Salah Abdeslam planeava explodir-se no Estádio de França
Acusado de terrorismo por França e Bélgica, o homem detido sexta-feira no Molenbeek assumiu que estava em Paris na noite dos atentados. Advogado assegura que Salah irá cooperar com as autoridades mas recusa ser extraditado
Salah Abdeslam confessou este sábado, às autoridades belgas, que planeava fazer-se explodir no Estádio de França, em Paris, nos atentados de 13 de Novembro, mas recuou no último instante. A informação foi revelada pelo procurador francês, François Molins.
"Estas primeiras declarações, que devem ser ouvidas com cautela, deixam em aberto uma série de questões que Salah Abdeslam terá de explicar", acrescentou o procurador François Molins, para quem a prisão do suspeito foi um "progresso muito grande para a investigação dos ataques de Paris". O promotor descreveu Abdeslam como um "actor chave" nos ataques daquela noite, considerando que teve um "papel central na formação dos comandos e nos preparativos logísticos" além de também ser um comando.
Capturado esta sexta-feira em Bruxelas, Salah foi em Outubro à Alemanha buscar três possíveis cúmplices a um centro de refugiados. Segundo a emissora regional alemã SWR, que cita "conclusões de investigações policiais", Abdeslam alugou um automóvel em Bruxelas, em seu nome, e viajou para Ulm, no sul da Alemanha, na noite de 2 para 3 de Outubro.
#UPDATE Abdeslam initially 'wanted to blow himself up' at Paris stadium: prosecutor https://t.co/RxjXQw6pUM pic.twitter.com/s4TRQU4CYK
"Os investigadores têm a certeza de que Abdeslam era o condutor. O veículo esteve apenas uma hora em Ulm" e partiu de regresso à Bélgica, segundo a televisão. A presença de Abdeslam a 3 de outubro em Ulm era conhecida desde que uma investigação determinou que Salah e o cúmplice detido com ele na sexta-feira passaram por um controlo policial naquela cidade da Baviera.
Esse cúmplice utilizou nos últimos meses documentos sírios falsos e documentos belgas que o identificavam, respectivamente, como Munir Ahmed Alaaj e Amine Choukri.
A informação nova é que durante a hora que permaneceu em Ulm, o automóvel de Abdeslam estacionou "perto de um centro de acolhimento de refugiados" cujos residentes eram maioritariamente sírios, segundo a SRW. "Após uma chamada feita no centro a 3 de Outubro foi constatada a ausência de três homens que na véspera se encontravam no centro", noticiou a emissora.
A SRW acrescenta que a polícia alemã está em contacto com as forças policiais belgas e francesas para tentar determinar se algum desses três homens participou nos ataques de Novembro em Paris e "como e porquê" Salah Abdeslam entrou em contacto com eles.
Cooperação sim, extradição não
As autoridades francesas e belgas já acusaram formalmente Abdeslam de terrorismo, tendo França, inclusive, decretado a prisão daquele que era, até sexta-feira, o homem mais procurado da Europa. Amine Choukri, também detido na sexta-feira, foi acusado igualmente de "homicídios terroristas e de participação em actividades de organização terrorista", explicou a procuradoria federal belga.
Além de Abdeslam e de Choukri, três outros suspeitos foram detidos. O proprietário do apartamento onde os dois cúmplices estiveram escondidos, Amid Aberkan, foi acusado de "participação em actividades de organização terrorista" e a sua prisão decretada, explicou o comunicado da Procuradoria. Uma familiar de Amid Aberkan, Djamila M., foi acusada de "participação em actividades de organização terrorista" e "encobrimento de criminoso", mas "não foi privada da sua liberdade", e uma segunda mulher, Sihane A., "foi libertada sem acusação".
O advogado de Abdeslam, Sven Mary, já garantiu o seu cliente irá cooperar com as autoridades mas recusa ser extraditado para França, como as autoridades de Paris já solicitaram. "Posso anunciar que vamos recusar a extradição para França", disse Sven Mary à televisão iTélé.
O advogado tinha afirmado na sexta-feira que recusaria defender Abdeslam se ele negasse ter estado em Paris no momento dos atentados de 13 de Novembro. Questionado sobre isso este sábado, o advogado respondeu: "Ele estava lá". Mary contou que esteve "10 minutos" com o seu cliente este sábado, precisando que ele está acamado, devido ao "ferimento de bala na perna" que sofreu na operação policial que conduziu à sua captura.
A recusa de extradição pode atrasar o processo mas, segundo especialistas, não põe em causa a transferência do acusado para França, na medida em que Abdeslam era alvo de um mandado de detenção internacional. Segundo o ministro da Justiça francês, o processo ocorrerá dentro de 60 dias a contar da sua detenção ou no prazo de 90 dias em caso de recurso.
O mandado de detenção europeu é um procedimento "mais simples e mais eficaz que a extradição, já que impõe prazos curtos de processamento, pelo que a decisão definitiva sobre a extradição de Salah Abdeslam deve ocorrer num prazo de 60 dias depois da sua detenção ou 90 dias caso este apresente recurso", explicou o ministro da Justiça, Jean-Jacques Urvoas, em comunicado.
"Golpe importante no Daesh"
Salah Abdeslam, francês residente em Bruxelas e considerado pelas autoridades decisivo na logística dos ataques de Paris, foi detido na sexta-feira no bairro de Molenbeek, em Bruxelas, depois de mais de quatro meses em fuga.
Para o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, a detenção de Abdeslam é "um golpe importante para a organização terrorista Daesh na Europa". "As operações ajudaram a colocar em ordem e prejudicar vários indivíduos que demonstraram a sua perigosidade extrema e a sua determinação inabalável", disse, no final de um Conselho de Defesa no Palácio Eliseu.
O ministro considerou ainda que "Salah Abdeslam deve responder pelas suas acções perante os tribunais franceses".
O presidente francês François Hollande reuniu-se este sábado com o Conselho de Defesa para rever as operações antiterroristas. Além do primeiro-ministro francês, Manuel Valls, e do ministro do Interior, o encontro do Conselho de Defesa inclui os ministros da Defesa, da Justiça e dos Negócios Estrangeiros, altos oficiais da área da segurança e o chefe das Forças Armadas.
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