Por vezes enganadores, os rótulos de Vinhas Velhas podem assinalar um tinto de admirável paladar e textura - como o Fontanário de Pegões Vinhas Velhas 2016.
Para a maior parte dos consumidores, a designação "Vinhas Velhas" é um dos grandes pontos de interrogação da rotulagem de vinhos. Não é insignificante, por oposição a "Premium", um apêndice mais ou menos arbitrário que informa pouco além de "este é um vinho de supermercado", mas, ao contrário de "Reserva" ou "Grande Reserva", não é tão firmemente regulado que tenha apenas um significado.
A rotulagem de um vinho como "Vinhas Velhas" implica apenas que o produtor entenda que as vinhas de que provêm as suas uvas são velhas. Essa categorização pode ser aplicada a vinhas com 20, 30, 50 ou 100 anos, o que deixa o consumidor mais ou menos na mesma. Mas se há vinhas em Portugal com 120 anos e algumas documentadas com até 150, porque é que há produtores que chamam "velhas" a vinhas que ainda estão nos seus vintes?
O facto é que, apesar de todo o País ter uma muito antiga tradição vínica, há regiões em que as verdadeiras vinhas velhas foram arrancadas, e posteriormente replantadas. Daí que no caso do Alentejo, por exemplo, as vinhas mais velhas de muitos produtores não tenham mais de 25, 30 anos, ao passo que no Dão há vinhos de vinhas de 80 anos que nem sequer são rotuladas como tal.
Regra geral, quanto mais a norte tiver sido produzido o vinho, maior a probabilidade de ser de vinhas verdadeiramente velhas: é no Douro, no Dão e na Bairrada que se concentram as nossas vinhas centenárias. Em todo o caso, um vinho de respeito rotulado como "Vinhas Velhas" terá, algures, a especificação da idade da vinha - e, se não tiver, é provável que esteja a esconder algo. Mas nada disto responde à questão fundamental: que diferença faz se as vinhas são ou não velhas?
Enquanto jovens, as vinhas são especialmente produtivas, dispersando os nutrientes que recolhem da terra por muitos cachos e bagos - o instrumento que têm, afinal, para se reproduzir e proliferar. Isto é ótimo para o volume de negócio do viticultor, mas significa também que o vinho resultante será menos concentrado. À medida que envelhece, a vinha vai perdendo o potencial produtivo, mas concentrando o conteúdo nos poucos bagos que ainda produz - menos vinho, mas mais concentração e aporte de sabor ao resultado final.
O efeito é notório, motivo pelo qual até em vinhas mais jovens alguns produtores procuram simular este efeito, cortando alguns abrolhamentos para obrigar a vinha a concentrar nutrientes em menos bagos. O resultado é um vinho frequentemente de cor mais densa e, crucialmente, com uma presença de boca completamente distinta da de um vinho de vinhas jovens: mais sedoso, espesso, textural, quase granulado e, quando acompanhado de madeira bem integrada, de taninos mais arredondados.
A diferença far-se-á sentir bastante mais em vinhos de vinhas de 80 anos do que de 30 - daí a importância de confirmar sempre se o vinho publicitado como "vinhas velhas" tem realmente idade para ostentar o nome. Regra geral, não há milagres, e um vinho demasiado barato quase nunca será de vinhas verdadeiramente velhas - ou, por outro lado, pode não valer a pena ser bebido.
O Fontanário de Pegões Vinhas Velhas, no entanto, não é um desses vinhos. A Adega de Pegões é, de resto, conhecida pela boa relação preço-qualidade, e aqui apresenta-nos, na faixa dos €10 a €15, uma colheita de 2016 com generoso estágio em madeira, de vinhas da casta Castelão de 60 anos de idade. É essencial que seja bem servido - a cerca de 16 graus, o que já é bastante fresco, e depois de um período generoso em contacto com o ar - mas, nas mãos certas, este vinho recompensa o comprador com estrutura de sobra, notas vívidas de fruta preta, fumo, chocolate, café e couro, e a cremosidade de boca que só verdadeiras vinhas velhas podem conferir.
"Um vinho para o fim de semana" é uma rubrica semanal em que lhe sugerimos, todos os sábados, uma referência para provar ao longo do fim de semana - uma rubrica a cargo do jornalista da SÁBADO Pedro Henrique Miranda.