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Covid-19: Casal japonês em lua-de-mel há seis meses em Cabo Verde já não dispensa grogue e cachupa

17 de agosto de 2020 às 22:17

"Pesadelo por estar aqui fechado? Nem pensar! Está a ser a melhor experiência que podia ter para a lua-de-mel", garante Rikiya Kataoka.

O Sal deveria ser mais uma etapa na volta ao mundo do casal japonês Kataoka, mas desde fevereiro tornou-se casa devido à covid-19 e os dois já nem dispensam cachupa e grogue, tendo até sido nomeados embaixadores olímpicos.

A aventura de Rikiya Kataoka, 29 anos, e da mulher, Ayumi, 30 anos, começou em 2019, depois do casamento, no mês de abril, e após pouparem durante meses para uma viagem de lua-de-mel de volta ao mundo que durante um ano teria passagem por cerca de 25 países.

Depois de percorrerem oito países, chegaram à ilha cabo-verdiana do Sal em 26 de fevereiro deste ano. Ao fim de duas semanas viram o país encerrar as ligações aéreas internacionais, para travar a progressão da pandemia, e ficaram literalmente isolados naquela ilha cabo-verdiana, quando a volta ao mundo ia a um terço.

"Pesadelo por estar aqui fechado? Nem pensar! Está a ser a melhor experiência que podia ter para a lua-de-mel. Já estive em mais de 100 países e o oceano aqui em Cabo Verde é único, uma beleza", contou à agência Lusa Rikiya, profissional de vídeo, que juntamente com a mulher, Ayumi, empregada de balcão, fazem da pequena ilha do Sal a nova casa.

"Além do oceano, o que mais me fascinou em Cabo Verde foi a beleza, a simplicidade das pessoas e a segurança. Fizemos imensos amigos e até vou jogar à bola com eles", explicou, garantindo que, para já, não têm planos para retomar a volta ao mundo, desde logo porque o arquipélago ainda não definiu uma data para a retoma das ligações aéreas internacionais.

No Sal, a milhares de quilómetros de casa, Rikiya vai assegurando trabalhos de edição de vídeo e fotografia para clientes no Japão. Além de voluntariado local, o casal tem produzido conteúdos multimédia para as redes sociais de restaurantes e hotéis da ilha, a mais turística de Cabo Verde.

E garante que não há dinheiro envolvido: "É só hotel grátis, comida grátis e álcool grátis. O grogue [aguardente de cana-de-açúcar, típica de Cabo Verde] é a minha bebida favorita. Um prato de cachupa como pequeno-almoço também".

Em plena aventura de uma vida, não esconde a "total surpresa" que representou a experiência até agora: "Só boas pessoas, nem as pessoas que são mais pobres nos pedem dinheiro. Às vezes são eles que nos dão coisas", admitiu.

Uma aventura que não passou despercebida em Cabo Verde.

O Comité Olímpico cabo-verdiano, a pensar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021 (adiados de 2020 devido à pandemia), decidiu convidar ambos para serem embaixadores olímpicos do país. No Japão, vão levantar a bandeira de Cabo Verde, país que nunca conquistou uma medalha olímpica.

"Foi uma total surpresa. Senti-me honrado. Já temos publicado nas redes sociais, no Japão, como é Cabo Verde e como são os cabo-verdianos e todos dizem que querem vir visitar estas ilhas", descreve Rikiya.

Apesar de a ilha do Sal permanecer como um dos focos da covid-19 no arquipélago, com mais de meio milhar de casos diagnosticados desde junho, o casal não se mostra preocupado.

"Não me assusta porque é fácil manter a distância para evitar contágios", aponta.

No passaporte de Rikiya constam visitas a 87 países, incluindo cerca de 100 ilhas. E com a volta ao mundo em modo de pausa, o casal tem uma certeza: "Ainda não decidimos quando vamos partir. A ideia é retomar a volta ao mundo, se o coronavírus permitir, mas não é para já. Vamos ficar e tentar conhecer as outras ilhas de Cabo Verde".

É que para o casal japonês, Cabo Verde é "fofo", uma das palavras que mais usam, confessam, desde que aprenderam um pouco de português e de crioulo cabo-verdiano.

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