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Nobel da Medicina premiou investigação que abriu "nova frente no combate a doenças difíceis"

Lusa 06 de outubro de 2025 às 19:08

"É mais uma frente que a ciência abre contra doenças que são, no presente, difíceis de tratar", salientou o investigador Miguel Castanho.

A investigação hoje premiada com o Nobel da Medicina representa "mais uma frente que a ciência abre" no combate a doenças de tratamento difícil, que pode passar pelo uso de células como agentes terapêuticos, salientou o investigador Miguel Castanho.
Ilustração dos vencedores do Prémio Nobel 2025 Niklas Elmehed © Nobel Prize Outreach
"É mais uma frente que a ciência abre contra doenças que são, no presente, difíceis de tratar", adiantou à agência Lusa o investigador do Instituto Gulbenkian para a Medicina Molecular (GIMM), no dia em que foi conhecida a aos norte-americanos Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell e ao japonês Shimon Sakaguchi pelo seu pelo trabalho sobre a tolerância imunológica periférica. Segundo o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, esta evolução que a ciência permitiu já aconteceu com outras terapias no passado, apontando o exemplo dos anticorpos, que começaram por ser usados esporadicamente, de forma experimental e com um custo elevado. "Foram-se vulgarizando e conseguindo formas de produção menos onerosas. Hoje salvam milhares de vidas por dia só no campo da oncologia", salientou Miguel Castanho. O investigador realçou ainda que o conhecimento nesta área deu até origem a um novo campo terapêutico, que ainda é muito experimental, mas que pode vir a tornar-se mais vulgar e importante no futuro: "O uso de células como agentes terapêuticos, quebrando o monopólio dos fármacos moleculares". Segundo explicou, o conceito de tolerância, no âmbito da tolerância imunológica periférica, refere-se à capacidade de o sistema imunitário distinguir componentes de micróbios, ou outros invasores, de componentes das células do próprio organismo, isto é, 'tolerar' o que é próprio do organismo e ser 'intolerante' ao que é externo e desconhecido. Já o conceito de periférico tem a ver com o facto de serem mecanismos dos passos mais tardios de atuação do sistema imunitário, quando as células do sistema imunitário circulam por todo o corpo, isto é, na periferia, referiu o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. "Nestas circunstâncias, as células-chave para que os processos defensivos sejam bem direcionados são chamadas células T reguladoras. A descoberta destas células e da forma como atuam permitiu entender melhor doenças em que algo corre mal e acontece o que não é suposto: autoimunidade - o sistema imunitário ataca componentes do próprio organismo", referiu Miguel Castanho. Noutras situações, como nos transplantes, a imunidade, que é "algo muito valioso para um corpo saudável", torna-se um obstáculo à cura, adiantou o investigador do GIMM, para quem saber mais sobre a tolerância imunológica periférica "torna possível pensar em formas de ajudar às necessidades dos doentes que sofrem destes males". Segundo o Comité do Prémio Nobel no Instituto Karolinska, em Estocolmo, na Suécia, o trio de investigadores recebeu o Nobel da Medicina pelo trabalho sobre tolerância imunológica periférica. "O Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina deste ano incide sobre a forma como controlamos o nosso sistema imunitário para podermos combater todos os micróbios imagináveis, evitando ao mesmo tempo as doenças autoimunes", explicou Marie Wahren-Herlenius, professora do Instituto Karolina. "O poderoso sistema imunitário do organismo deve ser regulado, caso contrário, corre-se o risco de ele atacar os nossos próprios órgãos", acrescenta o Comité do Prémio Nobel. Os investigadores "identificaram os guardiões do sistema imunológico, as células T reguladoras, que impedem as células imunológicas de atacar o nosso próprio corpo", salientou. Como consequência, as descobertas de Mary E. Brunkow, nascida em 1961, Fred Ramsdell, 64 anos, e Shimon Sakaguchi, 74 anos, "lançaram as bases para um novo campo de investigação e estimularam o desenvolvimento de novos tratamentos, por exemplo, para o cancro e doenças autoimunes", afirma a Assembleia Nobel num comunicado à imprensa. "Isso também pode levar a transplantes mais bem-sucedidos. Vários desses tratamentos estão agora em fase de ensaios clínicos", acrescenta.
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