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Acusações mútuas de manipulação e ingerência marcam legislativas na Moldova

Lusa 28 de setembro de 2025 às 15:32

Questionado sobre as alegações de ingerência russa nas eleições, Dodon disse que "a interferência foi por parte do Ocidente".

Os lados pró-União Europeia e pró-Rússia trocaram hoje acusações de manipulação e tentativa de sabotagem das eleições legislativas da Moldova, consideradas decisivas para o futuro do país, candidato à adesão à UE.
Eleições legislativas na Moldova marcadas por acusações de manipulação EPA/DUMITRU DORU
Governo e UE denunciam uma "profunda ingerência" de Moscovo, que nega as acusações, enquanto o bloco que apoia uma aproximação à Rússia adverte contra tentativas de fraude dos resultados eleitorais e interferência do Ocidente, numa eleição que decorre sob alta tensão e com resultado incerto. O líder socialista e um dos cofundadores do Bloco Eleitoral Patriótico (oposição), Igor Dodon, votou hoje nas eleições legislativas pelo "regresso à normalidade" e contra “o medo, que se tornou a norma”. Dodon, que foi Presidente da Moldova entre 2016 e 2020 e defende uma aproximação a Moscovo, acredita que a vitória da oposição é "óbvia" e pediu que não se permita que as autoridades anulem as eleições se o resultado não lhes for conveniente. Questionado sobre as alegações de ingerência russa nas eleições, Dodon disse que "a interferência foi por parte do Ocidente". Por seu lado, a Presidente Maia Sandu, cujo Partido Ação e Solidariedade (PAS) lidera as sondagens, mas que perdeu terreno desde a vitória esmagadora em 2021, alertou para a "interferência maciça da Rússia" após a votação, dizendo que a Moldova está "em perigo". Maia Sandu denunciou "centenas de milhões de euros" gastos por Moscovo para comprar votos, orquestrar campanhas de desinformação online e organizar a violência. Já o primeiro-ministro moldavo, Dorin Recean, também do PAS, encorajou os seus compatriotas a votarem: "Não haverá segunda volta, por isso é tão importante votar hoje" para "proteger a paz e a soberania" do país, apelou. "Ninguém, por mais poderoso que seja, pode trair o nosso país se todos nós aparecermos e votarmos com disciplina. A nossa força reside num voto justo", defendeu, destacando o trabalho das forças de segurança para evitar tentativas de sabotagem das eleições. Segundo Igor Botan, diretor do 'think tank' moldavo Adept, a Moldávia "nunca viu tal nível (de interferência estrangeira) numa campanha eleitoral" desde a sua independência em 1991. Desde 1 de agosto, a polícia moldava realizou mais de 600 buscas relacionadas com tentativas de desestabilização, segundo o Governo, e dezenas de pessoas foram presas. O serviço de cibersegurança da Moldova informou hoje que detetou várias tentativas de ataques à infraestrutura eleitoral, "neutralizados em tempo real, sem afetar a disponibilidade ou integridade dos serviços eleitorais". Moscovo tem negado qualquer forma de interferência. Com 2,4 milhões de habitantes, a Moldova tem enfrentado várias crises desde a invasão russa à vizinha Ucrânia, em 2022, pondo em risco o Governo pró-europeu de Chisinau, que considera a adesão ao bloco europeu como crucial para se libertar da esfera de influência de Moscovo. Nestas eleições, com um terço dos votantes indecisos, o voto dos pelo menos 1,2 milhões de emigrantes concentra especial atenção: contribuíram para a reeleição de Maia Sandu, são tradicionalmente pró-UE e o seu voto não está refletido nas sondagens. Entre os principais destinos dos moldavos, contam-se a Roménia, a Itália, a França e a Alemanha, mas Portugal e Espanha também têm uma grande percentagem daqueles emigrantes. O Ministério dos Negócios Estrangeiros moldavo relatou uma votação em massa na diáspora. "Hoje, milhares de cidadãos da República da Moldova exercem o seu direito de voto no estrangeiro, demonstrando mais uma vez a força e a unidade da nossa diáspora", disse, em comunicado. De acordo com Chisinau, longas filas de eleitores foram relatadas em cidades como Lisboa, Bucareste, Atenas, Praga, Roma, Nuremberga e Telavive. Por outro lado, também a votação na região separatista da Transnístria, que se inclina a favor da Rússia, será particularmente observada. Às 12:00 em Lisboa, a participação era de pouco mais de 30%. Nas últimas eleições legislativas, em 2021, a participação final foi de 52,3%. Cerca de 20 partidos e candidatos independentes concorrem a 101 lugares no parlamento, mas analistas não excluem uma assembleia fragmentada, sinónimo de instabilidade. Em 2021, o PAS venceu com 52,8% dos votos contra 27,2% do Bloco Socialista e Comunista.
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