Uma mancha, uma ruga, uma assimetria, um pêlo fora do lugar. Inclino a cabeça mais para a direita, depois para a esquerda. Torço o nariz, franzo o sobrolho. Suspiro. Apreciar o mosaico dos nossos objectos do dia-a-dia é a mesma sensação que olhar para o reflexo, no espelho: em poucos segundos fazemos um zoom impiedoso que detecta todas as falhas e imperfeições. Os auriculares emaranhados, o livro que repousa na mesa de cabeceira há demasiado tempo, o gira-discos que devia tocar mais vezes, a escova do cabelo que tem o plástico da etiqueta agarrado desde que a comprei – há quatro anos. Durante 24 horas anotei num caderno tudo aquilo em que toquei – o resultado está aqui ao lado.