O Teatro Nacional D. Maria II vai estrear dez produções em 2024, ano em que regressa a diferentes espaços de Lisboa e mantém a digressão Odisseia Nacional através de 38 municípios portugueses, anunciaram esta quarta-feira os responsáveis, em conferência de imprensa.
Quis saber quem sou, com texto e encenação do diretor artístico do D. Maria II, Pedro Penim, a partir do primeiro verso da primeira senha para a Revolução dos Cravos, a estrear a 20 de abril no Teatro S. Luiz, em Lisboa, e25 de Abril de 1974, com criação, direção e texto de Jorge de Andrade, pela companhia mala voadora, a estrear em 26 de abril no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), são as duas estreias diretamente relacionadas com a celebração da queda da ditadura de 48 anos, a 25 de Abril de 1974.
Os espectáculos inserem-se no cicloAbril Abriu, que comemorará os 50 anos do 25 de Abril e que, de março a julho de 2024, fará o D. Maria II regressar a Lisboa - mas não ao edifício sede, no Rossio, que continuará em obras -, numa iniciativa que, segundo o diretor artístico, Pedro Penim, "expande as fronteiras do teatro para o espaço público, incorporando ruas, praças, teatros e museus, marcando um retorno vibrante à capital", num total de 17 projetos.
Relacionadas com a Revolução dos Cravos estão também as peçasMadrinhas de Guerra, com texto e direção de Keli Freitas, sobre as madrinhas dos soldados na Guerra Colonial, para ver em Lisboa de 25 a 28 de julho, eLuta armada, uma criação de André Amálio e Tereza Havlícková, a estrear a 4 de abril em Lisboa, em local a anunciar.
Madrinhas de Guerraficará em cena no antigo Tribunal da Boa Hora, que também foi tribunal plenário para os presos políticos da PIDE.
Luta armada, criação do Hotel Europa, traz para palco lutas ocorridas no passado, em Portugal, contra a ditadura e após a sua queda, com recurso a ações violentas, como assaltos a bancos e colocação de bombas.
A partir de testemunhos de militantes de organizações envolvidas naquelas lutas, o Hotel Europa apresenta um espectáculo sobre ações de movimentos surgidos antes do 25 de Abril em oposição à ditadura, como a Liga de Unidade e Ação Revolucionária (LUAR), fundada por Hermínio da Palma Inácio, em Paris, em 1967, as Brigadas Revolucionárias (BR), fundadas por Carlos Carneiro Antunes e Isabel do Carmo, e a Ação Revolucionária Armada (ARA), braço armado do Partido Comunista Português, que atuou em Portugal entre 1970 e 1973, contando, entre as principais operações, a destruição de material militar destinado à Guerra Colonial.
Outros movimentos abordados na peça têm origem no pós-25 de Abril, como a rede bombista de extrema-direita que atuou em Portugal durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), que englobava o Exército de Libertação de Portugal (ELP), fundado pelo ex-subdiretor-geral da PIDE Agostinho Barbieri Cardoso, e o Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), presidido por António Spínola e o autointitulado "Movimento Maria da Fonte", que operava no norte com o apoio da Igreja Católica ou do MDLP, sem esquecer os movimentos independentistas da Madeira e dos Açores e, já da década de 1980, as ações da organização de extrema-esquerda Forças Populares 25 de Abril (FP-25).
O mercado das madrugadas, com texto e encenação de Patrícia Portela, a estrear a 9 de maio no Largo de S. Domingos, em Lisboa,Popular, uma criação de Sara Inês Gigante, com que a atriz venceu a sexta edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, constam também das estreias do D. Maria II para 2024.
Zénite, um projeto com direção artística de Sílvio Vieira, que encerra uma trilogia de espetáculos e que consistirá numa obra cenográfica construída ao ar livre a partir do entulho das obras de requalificação do D. Maria II, é outra das estreias agendadas para Lisboa, que deverá ocorrer a 28 de junho, em local ainda a anunciar.
Num ano em que a "Odisseia Nacional" se prolongará, devido ao atraso das obras no edifício-sede do teatro, que só deverá reabrir no primeiro trimestre de 2025, segundo declarações recentes de Pedro Penim, destacam-se ainda mais três estreias, que completam a lista de novos espectáculos do D. Maria II.
Norma, uma peça de dança, circo eperformance, com direção artística de Diana Niepce, a estrear-se a11 de julho, em Lisboa, em local a anunciar,Penélope 2, de UMcoletivo, que se estreará em local e data a anunciar, eA paz é paz, também do Umcoletivo, a estrear a 19 de abril no Teatro Romano, em Lisboa, são esses três projetos novos.
A programação de 2024 do Teatro Nacional D. Maria II tem início a 11 de janeiro, com a conferência "Antecipar o futuro", a realizar no município algarvio de Lagoa.
No próximo ano, há ainda a assinalar o regresso à programação do Teatro D. Maria deEnsaio para uma cartografia, o primeiro trabalho de Mónica Calle estreado em 2017, na sala Estúdio, onde voltou em 2018. Em 2024, regressará a Lisboa nos dias 14 e 15 de junho, a local a anunciar.
A programação do Nacional D. Maria II para 2024 foi apresentada esta quarta-feira em Lisboa, por Pedro Penim, diretor artístico, e Rui Catarino, o presidente do conselho de administração do teatro.
Um D. Maria II "mais nacional que nunca"
Ao todo, durante todo o ano 2024, o Teatro D. Maria II vai apresentar 56 espetáculos, exposições e formações, incluindo iniciativas para escolas.
"Um ano muito particular para o D. Maria II", é como o presidente do conselho de administração do D. Maria II, Rui Catarino, define 2024, alegando que será um ano em que a instituição "refletirá sobre a sua missão com equipa e parceiros", depois do trabalho por todo o território português em 2023, seguindo-se a dois anos de pandemia e com uma obra de remodelação em curso no edifício sede.
"Neste ano de continuação de Odisseia [Nacional] mas também de regresso da programação a Lisboa, preparamos a reabertura do histórico edifício do Rossio, e também a construção do que será um novo teatro, sem existência física, mas nem por isso menos tangível", escreve Rui Catarino na abertura da programação do próximo ano.
Este novo teatro é o que a equipa quer "mais nacional que nunca", com sede em Lisboa, mas "com presença permanente em todo o país, alicerçado em relações duradouras com autarquias, teatros municipais, estruturas artísticas, agrupamentos de escolas e outras forças culturais do país", em articulação com "outras ferramentas de política cultural, como a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses e o Plano Nacional das Artes".
"Mais do que uma simples programação temporária", a Odisseia Nacional "tem sido um catalisador cultural em territórios onde o acesso às práticas artísticas é limitado especialmente", observou o diretor artístico do D. Maria II, Pedro Penim, sublinhando que o prolongamento da iniciativa em 2024 surgiu "como uma decisão natural", mantendo-se os cinco programas da digressão e a exposiçãoQuem és tu?.
O primeiro espetáculo a apresentar na temporada 2024, que percorrerá 38 concelhos dos 98 abrangidos em 2023, éA farsa de Inês Pereira, de Pedro Penim, alicerçada em Gil Vicente, no dia 27 de janeiro, em Amarante.
Enquanto em 2023 a digressão Odisseia Nacional estava repartida por zonas e datas específicas, em 2024 assistir-se-á a uma maior dispersão geográfica das apresentações.
Assim, no primeiro trimestre de 2024, haverá iniciativas em Lagoa, Amarante, Barcelos, Braga, Vila Nova de Famalicão, Guimarães, Lisboa, Vila Real, Bragança, Faro, Porto, Silves e Mirandela.
Zoo strory, de Edawrd Albee,descobri-quê?, uma criação de Cátia Pinheiro, José Nunes e Dori Nigro, ePérola sem rapariga, de Djaimilia Pereira de Almeida, com intervenção do artista artista Kiluanji Kia Henda, são os espetáculos a representar naqueles municípios, onde decorrerão também formações.
O Festival Panos e os espetáculosBatalha, com texto de Sandro William Junqueira,Casa portuguesa, de Pedro Penim,Pérola sem rapariga,Os idiotas, de Miguel Castro Caldas, eTerminal (O Estado do mundo), projeto da companhia Formiga Atómica, estão previstos para a programação do segundo trimestre de 2024.
Lisboa, Leiria, Caldas da Rainha, Grândola, Mértola, Pombal, Portalegre, Figueira da Foz, Torres Novas, Aveiro, Lamego, Porto, Loulé e Idanha-a-Nova são os municípios no roteiro do Nacional D. Maria, de abril a junho de 2024, enquanto em julho haverá espectáculos apenas em Lisboa.
A iniciativa "École des Maîtres", a realizar em Coimbra em 19 de setembro,Casa PortuguesaeGuião para um país possível, criação do projeto Cassandra, de Sara Barros Leitão, constam da programação para setembro e outubro.
Coimbra, Pombal, Guimarães e Gafanha da Nazaré são os concelhos onde decorrerão iniciativas nestes dois meses.
Na agenda do último trimestre de 2024 estão os concelhos de Águeda, Alcanena, Paredes de Coura, Miranda do Corvo, Borba, Campo Maior, Ourique, Fundão, Coimbra, Portalegre, Faro, Carrazeda de Ansiães, Idanha-a-Nova, Faro, Montemor-o-Novo, Barcelos e Lisboa.
Terminal (O Estado do Mundo),Casa portuguesa,Guião para um país possível,As Castro, de Raquel Castro, e as estreias associadas aos 50 anos de Abril contam-se entre os espectáculos com datas e locais já marcados para o último trimestre de 2024.
A quinta edição do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II, a edição de livros e a realização do Festival Internacional de Marionetas e Figuras Animadas (FIMFA), ainda a anunciar, constam também da programação do D. Maria II para 2024.