Os novos, os portugueses e os clássicos na piscina: um guia de filmes para ver no IndieLisboa
De 1 a 11 de maio, o IndieLisboa aposta em mais de 100 filmes. Há clássicos de Almodóvar e dos irmãos Cohen, animação, comédias sobre Salazar, Pamela Anderson e C. Tangana.
Nem as polémicas em torno daretirada do filme Balane 3, de Ico Costa, da programação deste ano- na sequência de acusações de violência feitas ao realizador português (por este refutadas) - ofuscam uma constatação: poucos festivais de cinema promovem em Portugal tantas estreias e longas-metragens internacionais de relevo, ao mesmo tempo que dão um palco digno a novos filmes nacionais.
Com mais de 100 apostas em cartaz, divididos em mais de uma dezena de secções temáticas, o IndieLisboa volta a apostar este ano em "longas" e "curtas" para os mais novos e muitas estreias em solo nacional, da primeira longa-metragem de C. Tangana como realizador ao filme que deu a Pamela Anderson uma nomeação para os Globos de Ouro, de um documentário sobre Milton Nascimento a um musical queer, de Pedro Almodóvar a Questlove e ao cinema chinês.
Dessa mais de centena de filmes programados (pode consultar a programação completa aqui), destacamos 16 para ver ao longo dos próximos 11 dias, de esta quinta-feira, 1 de maio, até domingo, dia 11, em salas como a Culturgest, o Cinema São Jorge e a Piscina da Penha de França.
Viver em Grande (2024), de Kristina Dufková
5.ª, 1 mai., 16h, Culturgest
Uma comédia - que é também um filme que, através do humor, procura a ternura - em stop-motion e com elementos desenhados sobre a adolescência, o excesso de peso, a valorização social do corpo, as inseguranças que o mesmo traz e o amor à música de um jovem a caminho de se tornar adulto. Foi tudo isto o que a animadora e cineasta checa Kristina Dufková quis retratar em Viver em Grande, que integra a secção Indie Júnior.
D. R.
Une Langue Universelle (2024), de Matthew Rankin
5.ª, 1 mai., 19h, Cinema S. Jorge
Mais comédia? Ei-la pela mão de Matthew Rankin, cineasta canadiano que depois de The Twentieth Century (2019), a sua estreia nas longas-metragens, deu seguimento à carreira com este filme, que "que imagina um Canadá (menos o Quebec) culturalmente irmanado com o Irão" (sinopse oficial). O The New York Timeschamou-lhe "uma comédia surrealista e levemente satírica".
D. R.
The Last Showgirl (2024), de Gia Coppola
5.ª, 1 mai., 21h30, Culturgest
O apelido da realizadora não leva ninguém ao engano: Gia, 38 anos, é neta de Francis Ford Coppola, um dos mais respeitados e aclamados cineastas do último século, e sobrinha de Sofia, também já experimentada na sétima arte. Esta é a sua terceira longa-metragem, depois de Palo Alto (2013) e Mainstream (2020). Aqui, a protagonista é Pamela Anderson, que acabou nomeada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz graças à sua Shelly Gardner, a showgirl cinquentona que interpreta neste filme.
A cineasta Flávia Moraes andou, de câmara em punho, a seguir A Última Sessão de Música, digressão de despedida dos palcos do cantor carioca a quem também já foi cunhado o epíteto "a voz de Deus". A tour aconteceu em 2022, passou por palcos europeus (incluindo Portugal) e serve de pretexto a este documentário biográfico sobre uma das figuras cimeiras da MPB - Música Popular Brasileira. A narração é feita pela atriz Fernanda Montenegro.
Na secção IndieMusic, há muito mais para ver, entre filmes sobre a história do hip-hop da Margem Sul (Filhos do Meio - Hip Hop à Margem) e retratos da vanguardista compositora e cantora Meredith Monk (Monk in Pieces), das raves e as festas de música eletrónica no Portugal dos anos 1990 (Paraíso) e das origens da música house nos EUA, que foi alvo de preconceitos homofóbicos (Move Ya Body: The Birth of House). Mas também peculiar será este documentário de Catarina Alves Costa sobre uma figura idolatrada e já quase mitológica da canção cabo-verdiana, Orlando Pantera (1967-2001), talentoso músico que morreu com 33 anos antes de lançar o seu primeiro álbum a solo. Artistas contemporâneos como Mayra Andrade e Princezito também fazem aqui a sua homenagem.
D. R.
The Big Lebowski (1998), de Joel e Ethan Cohen
Sáb, 3 mai., 20h30, Piscina da Penha de França
Sábado à noite, Piscina da Penha de França e o icónico Dude de Jeff Bridges bem projetado. A personagem sobre a qual gira todo este filme de 1998 dos irmãos Cohen é o coração deste stoner movie, com fotografia do aclamado Roger Deakins e recuperado para esta edição do IndieLisboa.
Sáb, 3 mai., 21h30, Cinema Fernando Lopes / Dom., 11 mai., 21h30, Cinema São Jorge
Barry Keoghan, ator irlandês já com papéis de grande relevo em filmes como Os Espíritos de Inisherin (2022) e Saltburn (2023), é um dos nomes sonantes do elenco deste filme, a primeira longa-metragem de Christopher Andrews, que chegou a ter Paul Mescal e Tom Burke como protagonistas pensados mas que passou depois a ser "um tenso thriller de vingança" (descreve-o assim a Variety) com Keoghan e Christopher Abbott como estrelas. Um filme, adianta a sinopse, sobre "trauma geracional" e "a bagagem da masculinidade tóxica", temas que, na ressaca do sucesso da série Adolescência, podem bem levar muitos espectadores às salas de cinema.
D. R.
Pai Nosso - Os Últimos Dias de Salazar (2025), de José Filipe Costa
Também selecionado para o Festival de Cinema de Roterdão, este filme do português José Filipe Costa é uma comédia ácida e delirante sobre o Estado Novo, imaginando que Salazar, depois de cair de uma cadeira e ter um AVC, "volta ao palacete de São Bento para convalescer", já destituído de poder. Porém, "ninguém lhe contará a verdade: nem a fiel governanta Maria de Jesus, nem as solícitas criadas Aparecida, Socorro e Teresinha, nem o seu médico pessoal". No elenco, Cleia Almeida, Jorge Mota, Vera Barreto, Catarina Avelar e Carolina Amaral.
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O trailer de 'Pai Nosso - Os Últimos Dias de Salazar'
Les Reines du Drame (2024), de Alexis Langlois
Dom., 4 mai., 18h, Cinema São Jorge
Um musical francês e queer "passado no início dos anos 2000, retratando um romance tórrido entre uma pop star que lembra Britney Spears e uma punk rocker lésbica": é assim que a revista Variety descreve este filme franco-belga, ainda sem título português (mas com um candidato evidente: As Rainhas do Drama) mas sobre um amor "cheio de intensidade, angústia, doçura e volatilidade". Quem disse que os opostos não se atraem?
Las Reines du Drame
¿Qué he hecho yo para merecer esto? (1984), de Pedro Almodóvar
Dom., 4 mai., 20h30, Piscina da Penha de França
Que Fiz Eu Para Merecer Isto?, questionar-se-á tantas vezes o caro leitor (quem nunca?). Pedro Almodóvar também o faz, neste filme de 1984 protagonizado por Carmen Maura, uma comédia negra sobre uma desafortunada dona de casa, viciada em anfetaminas, que "mora com o marido que não a ama" e tem "dois filhos envolvidos na má vida, uma sogra insuportável" e uma melhor amiga e vizinha que é trabalhadora do sexo.
Também disponível na Disney+, o novo documentário de Questlove, cineasta e músico da banda The Roots, ganha honras de projeção no grande ecrã via IndieLisboa. Sly Lives é uma viagem cinematográfica ao universo rico - musical e biográfico - de Sly Stone, líder dos Sly and The Family Stone, vanguardista musical e certamente não por coincidência um dos retratados em Summer of Soul, premiado documentário anterior de Questlove sobre uma espécie de "Woodstock negro" que o tempo nebulou.
D. R.
Primeira Pessoa do Plural (2025), de Sandro Aguilar
Uma "exploração negra e enigmática da vida burguesa, do casamento e das contradições do privilégio" é como é descrito o novo filme do produtor de cinema e realizador português Sandro Aguilar, que enquanto cineasta tem-se dedicado mais a curtas-metragens mas explora aqui, através da "fantasia", as "invenções, jogos e farsas" (expressões de Aguilar em conversa com a Agência Lusa) que um casal usa para não desmoronar. O filme é protagonizado por Albano Jerónimo e Isabel Abreu.
D. R.
La Guitarra Flamenca de Yerai Cortés (2024), de Antón Álvarez
A estreia como realizador de Antón Álvarez, mais conhecido pelo nome artístico com que se tornou uma das estrelas da pop mundial - C. Tangana -, fez-se neste filme documental, sobre o talento e a vida do jovem guitarrista espanhol de flamenco Yerai Cortés. Uma "revisitação catártica através da música", promete a organização do IndieLisboa.
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O trailer de 'La Guitarra Flamenca de Yerai Cortés'
Hanami (2025), de Denise Fernandes
5.ª, 8 mai., 21h30, Culturgest
Já premiado (foi distinguido com o Prémio Revelação no Festival de Cinema de Locarno), é um filme sobre o crescimento e a passagem da infância à idade adulta de Nana, uma rapariga que "numa remota ilha vulcânica, de onde todos querem partir [Ilha do Fogo] aprende, entre marés, a querer ficar". Um retrato poético de uma cineasta de origem cabo-verdiana, com atores profissionais e não-profissionais no elenco.
D. R.
Casa-Abrigo (2025), de Márcio Laranjeira
Dom., 11 mai., 15h30, Culturgest
Inspirado por histórias reais, Casa-Abrigo é um filme de ficção sobre Vera, Madalena, Conceição e Gabriela, quatro vítimas de violência doméstica que vivem numa casa-abrigo e que "juntas, redescobrem o lugar que ocupam, enquanto tentam conquistar a independência e segurança para recomeçarem uma vida". Maria João Pinho, Leonor Silveira, Ana Sofia Martins, Filomena Gigante e Rita Cabaço integram o elenco.
D. R.
Caught By The Tides (2024), de Jia Zhang-ke
Dom., 11 mai., 21h30, Culturgest
A história recente da China cruza-se com a de um "romance falhado" que liga, durante 20 anos, uma cantora e bailarina, Qiao, a um "dúbio produtor de música, Bin", neste novo filme do cineasta chinês Jia Zhang-ke. Já vencedor do Leão de Ouro (o prémio cimeiro) no Festival de Veneza, premiado também nos festivais de Locarno e Cannes e autor de filmes como Still Life - Natureza Morta (2006), China - Um Toque de Pecado (2013), Se as Montanhas se Afastam (2015) e As Cinzas Brancas Mais Puras (2018), o realizador de 54 anos estreia em Portugal, na sessão de encerramento do IndieLisboa, o seu mais recente filme, apresentado no ano passado nas secções competitivas do Festival de Cannes.