso, já uma multidão se havia concentrado em círculo em redor das flores que durante todo o dia foram chegando e adornando a berma da Avenida Joaquim Chissano, no centro de Maputo. Após entoados o ‘Nkosi Sikelel' iAfrika’ (hino da África do Sul) e o ‘Pátria Amada’, (hino de Moçambique), Venâncio iniciou o seu pronunciamento dizendo que só acreditou verdadeiramente que o amigo tinha sido morto por volta das 4h00 da manhã quando teve clareza de espírito e entendimento de que se tratava de um acontecimento real. "É um misto de sentimentos muito complexo. Tristeza, revolta, mas agora estou mais preocupado no autocontrolo da raiva."

Depois lembrou que Elvino, num vídeo que acabou por se tornar viral, já se sentia morto. "Eles não ganharam nada em matá-lo, ele tinha esse pressentimento. A morte em si não é uma perda. A grande questão é tentar matar os valores que defendemos." E prosseguiu: "Aquela rajada exacerbada de tiros não foi só para matar o homem, mas os valores, e intimidar, aterrorizar as pessoas que acreditam naqueles valores."

VM7, como é conhecido entre os seus, reiterou que a greve convocada para a próxima segunda-feira se irá manter, mas agora em moldes diferentes. "Já não vamos ficar em casa de braços cruzados mas vamos carregar os nossos cartazes pacificamente na rua", assegurando que "não haverá destruição de bens públicos nem privados mas a nossa greve vai sair de casa para a rua."

Recados para a polícia

Mais adiante, olhando bem de frente para as objectivas, deixou recados ao comandante da polícia: "O senhor não venha contar narrativas antecipadas, para exercer a sua brutalidade. As armas que vocês têm, os blindados que vocês têm, o gás lacrimogénio que vocês têm, são nossos. A nossa manifestação vai ser pacífica mas não nos provoque."

Venâncio não tem dúvida de que o crime desta madrugada foi cometido pelas forças de segurança. "Logo após o assassinato os homens do Sernic (polícia secreta) estiveram aqui a arrancar os telemóveis dos jovens. Recolheram cápsulas das balas para retirar vestígios acusatórios na perícia. Temos provas."

No final, Mondlane deixou uma mensagem: "Durante a campanha eleitoral disseram que figuras emblemáticas da história de Moçambique como Joaquim Chissano, Armando Guebuza e Graça Machel entraram na campanha como figuras simbólicas da Frelimo. Diziam representar os valores genuínos da Frelimo. Quero dizer aos três: os valores genuínos da Frelimo são estes que estamos a ver aqui nesta rua? São estes valores que fazem jorrar sangue, matar inocentes, humilhar o seu povo? Mamã Graça, papá Guebuza, papá Chissano o sangue destes jovens também está nas vossas mãos. Vocês são cúmplices de um regime que se tornou assassino do seu próprio povo. Esse peso cai sobre as vossas costas."

A multidão engrossou a voz e bramou: "O povo unido jamais será vencido."

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