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Netanyahu depôs no seu julgamento por corrupção. "Estou há oito anos à espera deste momento"

Gabriela Ângelo 10 de dezembro de 2024 às 11:37

O desenrolar do processo jurídico encontra-se num momento fulcral em que o primeiro-ministro israelita enfrenta um mandato de captura internacional por acusações de crimes de guerra da Faixa de Gaza.

Benjamin Netanyahu está a ser julgado desde 2020 por acusações de fraude, abuso de confiança, e de ter aceitado subornos em três casos separados, as alegações focam-se no uso da sua influência para ajudar empresários e para ter uma cobertura mediática favorável em troca de presentes. Apresentou-se esta terça-feira no tribunal distrital de Telavive por volta das 10h, 8h em Portugal Continental, sorridente e confiante, de acordo com a agência Reuters.

MENAHEM KAHANA/Pool via REUTERS

O governante israelita que já negou qualquer acusação no passado manteve a mesma inocência durante o seu testemunho, "há oito anos que estou à espera deste momento para dizer a verdade", disse Netanyahu aos três juízes, "mas também sou primeiro-ministro, estou a liderar um país numa guerra de sete frentes, e acho que as duas coisas podem ser feitas em paralelo". No entanto, o seu advogado, Amit Hadad acusou os procuradores de não estarem "a investigar um crime" mas "a perseguir uma pessoa".

Enquanto se defende das alegações, Netanyahu terá de gerir a guerra na Faixa de Gaza, manter o cessar-fogo com o Hezbollah, controlar as ameaças do Irão e estar atento à situação da Síria. É a primeira vez que um primeiro-ministro israelita se apresenta como arguido, tendo procurado adiar o processo repetidas vezes, inclusive, no domingo, o ministro da Educação israelita, Yoav Kish, apelou ao adiamento por causa da queda do regime de Bashar Al-Assad na Síria.

No que consiste o julgamento?

O julgamento teve início em 2020 e consiste em três casos separados em que os procuradores acusam Netanyahu de trocar favores com a imprensa para obter uma cobertura favorável e promover interesses pessoais com um produtor de Hollywood em troca de presentes de luxo. 

Durante o verão foi chamada a depor a última testemunha, colocando fim a três anos de depoimentos e dando lugar à fase em que a defesa apresenta o seu caso, sendo o primeiro-ministro a primeira testemunha. Até agora foram convocados cerca de 140 testemunhas para depor, de um rol inicial de 300 pessoas. Essas testemunhas incluem antigos aliados do governante, assim como o antigo primeiro-ministro israelita Yair Lapid, antigos chefes de segurança e figuras públicas. 

As testemunhas e os procuradores

A acusação tem retratado Netanyahu como sendo obcecado pelos meios de comunicação social e de fazer prevalecer uma narrativa favorável de si enquanto viola a lei. Um ex-assessor descreveu-o como sendo um "maníaco por controlo" em relação à sua imagem, outra testemunha descreveu alguns presentes caros do primeiro-ministro e da sua mulher. Revelando assim pormenores sobre o seu carácter e dando a entender que a família vive luxuosamente à custa do dinheiro de contribuintes e de apoiantes ricos.

Arnon Milchan, um produtor israelita de filmes como Mr. and Mrs. Smith e 12 Anos de Escravo, depôs o ano passado em Brighton, no Reino Unido, por videoconferência. Descreveu que entregava dezenas de milhares de dólares em champanhe, charutos e outros presentes, requisitados pelo líder israelita para si e para a sua mulher. Em troca, Netanyahu terá ajudado Milchan a obter uma prorrogação do seu visto americano, promovendo também benefícios fiscais que teriam ajudado o produtor.

O que esperar do processo

Assim como as outras testemunhas, o primeiro-ministro irá depor algumas horas por dia, durante três dias.

Netanyahu e os seus apoiantes argumentam que o julgamento faz parte de um esforço elaborado para obrigar o líder eleito a abandonar o poder com base em fundamentos legais e não nas urnas, com o voto do povo. No entanto, os seus críticos, que incluem antigos aliados que romperam laços com o primeiro-ministro, afirmam que o julgamento é uma tentativa legítima de o responsabilizar pelos atos cometidos. 

Entre esses críticos estão famílias dos reféns detidos pelo Hamas, que o acusam de arrastar o conflito e a arriscar a vida dos seus familiares e amigos, de forma a evitar uma investigação e um julgamento que irá manchar a sua imagem e as próximas eleições que poderão fazer com que ele abandone o poder.

O veredito só irá sair em 2026, e na altura Netanyahu pode optar por recorrer ao Supremo Tribunal. Se as eleições legislativas acontecerem no tempo previsto (Israel tem um histórico de eleições antecipadas), esse será também ano de o atual primeiro-ministro testar a sua continuidade no poder.

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