De onde vem a fortuna de Walter Salles, realizador de “Ainda Estou Aqui”?
Herdeiros de uma fortuna criada por um comerciante e banqueiro, a família Moreira Salles é dona de um negócio banqueiro, de exploração de minerais e até da produtora de chinelos, Havaianas.
No passado dia 2 de março, o realizador brasileiro Walter Salles e o seu filme Ainda Estou Aqui venceram um Óscar para Melhor Filme Internacional. Mas além de ter uma carreira prestigiada no cinema, o cineasta de 68 anos vem também de uma das famílias mais ricas do Brasil.
Segundo a Forbes, Salles tem um património de cerca de 4 mil milhões de euros, o que o torna o terceiro realizador mais rico do mundo, ultrapassado apenas por Spielberg e George Lucas. Na lista de homens mais ricos do Brasil, o cineasta ocupa o 11º lugar, que partilha com o seu irmão João Moreira Salles, realizador de documentários e fundador da revista Piauí. Mais acima estão Fernando Moreira Salles, sócio da editora Companhia das Letras, e Pedro Moreira Salles, o único irmão a seguir os passos do pai, sendo o atual co-presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco.
A origem da sua fortuna remete ao início do século XX, quando o seu avô, João Moreira Salles, um comerciante de café e correspondente bancário, abriu o banco Casa Moreira Salles em 1918 em Minas Gerais. Mais tarde, em 1940, esse estabelecimento iria tornar-se no Banco Moreira Salles, e depois no UniBanco. No entanto, o estabelecimento sofreu alguns retrocessos ao longo dos anos, tendo atingido o seu ponto mais baixo em 2008 durante a crise no Brasil. Pouco tempo depois conseguiu uma fusão com o banco Itaú, e conseguiu assegurar a sua posição como um dos maiores e melhores bancos da América Latina.
Uma parte da sua fortuna veio da exportação de café, o que fez com que o seu leque de contactos se expandisse até aos Estados Unidos e à família Rockefeller, que foi considerada a primeira família multi-milionária na história. Esta proximidade com uma elite política e financeira, permitiu que o filho, Walther, expandisse os negócios de família, assumindo cargos no governo. Passou pelo Banco do Brasil, foi ministro da Fazenda e embaixador em Washington sob a liderança de quatro presidentes, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart.
Outras das grandes conquistas da fortuna da família Moreira Salles veio da sua participação na renegociação da dívida externa brasileira. No final da segunda guerra mundial, o Reino Unido saiu extremamente afetado, tornando a sua dívida em moedas, a libra do Brasil, do Egito, da Suécia, e assim sucessivamente. Uma vez que a libra do Egito valia menos do que a libra do Brasil, com o dinheiro que herdou da exportação de café, Walther comprava libras egípcias e em Zurique fazia uma troca com libras do Brasil. Com os lucros deste investimento, comprou a Brazilian Warrant, o maior ativo inglês no Brasil, e adquiriu a Cambuhy, uma atual produtora de laranjas e cana-de-açúcar.
Durante os anos 1960, a família contou com o seu próximo grande investimento, quando Walther apostou na exploração de nióbio. Em 1965 Arthur Radford, um almirante da marinha dos EUA convenceu Walther a investir na produção mineira em Araxá, Minas Gerais. Na altura o nióbio não tinha grande utilização, mas segundo a BBC Brasil, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) investigou e descobriu algumas das suas propriedades e atualmente é utilizado na indústria aeroespacial e na produção de baterias de carga rápida.
Desde então, a família tem acumulado uma série de investimentos, incluindo o domínio sob a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que lidera o setor mundial de nióbio, sendo responsável por mais de 75% da produção mundial de nióbio. Em 2017, a família assumiu o controlo da empresa Alpargatas, dona da produtora de chinelos, Havaianas. Também são donos da Cambuhy Agrícola, uma produtora de laranjas e cana-de-açúcar, com um terreno de cerca de 14 mil hectares em São Paulo.
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