Secções
Entrar

Putin pede a Merkel que convença a Ucrânia a não cometer "actos irreflectidos"

27 de novembro de 2018 às 07:15

O presidente russo expressou à chanceler alemã a "séria preocupação" de Moscovo após a introdução da lei marcial na Ucrânia.

O Presidente russo expressou à chanceler alemã a "séria preocupação" de Moscovo após a introdução da lei marcial na Ucrânia e pediu a Angela Merkel para dissuadir Kiev de cometer quaisquer "atos irrefletidos", anunciou hoje o Kremlin.

Numa conversa telefónica mantida com Merkel, Vladimir Putin "expressou séria preocupação com a decisão de Kiev de introduzir a lei marcial" e disse "esperar que Berlim pudesse influenciar as autoridades ucranianas e dissuadi-las de futuros atos irrefletidos", pode ler-se no comunicado.

Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Mass, já tinha proposto que a Alemanha e a França pudessem fazer a mediação entre a Ucrânia e a Rússia para evitar que a tensão entre os dois países se agravasse.

O pedido russo surgiu um dia depois de o parlamento da Ucrânia ter aprovado a imposição da lei marcial nas regiões fronteiriças do país durante 30 dias, num contexto de fortes tensões com a Rússia, que apresou no domingo três navios militares ucranianos no mar Negro.

A decisão, sem precedentes desde a independência desta ex-república soviética, em 1991, foi adotada por iniciativa do Presidente, que a justificou com o risco aumentado de uma ofensiva terrestre russa.

"As informações dos serviços secretos mostram a ameaça extremamente elevada de uma operação terrestre contra a Ucrânia", afirmou o Presidente Petro Poroshenko horas antes, numa mensagem à nação transmitida pela televisão.

"Assim que um soldado russo atravessar a nossa fronteira, eu não perderei um segundo para proteger o nosso país", disse o chefe de Estado ucraniano aos deputados, antes da votação.

Já a Rússia acusou o Presidente da Ucrânia de orquestrar a crise no estreito de Kerch, com o objetivo de cancelar as eleições de março e permanecer no poder.

"Todos percebemos do que se trata. Isto aconteceu para cancelar as eleições, apesar das promessas em contrário", disse o vice-embaixador russo na ONU Dmitry Polyanskiy numa reunião do Conselho de Segurança na segunda-feira.

Por seu lado, a embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, considerou, no mesmo dia, "ilegal" a captura de navios ucranianos pela Rússia, dizendo que esta ação torna "impossível" uma "relação normal" com Moscovo.

"Como o Presidente do meu país disse muitas vezes, os Estados Unidos são a favor de um relacionamento normal com a Rússia, mas ações ilegais como esta tornam isso impossível", disse a diplomata norte-americana, também durante a reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.

A porta-voz da Comissão Europeia para os Negócios Estrangeiros considerou na segunda-feira "inaceitáveis" os desenvolvimentos no mar de Azov e apelou a uma diminuição da escalada da tensão entre a Rússia e a Ucrânia na região.

Na conferência de imprensa diária do executivo comunitário, Maja Kocijancic abordou a "escalada perigosa" no mar de Azov e qualificou de "inaceitáveis" as decisões da Rússia de encerrar o estreito de Kerch, que une o Mar Negro ao Mar de Azov, ao largo da Crimeia, e de apresar três navios da Armada da Ucrânia (duas lanchas e um rebocador da Marinha de guerra) em águas territoriais russas.

Já o Reino Unido acusou a Rússia de um "ato de agressão". O porta-voz do governo britânico, James Slack, disse que o incidente é "mais uma prova do comportamento desestabilizador da Rússia na região e da sua contínua violação da integridade territorial ucraniana".

Antes, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, garantira ao Presidente da Ucrânia que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla inglesa), mantém o apoio ao país sobre a integridade territorial, incluindo o direito de navegação nas suas águas e nas internacionais.

No domingo, embarcações russas apoderaram-se de três navios militares ucranianos – duas pequenas lanchas blindadas e um rebocador – depois de terem disparado sobre eles, fazendo uma vintena de prisioneiros no estreito de Kertch, que liga o mar Negro ao mar de Azov.

Este incidente armado fez também diversos feridos entre os ucranianos – seis, segundo Kiev, e três, segundo Moscovo – e desencadeou reações de condenação na Ucrânia e em vários dos seus aliados ocidentais.

Nos últimos meses, Kiev e o Ocidente têm com regularidade acusado a Rússia de deliberadamente "colocar entraves" à navegação de barcos comerciais ucranianos entre o mar Negro e o mar de Azov.

A Rússia anexou em 2014 a península ucraniana da Crimeia e é acusada por Kiev e pelo Ocidente de apoiar militarmente os separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, num conflito que já fez mais de dez mil mortos.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela