Ciclone Idai deixa dezenas de portugueses sem casa em Moçambique
Fenómeno meteorológico provocou rasto de destruição na zona da Beira e presidente moçambicano admite que número de mortos pode ultrapassar os mil. "Vêem-se corpos a flutuar", confessou Filipe Nyusi.
A contagem dolorosa foi assumida, esta segunda-feira, pelo presidente de Moçambique, Filipe Nyusi. Numa declaração à nação em Maputo, o chefe de estado assumiu o número de mortes devido ao ciclone Idai, no centro do país, poderá ultrapassar as mil, reforçando que "o país vive um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções". O Governo português já anunciou que "até agora não há registo de cidadãos portugueses mortos, feridos ou em situação de perigo", mas que "várias dezenas" perderam casas e bens".
O ciclone, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora atingiu a Beira, a quarta maior cidade de Moçambique, na quinta-feira à noite, deixando os cerca de 500 mil residentes sem energia e linhas de comunicação. Os números do Governo de Moçambique estimavam inicialmente que 600 mil pessoas tivessem sido afetadas, incluindo 260 mil crianças. De acordo com os últimos dados oficiais, pelo menos 84 pessoas morreram e 1500 ficaram feridas. Já no Zimbabué, o número provisório de mortos ascende a 64 e no Malaui a 56, segundo os governos locais, citados pela agência EFE.
O chefe de Estado confessou ainda ter visto corpos a flutuarem, durante o sobrevoo de helicóptero que fez no domingo na zona. "As águas dos rios Púngoè e Búzi transbordaram fazendo desaparecer aldeias inteiras e isolando comunidades, vêem-se corpos a flutuar, portanto um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções", frisou.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse esta segunda-feira em Maputo que o número de mortes devido ao ciclone Idai, no centro de Moçambique, poderá ultrapassar as mil, assinalando que "o país vive um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções".
Em várias zonas alagadas, as populações foram obrigadas a procurar refúgio em árvores e tetos de casas, correndo riscos de vida, enquanto esperam pelo salvamento. "Este desastre natural deixou grande parte da zona centro sem energia elétrica, a região também deixou de ter abastecimento de água potável e comunicações, além ter afetado o funcionamento normal dos hospitais, escolas e demais instituições públicas e privadas", afirmou o chefe de Estado moçambicano.
Carneiro vai para Moçambique assim que possível
Portugal segue a situação dramática de perto, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros revelado que "até agora não há registo de cidadãos portugueses mortos, feridos ou em situação de perigo" devido à passagem do ciclone Idai em Moçambique, mas "várias dezenas" perderam casas e bens".
"Felizmente, até agora não temos registo de cidadãos portugueses mortos, feridos ou em situação de perigo, mas ainda não conseguimos contactar todos (...) Infelizmente, temos já noticia de várias dezenas de compatriotas nossos que perderam as suas casas e os seus bens e que se encontram alojados por exemplo em unidades hoteleiras ou noutras casas de amigos ou vizinhos e estamos a fazer os levantamentos desses danos nos bens pessoais", disse Augusto Santos Silva.
Em Bruxelas, onde se deslocou para uma reunião no âmbito da UE, o MEN indicou que a equipa avançada enviada a partir da embaixada em Maputo para prestar apoio ao cônsul-geral na Beira e à sua equipa "bateu toda a zona centro da cidade da Beira e as estradas que se encontram transitáveis", tendo feito um "reconhecimento nos hospitais e unidades de saúde locais para ver se havia portugueses entre as vitimas".
Congratulando-se por não haver para já registo de vítimas ou portugueses em situação de perigo -- "por exemplo isolados pelas águas ou em aldeias ou povoação em risco de catástrofe" -, o ministro ressalvou todavia que ainda "é prematuro dar por concluído esse levantamento", pois, até devido às grandes dificuldades de comunicações, ainda não foi possível contactar todos os milhares de portugueses registados na região. "Há vários milhares de (portugueses) inscritos no consulado na Beira, que cobre todo o centro e norte de Moçambique, e a nossa estimativa é que haja mais de 2.000 portugueses a residir na zona da Beira", assinalou.
Apontando que o Governo está "também a começar a fazer o levantamento dos danos de empresas de capital português atuando em Moçambique e naquela zona", Santos Silva sublinhou que as autoridades têm "naturalmente como primeiríssima prioridade" o plano de apoio de emergência à comunidade portuguesa na região.
Também nesse sentido, acrescentou, "o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas [José Luís Carneiro], logo que seja logisticamente possível, partirá para Moçambique e para a cidade da Beira, para acompanhar 'in loco', no terreno, este processo de levantamento e primeiro apoio".
No entanto, sublinhou, Portugal está a agir num outro plano, o da "solidariedade com o povo moçambicano e as autoridades moçambicanas", colocando-se à disposição destas "para participar no levantamento de necessidades mais prementes da população moçambicana" e, numa fase posterior, participar na reconstrução.
"A combinação entre o ciclone e inundações tem provocado efeitos absolutamente devastadores. Infelizmente, as condições meteorológicas são negativas e, portanto, a situação pode não vir a melhorar substancialmente nos próximos dias", lamentou.
Cruz Vermelha pede donativos, Governo avalia ajuda
O Programa Mundial da Alimentação, agência que coordena a resposta humanitária da ONU em Moçambique, já pediu 35 milhões de euros para ajudar vítimas do ciclone Idai. Portugal, revelou o ministro da Administração Interna, está a avaliar o envio de apoio no âmbito da proteção civil. "A Autoridade Nacional de Proteção Civil manifestou já disponibilidade para prestar apoio, estamos neste momento a avaliar a dimensão desse apoio solidário", afirmou aos jornalistas Eduardo Cabrita, à margem de uma operação de fiscalização rodoviária da PSP.
Por seu turno, a Cruz Vermelha Portuguesa disponibilizou, esta segunda-feira, 5 mil euros do Fundo de Emergência destinado a catástrofes e está a recolher donativos para as respostas humanitárias da congénere moçambicana na Beira.
Em "apelo de emergência" inserido na página oficial, a Cruz Vermelha Portuguesa informa que comunicou já à sua congénere "a disponibilidade para apoiar as respostas humanitárias" e pediu "à comunidade para contribuir através de donativos para o seu Fundo de Emergência". Os donativos para o Fundo de Emergência podem ser transferidos para a conta bancária: PT50 0010 0000 3631 9110 0017 4.
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