Secções
Entrar

Guterres avisa funcionários da ONU: "Não sou milagreiro"

03 de janeiro de 2017 às 17:15

"A única forma de atingir os nossos objectivos é trabalhar juntos, como equipa, e ganhar o direito de servir os valores globais consagrados na Carta, que são os valores da ONU e os valores que unem a humanidade", disse à chegada ao edifício das Nações Unidas

"Não sou milagreiro." O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou os funcionários que o receberam na sede da organização para a necessidade de um trabalho conjunto, que permita servir os valores da humanidade.

 

"Sei que a forma como o processo de eleição decorreu gerou muitas expectativas. Acho que é útil dizer que não há milagres e tenho a certeza de que não sou milagreiro", disse o português. O antigo primeiro-ministro português, que entrou em funções no primeiro dia do ano, falava a várias dezenas de funcionários que o aguardavam no momento em que entrou na sede da ONU em Nova Iorque. 

 

"A única forma de atingir os nossos objectivos é trabalhar juntos, como equipa, e ganhar o direito de servir os valores globais consagrados na Carta, que são os valores da ONU e os valores que unem a humanidade", acrescentou.

 

"Não devemos ter ilusões, estamos a enfrentar tempos muito desafiantes", começou por dizer, lembrando o ataque terrorista na noite de passagem de ano em Istambul que vitimou 39 pessoas. "Podem imaginar como é para mim, que trabalhei com as pessoas da Turquia enquanto Alto-Comissário, país que se tornou o maior recipiente de refugiados de todo o mundo, ver que se tornam agora vítimas deste terrível ataque terrorista", disse o secretário-geral.

 

Fazendo um balanço em que lembrou que os números da pobreza extrema desceram e que aumentaram as protecções sociais nas últimas décadas, Guterres notou que "a verdade é que as desigualdades sociais aumentaram".

 

"E num mundo em que tudo se tornou global, em que as comunicações se tornaram globais, o facto de seres excluído torna-se ainda mais insuportável. As pessoas podem ver como os outros vivem, podem ver a prosperidade em outras partes do mundo. Esta exclusão desperta e invoca raiva e torna-se um factor de instabilidade e conflito", disse.

 

António Guterres referiu-se ainda àquele que deve ser um dos grandes desafios do seu mandato: os ataques crescentes ao multilateralismo vindos de políticos nacionalistas, como Donald J. Trump, que toma posse a 20 de Janeiro como presidente dos EUA. "Este é o momento em que temos de afirmar o valor do multilateralismo. Este é o momento em que temos de reconhecer que apenas soluções globais podem resolver problemas globais e que a ONU é a pedra basilar dessa abordagem multilateral", afirmou.

 

"Quando olhamos para as grandes tendências mundiais, como o crescimento da população e o aquecimento global, vemos que os problemas se tornaram globais e que não há forma de serem resolvidos país por país", acrescentou.

 

Guterres disse ainda que não se deve "tomar nada como garantido" e que estes sentimentos "não são partilhados por muitas pessoas no mundo." "Vemos em muitos países a crescente divisão entre opinião pública, governos e classe política. Também vemos em muitas partes do mundo, em relação a organizações internacionais como a ONU, resistência e ceticismo quanto ao papel que a ONU pode desempenhar", disse o sucessor de Ban Ki-moon. 

 

É por isso, explicou, que os funcionários da organização devem estar orgulhosos do seu trabalho e "reconhecer os seus feitos" na melhoria da qualidade de vida de pessoas em todo o mundo. "Também precisamos reconhecer aquilo em que ficamos aquém, as nossas falhas, e reconhecer as situações em que não conseguimos ajudar, como deveríamos, as pessoas com quem nos preocupamos", disse, indicando erros, por exemplo, na resolução de conflitos e manutenção de paz.

 

Numa mensagem dirigida para a própria organização e os seus colaboradores, António Guterres referiu-se ainda à reforma institucional que pretende implementar. "Precisamos livrar-nos deste colete de forcas de burocracia que nos torna a vida tão difícil em tantas das coisas que fazemos", disse. "Estes tempos vão ser desafiantes. Mas precisamos saber que não é suficiente fazer a coisa certa. Temos de ganhar o direito para fazer a coisa certa. E isto é algo que, claramente, precisamos fazer todos juntos", concluiu.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela