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"Os Infanticidas": Manuel Pureza fez um filme sobre a amizade, a adolescência e a idade adulta

Um filme sobre "perder a juventude" e entrar na idade adulta, é assim que o criador de "Pôr do Sol" descreve "Os Infanticidas". No verão, chega a série "Felps", uma "Rua Sésamo em esteroides".

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Edição de 5 a 11 de agosto
Lusa 11 de março de 2025 às 16:02
D.R.

O realizador Manuel Pureza estreia na quinta-feira um filme sobre "perder a juventude a favor do jogo da idade adulta" enquanto se prepara para rodar uma nova série televisiva, com a mesma equipa de Pôr do Sol.

Os Infanticidas é uma adaptação de um texto de Luís Lobão, levado à cena em 2017 no Teatro da Comuna, em Lisboa, e tanto a peça como o filme partilham o mesmo quarteto de elenco: Anna Leppänen, Luís Lobão, Joana Campelo e João Vicente.

Dois amigos de longa data, designados Verde (João Vicente) e Vermelho (Luís Lobão), discutem sobre as dores de crescimento, a responsabilidade e o compromisso da chegada à vida adulta, um mais inconformado com a mudança, outro mais apaziguado com essa inevitabilidade.

Há ainda a personagem Branco (Anna Leppänen), namorada de Verde, e Ela (Joana Campelo), que representa todas as namoradas de Vermelho.

"Pessoalmente, [interessa-me] tudo o que for pensar sobre a questão do crescer. Crescer é comprometer-se, o crescer é encontrar compromisso, responsabilidade, etc. E isso teve um eco em mim bastante grande. É sobre a amizade, perder amigos, perder a juventude a favor do jogo da idade adulta. Porque, no fundo, continuamos a ser um bando de crianças perdidas à procura de sentido nisto tudo", afirmou Manuel Pureza à agência Lusa.

Para o realizador, o sentido do filme "tem a ver com esse espanto dos olhos das crianças". "Infelizmente vamos perdendo ao longo da vida, porque temos contas para pagar, discussões para ter, orçamentos para aprovar, porque o trabalho assim o diz, a sociedade assim o diz".

No filme, as reflexões entre os dois amigos surgem numa sucessão de segmentos, em cenários e situações distintas, aparentemente desconexas da narrativa, num campo de ténis, num café, numa partida de xadrez ou dentro de um programa televisivo.

"A minha ideia era, sobretudo, fazer uma experiência e fazer com que as imagens avançassem ao sabor da palavra, a palavra é muito importante. O que está a ser dito, independentemente do que está a ser visto, entra em concordância ou dissonância com as imagens e com os quadros que nós idealizamos para cada um dos momentos do texto", explicou Manuel Pureza.

Os Infanticidas, que o realizador descreve como "um caleidoscópio", é um objeto mais pessoal dentro do percurso profissional no cinema e televisão, e foi feito em 2021 durante a pandemia da covid-19, com apoio do programa Garantir Cultura.

"Juntámo-nos numa equipa pequenina e filmámos em 17 dias. [O filme] é o resultado de consequências financeiras. Foi feito em semi-confinamento, já não estávamos na agressividade da primeira vaga. Foi feito entre temporadas do Pôr do Sol [série televisiva para a RTP]", disse.

Os Infanticidas é, na verdade, a primeira longa-metragem de Manuel Pureza fora do universo televisivo no qual tem trabalhado há vários anos de forma regular.

"Este é uma incursão mais pessoal. É difícil definir-me pelos filmes, porque são bastante espaçados no tempo e resultam de desafios que me coloco. Este tem uma visão ligeiramente adolescente sobre a amizade. Estreia agora como uma espécie de intervalo entre as coisas que faço", explicou.

O filme chega agora aos cinemas numa altura em que Manuel Pureza se prepara para filmar uma nova série televisiva para a RTP, com a mesma equipa da série Pôr do Sol, argumento de Henrique Dias e estreia prevista para o verão.

"É uma série chamada Felp, que é a Rua Sésamo em esteroides. Os bonecos estão fartos de fazer programas infantis, têm contas para pagar, tem aspirações e sonhos e vão revoltar-se contra os humanos", descreveu.

Pedro Catarino

Os Infanticidas tem produção da Coyote Vadio, que Manuel Pureza cofundou com Andreia Esteves.

Manuel Pureza realizou, entre outros, a curta-metragem A bruxa de Arroios (2012), as telenovelas Rainha das Flores (2015-2016) e Prisioneira (2019-2020), Até que a vida nos separe (2021) e Sempre (2024), realizou o filme Linhas de Sangue (2018) em parceria com Sérgio Graciano e fez duas temporadas e a longa-metragem do universo da comédia Pôr do Sol.

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