László Krasznahorkai, autor húngaro e vencedor do Nobel da LiteraturaLenke Szilágyi
Ainda que tenha emergido, nas últimas semanas, como um dos mais cotados nas casas de apostas para vencer o Nobel da Literatura de 2025, não deixou de ser esdrúxula a escolha do húngaro László Krasznahorkai (n. 1954), tido como mestre da narrativa teleológica e reconhecido "pela sua obra envolvente e visionária que, em pleno terror apocalíptico, reafirma o poder da arte".
Ligado ao cinema marginal do conterrâneo Béla Tarr e nos antípodas de nomes mais convencionais, como o eterno candidato Haruki Murakami, a sua escrita sombria, cerebral e marcadamente exigente distanciou-o dos seus contemporâneos - granjeando-lhe a reputação de sucessor de Franz Kafka e "mestre do apocalipse" - mas também manteve a sua obra relativamente distante do leitor comum.
Será, talvez, um sintoma dos tempos instáveis que vivemos. À altura do lançamento da sua primeira tradução portuguesa no País, escrevemos que se tratava de uma "irrefreável exploração das mais sombrias pulsões humanas", uma descrição que se poderá aplicar, em maior ou menor grau, a toda a sua obra. Descubra László Krasznahorkai em três das suas obras canónicas, apenas duas das quais editadas em português até ao momento.
O Tango de Satanás (1985)
Romance de estreia que o colocou imediatamente na vanguarda literária húngara, é tanto uma exploração teológico-filosófica das profundezas da miséria humana quanto meditação política dos destroços da Hungria soviética - a única realidade que o autor conhecia à altura da sua escrita. Contendo traços pós-modernistas formais - falta de pontuação, texto corrido sem parágrafos e capítulos estruturados como os passos de um tango, do I ao VI e do VI de volta ao I -, a trama segue Irimiás, um vigarista que se faz passar por profeta e convence uma vila degradada e sem esperança a depositar nele a sua confiança, seguindo-o rumo a um futuro melhor. Entre nós foi editado pela Antígona em 2018.
O Tango de Satanás - €17,50 (ed. Antígona)
Herscht 07769 (2021)
A outra obra de Krasznahorkai editada em Portugal muda o foco do autor para a Europa do século XXI e alguns dos principais conflitos ideológicos que a praguejam: a ecologia, o fascismo, a globalização e o colapso social decorrente da clivagem ideológica. O alemão Florian, um gigante meigo e visto como idiota da aldeia, está convencido que o fim do mundo está próximo, escrevendo cartas nesse sentido à chanceler Angela Merkel, enquanto se vê envolvido num mistério com o seu chefe neonazi Boss, a sua paixão pelo compositor Johann Sebastian Bach e um grupo de vândalos ligado ao aparecimento misterioso de lobos selvagens. Disponível a partir de 13 de outubro.
Herscht 07769 - €24,45 (ed. Cavalo de Ferro)
A Mountain to the North, a Lake to the South, Paths to the West, a River to the East (2003)
Se não se importar de ler em inglês, poderá começar por esta primeira abordagem à ficção curta de Krasznahorkai para descobrir outra faceta do autor. O título original em húngaro traduz-se para algo como "Montanha do Norte, Lago do Sul, Estradas do Oeste, Rio do Leste", e transporta-nos para a antiga capital imperial japonesa de Quioto, onde um nobre visitante se encaminha para um mosteiro para encontrar um jardim secreto sobre o qual lera. Numa história com ecos particularmente kafkianos, há um ambiente sinistro no ar, e o protagonista caminha por ruas desertas e labirínticas sem saber se está mais perto ou mais longe do destino.
A Mountain to the North, a Lake to the South, Paths to the West, a River to the East - €12,99 (em inglês)