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Incêndios na Amazónia são como imigração ilegal em Itália, diz deputado

11 de setembro de 2019 às 10:15

Líder ruralista nega que seja o sector da agropecuária o responsável por atear fogos na Amazónia, a maior floresta tropical do Mundo.

O deputado brasileiro Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), comparou, em entrevista à agência Lusa, a dificuldade do Brasil em controlar os incêndios naAmazónia, com a de Itália em limitar a imigração ilegal.

"Na Amazónia cabem 10 países europeus dentro, e é curioso que a Itália, por exemplo, não consegue coibir a imigração na beira da praia, o Presidente francês (Emmanuel Macron) não conseguiu coibir o incêndio da catedral Notre Dame, mas nós temos a obrigação de pegar nessa área gigantesca e fazer isso (impedir os incêndios na Amazónia)", disse o líder ruralista.

No final de agosto, o Ministério Público brasileiro anunciou que está a investigar suspeitas de uma "ação orquestrada" para atear incêndios criminosos na floresta Amazónia.

Um dos casos que está sob investigação é o do chamado "dia do fogo", uma alegada convocatória para fazer queimadas na Amazónia, que terá sido feita através de aplicações de mensagens, usadas por agricultores e 'grileiros' da região de Altamira e Novo Progresso, no Estado do Pará.

A "grilagem" é, no Brasil, a falsificação de documentos para ilegalmente tomar posse de terras devolutas ou de terceiros.

Contudo, Alceu Moreira nega que o agricultor brasileiro seja responsável por atear fogos naquela que é a maior floresta tropical do Mundo, acrescentando que o Brasil está a ser "atacado" por ser "um sucesso" no setor do agronegócio.

"O produtor rural brasileiro é frontalmente contrário à desflorestação ilegal de qualquer natureza. Além disso, também se coloca à disposição do Governo para ser fiscal desse processo. Nós é que estamos mais perto de onde acontece a queimada criminosa. Mas, numa dimensão do tamanho da Amazónia, numa seca prolongada como ocorre este ano, basta uma ponta de cigarro e ali se cria um incêndio gigantesco", justificou o deputado.

Os ataques estão a ser dirigidos "ao Brasil porque o país virou um sucesso na produção de alimentos. Nós, há 20 anos, éramos importadores de alimentos e agora somos o primeiro ou segundo maior produtor de alimentos do mundo. Colar em nós a marca de que produzimos de maneira irresponsável com a questão ambiental, pode fazer com que nos comprem produtos mais baratos", disse Alceu à Lusa.

A Frente Parlamentar da Agropecuária foi um dos grandes setores a declarar apoio a Jair Bolsonaro, atual chefe de Estado do Brasil, aquando da sua candidatura presidencial, no ano passado.

Alceu Moreira continua a defender o atual executivo, declarando que tem de ser a própria população da Amazónia a proteger essa região. Porém, o líder ruralista não descartou totalmente o papel do Governo no processo, afirmando que "é possível cuidar melhor" da região.

No entanto, o representante do Agronegócio direcionou as críticas à Europa, frisando que os ataques lançados por alguns países, como a França, à forma como o mandatário brasileiro tem gerido os incêndios e a desflorestação na Amazónia, não passam de uma batalha comercial.

Com o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, "esses mercados (europeus) serão disputados por nós. O nosso frango vais chegar lá com ótima qualidade e com preços menores. A nossa carne vai chegar lá, a nossa soja também, e estão a fazer uma defesa de mercado, que é absolutamente natural. (...) O europeu não criminaliza o Brasil porque tem raiva do país, mas porque está a preservar o seu próprio mercado", observou o político.

O líder ruralista criticou ainda os 20 milhões de dólares (17,95 milhões de euros) oferecidos pelo G7 (grupo dos países mais industrializados do mundo), para reforçar o combate aos incêndios nos países amazónicos, considerando o valor uma "ofenda", "uma esmola".

"Todo o Mundo quer respirar o ar da Amazónia, mas ninguém quer pagar. Para a catedral de Notre Dame foi doado um grande valor, mas a comunidade europeia ofereceu-nos 20 milhões de dólares. O que é que dá isso? Para comprar um apartamento na França? Isso é quase uma ofensa, é como oferecer uma esmola ao Brasil", condenou Alceu Moreiro

"Todos sabem fazer belas narrativas em relação à Amazónia, mas para ajudar dão 20 milhões de dólares? Acho uma ofensa, porque os países mais ricos do mundo, se realmente estivessem preocupados, poderiam e deveriam oferecer um valor muito maior", reforçou, em declarações à Lusa.

Ainda nas críticas endereçadas à Europa, o deputado brasileiro acusou os europeus de estarem a fazer, atualmente, com os indígenas "o mesmo que os portugueses fizeram no processo de colonização":"dar algumas quinquilharias para levar o ouro do Brasil", referindo-se ao intuito dos estrangeiros de "explorar ilegalmente a Amazónia".

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