O realizador português Manuel Pureza, que estreia esta sexta-feira, 7 de junho, a série televisivaSempre, sobre a revolução de 25 de Abril de 1974, considera que "tempos obscuros obrigam a resistências mais criativas".
Em entrevista à agência Lusa, Manuel Pureza contou queSempre, a exibir na RTP e na plataforma destreamingAmazon Prime, tem seis episódios com outras tantas histórias, e outras tantas perspetivas, sobre a revolução de abril de 1974.
É "uma carta de amor a oito mãos", escrita por Manuel Pureza, David Neto, Luís Filipe Borges, Luís Lobão; uma série ficcional com personagens inspiradas em pressupostos históricos e circunstâncias verdadeiras, e que tocam em vários assuntos, como o poder, o racismo, a música de intervenção, o papel dos estudantes e do jornalismo naqueles dias de Abril.
"Partimos de uma pergunta para cada história que começava sempre com 'E se?' E se houvesse uma operacional que estava grávida e tinha de esconder a gravidez do regime e do próprio partido, por exemplo; um soldado negro destacado no Chiado, um cantautor que voltasse de Paris a tempo do 25 de Abril. [...] Perguntas que surgiram como catalisadores, e a partir dessas perguntas nasceu a pesquisa", contou o realizador.
Cada episódio relata a revolução do ponto de vista de uma personagem distinta, com a ficção a ser complementada com imagens de arquivo e, no final, com depoimentos de quem viveu ou tem uma palavra a dizer sobre os acontecimentos de há 50 anos.
"Estas nossas ficções não magoam em nada o que aconteceu. Antes pelo contrário. Propiciam às gerações mais novas uma interpretação verdadeira e do lado certo da História. Não há nada a pôr em causa os valores de Abril. Isto continuará sempre a ser uma carta de amor a Abril", sublinhou Manuel Pureza.
O realizador, que nasceu em Coimbra dez anos depois da revolução, é argumentista, realizador e produtor, tem feito sobretudo televisão, tendo assinado a novelaPôr do Sol(2021-2022), uma paródia ao formato das telenovelas, queextravasou os pequenos ecrãse se transformou num fenómeno de popularidade.
SobreSempre, Manuel Pureza espera que, pelo menos, suscite diálogo entre os espectadores.
"Se a série tiver o mesmo efeito que tiveram outras séries que fizemos, de reunir famílias à volta da televisão para poderem conversar sobre o que estão a ver; não só rir, mas conversar, partilhar, haver essa experiência 'social' de ver uma série, qualquer série sobre o 25 de Abril, é importante nos dias que correm", considerou.