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Migrantes que atravessaram o Mediterrâneo voltariam a fazê-lo

21 de outubro de 2019 às 18:19

Apenas 2% das quase 2.000 pessoas entrevistadas disse que teria permanecido no seu país de origem ao conhecer os riscos que enfrentava.

Quase todos os imigrantes que cruzam o Mediterrâneo para entrar de forma irregular na Europa indicaram que voltariam a fazê-lo, apesar dos perigos, segundo um estudo apresentado hoje pelas Nações Unidas (ONU).

Apenas 2% das quase 2.000 pessoas entrevistadas disse que teria permanecido no seu país de origem ao conhecer os riscos que enfrentava.

Isso, apesar de 93% dos entrevistados reconhecerem estar em perigo durante a sua viagem, de acordo com os dados recolhidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Com o objetivo de entender melhor as motivações dos africanos que decidem emigrar para a Europa de forma irregular, a agência da ONU recolheu depoimentos de 1.970 pessoas de 39 países africanos que atualmente residem em 13 países europeus e que não procuram asilo ou proteção, mas que migraram por outros motivos.

Para o administrador do PNUD, Achim Steiner, o estudo mostra que a migração é uma consequência do ritmo de desenvolvimento na África, que, apesar dos progressos, permanece desigual e não é rápido o suficiente para responder às aspirações de muitas pessoas.

Assim, o relatório conclui que a maior parte das pessoas que emigra da África para a Europa não é pobre no contexto africano e possui níveis de educação acima da média, com a maioria a trabalhar ou a estudar no momento da sua partida.

Quase dois terços dos entrevistados indicaram que se sentia tratado de forma injusta pelo seu Governo e muitos assinalaram a etnia ou ideias políticas como o motivo.

Uma grande maioria, 77%, disse achar que a sua voz não seria ouvida no seu país ou que o sistema político não permitia influenciar de forma alguma no Governo.

Assim, 41% dos inquiridos mencionaram que "nada" teria mudado a sua decisão de emigrar.

Para a maioria, o objetivo não é estabelecer-se no país de destino, mas regressar posteriormente a casa.

A vergonha de não poder enviar fundos para os seus familiares é um fator chave para quem decide não retornar, uma vez que 53% dos entrevistados realçaram que receberam algum tipo de apoio financeiro para pagar a sua viagem.

Quando estão na Europa, 78% envia dinheiro para as suas famílias, em média um terço do que ganha mensalmente, o que representa 85% do que recebia no seu país de origem.

As mulheres, de acordo com o estudo do PNUD, ganham, em média, mais que os homens e enviam mais dinheiro para as suas casas, uma situação que contrasta com a que têm na África, onde o seu rendimento é significativamente menor que o dos homens.

O relatório alerta que a migração está a deixar o continente africano sem muitas pessoas com mais aspirações, precisamente aquelas que beneficiaram dos progressos de desenvolvimento das últimas décadas.

Nesse sentido, o estudo adverte que, embora a imigração tenha sido reduzida recentemente, é provável que, à medida que a África continue a avançar, haja cada vez mais pessoas que queiram emigrar.

Os especialistas do PNUD fazem uma série de recomendações, incluindo a expansão de oportunidades na África, dando mais poder aos jovens para decidirem o caminho dos países ou criarem economias mais inclusivas.

Além disso, aconselham o aumento dos canais legais de migração, facilitando uma migração "circular" que permite que os africanos trabalhem do outro lado do Mediterrâneo, ganhem dinheiro e depois retornem aos seus países de origem e também regularizem as pessoas que já estão na Europa.

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