Lily Allen aborda o seu casamento com David Arbour no novo álbumEvan Agostini/Invision/AP
Lily Allen não é alguém que fuja de controvérsias. Desde o princípio da carreira, em 2006, a cantora britânica escreve num tom afiado e irónico sobre qualquer um que atravesse no seu caminho (até o ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, foi parar às cantigas de escárnio e maldizer da cantora). Além disso, nunca fugiu do centro das atenções mediáticas - no Halloween de 2014, por exemplo, mascarou-se de Dr. Luke, o produtor acusado de assédio sexual pela cantora Kesha, e, já este ano, no podcast que apresenta, Miss Me?, admitiu não se recordar de quantas interrupções voluntárias de gravidez já realizou. No álbum que acaba de lançar (ficou disponível na sexta-feira, 24 de outubro), West End Girl, Lily Allen volta a pôr o dedo na própria ferida: canta a decepção que sentiu com o fim do casamento com o ator David Harbour (e com o próprio).
Voltemos a 2020, quando a cantora celebrou uma união com o ator David Harbour, conhecido pelos papéis em Stranger Things e no universo cinematográfico da Marvel. O casal tinha-se conhecido no ano anterior, através da aplicação de encontros muito usada entre as elites, Raya, e aparentava ter um casamento feliz, partilhando fotos da cerimónia em Las Vegas com direito a jantar de família com as filhas de Lily no In-N-Out Burger.
Em 2021, David Harbour dizia à revista People: “Nunca conheci ninguém tão profundamente gentil quanto ela. Nunca me senti tão bem cuidado por outra pessoa. Ela é genuinamente uma pessoa gentil e eu amo isso nela.” Em fevereiro de 2025, porém, surgiria a notícia de que o casal se tinha separado em dezembro. Múltiplas fontes confirmaram a separação à People, relatando que a cantora estava “devastada” e que tanto ela quanto as filhas viviam um período difícil. Mais tarde, em abril, numa entrevista para a GQ, David Harbour afirmava que era “protetor das pessoas e da realidade da sua vida”. "Não há propósito em prestar declarações [para tabloides] visto que é tudo baseado em hipérboles histéricas”, terá dito ainda.
Depois de 7 anos sem lançar um disco e a semanas da estreia da quinta e última temporada de Stranger Things (em que Harbour participa), Lily Allen volta com o seu quinto álbum de estúdio, WestEnd Girl, em que relata (com confessas liberdades artísticas) a sua relação e o eventual término com David Harbour. Escrito e gravado em apenas 10 dias em dezembro de 2024, West End Girl é, segundo a crítica, íntimo e envolvente, com um som eletrónico, pop e com uns rasgos de bossa-nova. Além de brilhar na sua sonoridade e produção, Lily Allen demonstra-se uma contadora de histórias altamente capaz de transportar o ouvinte para a sua perspectiva. “É mais fácil escrever coisas engraçadas quando o seu cerne é escuridão ou raiva... ou ódio profundo”, disse a artista numa entrevista para a Perfect Magazine.
O álbum arranca com a faixa West End Girl, onde a artista canta sobre os primórdios do casamento do casal e a sua mudança para Nova Iorque, mencionando “um belo pequenino apartamento perto de uma bela pequena escola” e a primeira ruptura: “Foi aí que a tua atitude começou a mudar.”
Na quarta faixa, Tennis, Lily encontra mensagens incriminatórias com uma Madaline, admitindo que se “fosse apenas sexo, não ficaria com ciúmes”, dando a entender que o casal se encontrava numa espécie de casamento aberto, tema que se arrasta para a faixa seguinte onde a cantora confronta Madaline e dramatiza gravações de voz trocadas entre Lily Allen e a figurinista Natalie Tippett, uma das mulheres com quem David Harbour se envolveu.
Em Relapse, a cantora confessa as dificuldades em permanecer sóbria durante esse período tão desafiante da sua vida. "O sentimento de desespero que estava a sentir era tão forte”, disse numa entrevista à Vogue, “a última vez que senti algo assim usei drogas e álcool como escape então foi martirizante lidar com estes sentimentos sem os usar”.
A faixa Pussy Palace destaca-se pela sua franqueza, descrevendo uma visita ao apartamento de Harbour onde a artista encontrou “brinquedos sexuais, lubrificante e centenas de preservativos” juntamente com uma caixa de cartas das suas inúmeras conquistas.
O álbum termina com Fruityloop, uma carta de despedida desta relação com uma breve introspeção sobre a sua criança interior e como a responsabilidade de consertar as nossas falhas não pode cair em mais ninguém além de nós, provando que dores de crescimento são naturais e inevitáveis durante toda a vida.