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Covid-19: “Paciente zero” de Nova Iorque não se lembra das três semanas em que lutou contra a doença

12 de maio de 2020 às 10:17

Lawrence Garbuz considera que a família residente de New Rochelle passou por "uma jornada e tanto" desde fevereiro, quando ele, a mulher e dois filhos ficaram infetados com o novo coronavírus.

O "paciente zero" do novo coronavírus em Nova Iorque e iniciador de uma forte transmissão comunitária, inclusive na própria família, disse numa entrevista que não se lembra nada das três semanas em que lutou contra a doença.

Lawrence Garbuz, de 50 anos, advogado, considerou esta terça-feira, em entrevista ao canal NBC, que a família residente de New Rochelle passou por "uma jornada e tanto" desde fevereiro, quando ele, a mulher e dois filhos ficaram infetados com a covid-19.

"I’m thankful that I’m alive to be honest with you. It’s been quite a journey," Lawrence Garbuz, now known as New York’s patient zero, tells @savannahguthrie. pic.twitter.com/h5ILmDyPKn

O homem foi o caso mais grave da família, tendo sido hospitalizado e tendo ficado três semanas em coma induzido. Em 2 de março, a família viria a receber o diagnóstico positivo para covid-19. Até agora, a família ainda não conseguiu descobrir qual foi a fonte de infeção de Lawrence Garbuz, que não tinha nenhuma condição de saúde pré-existente.

"Depois de entrarmos na sala de emergência, não tenho memória absolutamente nenhuma daquilo que aconteceu até que acordei do coma. É como se três semanas da minha vida tivessem desaparecido e eu estive adormecido durante tudo isso", disse Lawrence Garbuz.

O advogado foi declarado "paciente zero" em Nova Iorque e responsável pela transmissão comunitária forte que se observou em New Rochelle, primeira localidade deste estado a registar a transmissão comunitária do vírus.

O governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, ordenou em 10 de março uma área de contenção em volta de um bairro de New Rochelle, antes de ordenar o confinamento e isolamento social para todo o estado.

New Rochelle foi considerada um ‘cluster’, um aglomerado de casos do novo coronavírus. Faz parte do condado de Westchester, que atualmente conta mais de 31 mil casos confirmados e 1.200 mortes, e do estado de Nova Iorque, com mais de 184 mil casos de coronavírus e 26 mil mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins.

Lawrence Garbuz não se enquadrava nos parâmetros que os Estados Unidos consideravam de risco em fevereiro: ter viajado para a China ou para outro país nas semanas anteriores.

O "paciente zero" recordou hoje que se sentiu doente e pensou tratar-se de uma gripe, devido à tosse e febre que o acordaram numa noite.

"Tive uma tosse ligeira e, numa noite, antes do diagnóstico, acordei com febre. Não tinha intenções de ir ao trabalho e fui ao médico. O médico examinou-me e disse que tinha de ir imediatamente para a sala de urgências", recordou Garbuz.

Na consulta com o médico, que o encaminhou para as urgências, "não houve de todo" qualquer suspeita de covid-19, considerou. "O [novo coronavírus] não estava na minha mente, pensava que era só tosse", acrescentou o sobrevivente.

Sublinhando que é advogado, normalmente fechado num escritório, Lawrence Garbuz acrescentou que não tinha nenhuma característica das pessoas consideradas de risco de serem contagiadas com o novo coronavírus.

"Sento-me na secretária o dia todo. Acho que naquela altura estávamos a forcar-nos em pessoas que podiam ter viajado internacionalmente, algo que eu não tinha feito. E, certamente, que não estive na China", afirmou.

A família pensou que se tratava de uma pneumonia, disse a mulher, Adina Garbuz.

"Nós pensámos ‘ok, estás com pneumonia, vamos comprar medicamentos e voltas para casa’. Mas no final de semana piorou cada vez mais", relatou Adina Garbuz, lembrando a preocupação e o susto, enquanto o marido lutava para respirar.

"Uma pessoa saudável e vibrante, de repente, durante a noite, fica tão doente tão rapidamente. Eu sei que, neste momento, já não nos surpreende tanto, mas naquela altura foi chocante", disse Adina Garbuz.

Na noite em que recebeu o diagnóstico que confirmava a doença do marido, a mulher esteve horas ao telefone "com diversos departamentos de saúde, para decidir o que fazer e explicar todos os sítios" por onde passaram.

No espaço onde estava a ser tratado, os cuidadores trouxeram fotografias da família de Lawrence Garbuz, nas quais o doente se inspirou para determinar que "o objetivo era ir para casa".

Tentando conter as lágrimas, a mulher recordou a primeira conversa que tiveram quando o homem acordou do coma: "As primeiras palavras que ele me disse foram 'amo-te’", disse Adina Garbuz, emocionada, acrescentando que "tudo o que importava para ele era a família".

Na opinião de Lawrence Garbuz, os médicos e enfermeiros que o trataram "fizeram um trabalho esplêndido" e demonstraram "muita compaixão".

O advogado confessou que agora está focado na recuperação total e não se interessa pelo frenesim nos media sobre o seu caso.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 283 mil mortos e infetou mais de 4,1 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (79.894) e mais casos de infeção confirmados (mais de 1,3 milhões).

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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