O realizador Manuel Pureza estreia na quinta-feira um filme sobre "perder a juventude a favor do jogo da idade adulta" enquanto se prepara para rodar uma nova série televisiva, com a mesma equipa de Pôr do Sol.
Os Infanticidas é uma adaptação de um texto de Luís Lobão, levado à cena em 2017 no Teatro da Comuna, em Lisboa, e tanto a peça como o filme partilham o mesmo quarteto de elenco: Anna Leppänen, Luís Lobão, Joana Campelo e João Vicente.
Dois amigos de longa data, designados Verde (João Vicente) e Vermelho (Luís Lobão), discutem sobre as dores de crescimento, a responsabilidade e o compromisso da chegada à vida adulta, um mais inconformado com a mudança, outro mais apaziguado com essa inevitabilidade.
Há ainda a personagem Branco (Anna Leppänen), namorada de Verde, e Ela (Joana Campelo), que representa todas as namoradas de Vermelho.
"Pessoalmente, [interessa-me] tudo o que for pensar sobre a questão do crescer. Crescer é comprometer-se, o crescer é encontrar compromisso, responsabilidade, etc. E isso teve um eco em mim bastante grande. É sobre a amizade, perder amigos, perder a juventude a favor do jogo da idade adulta. Porque, no fundo, continuamos a ser um bando de crianças perdidas à procura de sentido nisto tudo", afirmou Manuel Pureza à agência Lusa.
Para o realizador, o sentido do filme "tem a ver com esse espanto dos olhos das crianças". "Infelizmente vamos perdendo ao longo da vida, porque temos contas para pagar, discussões para ter, orçamentos para aprovar, porque o trabalho assim o diz, a sociedade assim o diz".
No filme, as reflexões entre os dois amigos surgem numa sucessão de segmentos, em cenários e situações distintas, aparentemente desconexas da narrativa, num campo de ténis, num café, numa partida de xadrez ou dentro de um programa televisivo.
"A minha ideia era, sobretudo, fazer uma experiência e fazer com que as imagens avançassem ao sabor da palavra, a palavra é muito importante. O que está a ser dito, independentemente do que está a ser visto, entra em concordância ou dissonância com as imagens e com os quadros que nós idealizamos para cada um dos momentos do texto", explicou Manuel Pureza.
Os Infanticidas, que o realizador descreve como "um caleidoscópio", é um objeto mais pessoal dentro do percurso profissional no cinema e televisão, e foi feito em 2021 durante a pandemia da covid-19, com apoio do programa Garantir Cultura.
"Juntámo-nos numa equipa pequenina e filmámos em 17 dias. [O filme] é o resultado de consequências financeiras. Foi feito em semi-confinamento, já não estávamos na agressividade da primeira vaga. Foi feito entre temporadas do Pôr do Sol [série televisiva para a RTP]", disse.