Borrel pede à UE uma resposta mais forte para a situação em Gaza
O antigo chefe da diplomacia europeia escreveu que "os europeus não podem continuar sendo os tolos infelizes desta história trágica, distribuindo dinheiro de olhos fechados".
O ex-líder da diplomacia europeia, Josep Borrel, afirmou que a União Europeia deve apresentar uma resposta mais assertiva à catástrofe humanitária que é vivida em Gaza e às violações do direito internacional.
Num artigo publicado na revista norte-americana Foreign Affairs, Borrel considerou que a UE tem o "dever" de intervir e que deveria elaborar um plano para acabar com a guerra e evitar depender dos Estados Unidos.
"A Europa não se pode dar ao luxo de permanecer à margem", é referido no artigo que foi escrito em coautoria com Kalypso Nicolaïdis, conselheiro da União e professor catedrático de relações internacionais na Escola de Governação Transnacional de Florença do Instituto Universitário Europeu.
"Não é apenas a segurança da própria Europa que está em jogo, mas, mais importante, a história europeia impõe aos europeus o dever de intervir em resposta às violações do direito internacional por parte de Israel", é referido antes de ser deixada uma provocação aos líderes europeus: "Os europeus não podem continuar sendo os tolos infelizes desta história trágica, distribuindo dinheiro de olhos fechados".
Estas declarações surgem num momento em que os Estados-membros da UE continuam a ter dificuldades em unir-se para tomarem medidas. Na semana passada, a sucessora de Borrel, Kaja Kallas, referiu que era "muito claro" que Israel tinha violado os seus compromissos com os direitos humanos em Gaza, mas afirmou que o "problema" é saber quais as ações concretas que os líderes europeus querem adotar. Estes comentários foram feitos depois de uma revisão do acordo de associação entre Israel e a União Europeia depois de 17 membros terem protestado contra o bloqueio à entrada de ajuda humanitária no enclave.
Agora, Borrel e Nicolaïdis alertam para as lições que devem ser retiradas do passado para orientar os Estados-membros a agir, mesmo sem o apoio de países como a Alemanha, Hungria e Áustria. São ainda sugeridas uma série de medidas, como a suspensão da presença de Israel em programas da UE, sejam eles financeiros ou culturais como o intercâmbio de estudantes através do Erasmus+, ou a utilização do artigo 20 do tratado da UE para "permitir que pelo menos nove estados-membros se reúnam para utilizar certas ferramentas de política externa não relacionadas à defesa". Esta é uma opção que, tal como explicam, teria de ser explorada porque "nunca foi tomada antes".
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