Sábado – Pense por si

Portugal ganha a taça e os pobres ficam com o mealheiro

Carlos Torres, em França 13 de junho de 2016 às 19:20

A ideia é apoiar a selecção, unir todos os portugueses espalhados pelo mundo e arranjar dinheiro para o Banco Alimentar Contra a Fome. Eis Mário Augusto dos Santos e a sua cruzada benemérita

A selecção portuguesa já partiu para o aeroporto de Paris-Orly, para apanhar um avião rumo a Saint-Étienne, a cidade onde esta terça-feira, 14 de Junho, se estreia no Europeu frente à Islândia. À saída de Marcoussis, às 10h da manhã, apesar de ser dia de semana cerca de 40 portugueses, com bandeiras e cachecóis, foram lá dar apoio, gritar "Allez, Allez" e "Viva Portugal". Um deles foi Mário Augusto dos Santos, de 56 anos, que aproveitou mais esta oportunidade para divulgar o seu projecto O Mealheiro.A ideia, segundo contou à SÁBADO junto à sua carrinha decorada com bandeiras portuguesas, é conciliar o apoio à selecção com a ajuda aos pobres e ao mesmo tempo unir todos os portugueses, os 10 milhões que vivem em Portugal e os 5 milhões que estão espalhados pelo mundo. Segundo explica, só é preciso que nos dias em que joga a selecção cada grupo de familiares, amigos ou colegas de trabalho coloque um mealheiro em cima da mesa e em caso de vitória cada pessoa põe lá dentro 2 euros e 1 se houver empate. E derrotas? "Não há cá derrotas", atira. "No final do Euro 2016, que todos esperamos que Portugal vença, abrem-se os mealheiros e o dinheiro recolhido é enviado para o Banco Alimentar contra a Fome. Nós somos 15 milhões de portugueses no mundo inteiro, agora imagine se cada um contribuísse nem que fosse só com um euro, eram 15 milhões de euros".Mário Augusto dos Santos teve esta ideia pela primeira vez há dois anos e pensou em pô-la em prática na altura do Mundial do Brasil. "Mas faltava pouco para começar a prova, já não dava tempo". Então, apontou ao Euro 2016 e começou a enviar emails (já foram mais de 3400) para as muitas associações ligadas a portugueses espalhadas pelo mundo. E SMS foram mais alguns milhares. Ao mesmo tempo, criou uma página no Facebook (ww.facebook.com/O-Mealheiro), que já tem 1400 likes, a explicar o seu projecto.No último domingo, dia 12, Mário Augusto dos Santos foi entregar panfletos sobre O Mealheiro para a festa dos 50 anos da Rádio Alfa (a rádio dos emigrantes portugueses em Paris), em Créteil, e aproveitando a presença do Presidente da República e do primeiro-ministro portugueses, conseguiu falar com eles por breves instantes. "O Marcelo disse-me que era uma boa ideia e que ia ver o que se podia fazer. Já o António Costa apenas me aconselhou a aproveitar para divulgar o projecto na Rádio Alfa. Falei com uma pessoa lá da rádio e em princípio vou ser entrevistado esta segunda-feira".Na terça-feira, dia 14, segue cedo, juntamente com mais quatro pessoas que o estão a ajudar nesta cruzada, para Saint-Étienne, a 450 km de Paris. "Vamos estar junto do estádio, antes e depois do jogo de Portugal, a dar a conhecer o projecto".A viver há 45 anos na zona de Paris (chegou com 11), diz que sempre que vai de férias a Portugal nota que nem sempre é bem visto pelas pessoas da sua terra, perto de Torres Vedras. "Há um certo estigma contra os emigrantes. E é a dobrar, porque quando estamos aqui, não somos de cá; e quando estamos lá, também não somos de lá. No fundo, não temos país. Gostava que este projecto ajudasse a unir todos os portugueses, porque quando Portugal perde os emigrantes também choram".Dono de uma empresa de aquecimentos para habitações, na qual emprega 24 pessoas, Mário Augusto dos Santos é casado com uma francesa. Por isso, se a final for Portugal-França, como vai ser? "Não há problema, a França já ganhou, agora é a vez de Portugal. A minha mulher não liga nada a futebol, mas há um dos meus dois filhos que torce pela França. Esse, paciência, vai ter de ficar um bocado chateado". 

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