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Loja histórica na Baixa de Lisboa Casa Pereira fecha portas até final do ano

31 de outubro de 2019 às 18:29

José trabalha nesta loja há 42 anos e o pai, António, há 74. O cansaço é, para ambos, a causa principal para o fecho da casa.

A conhecida Casa Pereira, situada no n.º 38 da Rua Garrett, no Chiado, em pleno centro da cidade da Lisboa, é mais uma das lojas que vai fechar as portas já no final deste ano.

"O meu pai já está muito cansado e eu já começo a ficar cansado", disse à agência Lusa José Lemos, um dos proprietários da Casa Pereira.

José trabalha nesta loja há 42 anos e o pai, António, há 74. O cansaço é, para ambos, a causa principal para o fecho da casa.

A Casa Pereira, segundo José, foi fundada em 1930 "pelo sr. Pereira" e o seu pai trabalhava lá, tendo decidido, passado alguns anos, comprar parte da loja, mantendo o nome da mesma.

O 'mítico' café é o item reconhecedor desta casa, pois o cheiro do mesmo alastrava-se para a rua, através de máquinas de moer os grãos, não deixando ninguém indiferente.

As máquinas ainda se encontram na loja, mas servem mais de decoração, pois já não são utilizadas como nos tempos áureos da casa.

Os chocolates eram também um dos produtos principais de venda, apostando numa variedade de sabores, feitios e marcas.

José Lemos referiu que antigamente as vendas eram mais a nível de chocolates nacionais, mas com o passar dos anos, as coisas mudaram e a loja passou a ter mais chocolates estrangeiros.

"Antigamente era mais à base de café e chocolates", depois é que se começou a vender outros tipos de produtos, acrescentou ainda.

Agora já fazem parte da lista de venda chás, vinhos, licores, águas, bolachas, biscoitos, rebuçados (individuais ou não, em caixa de metal ou cartão), conservas, chocolate em pó, entre outras coisas que vieram renovar e aumentar o inventário da loja.

"Não há sucessão em relação ao negócio", afirmou José Lemos.

Alicerçado ao cansaço, o facto de nenhum dos seus dois filhos querer agarrar na loja e ficar à frente do negócio de família é outro dos motivos para a decisão ser o fecho da loja.

O proprietário realça ainda um terceiro motivo que é a casa precisar, no próximo ano, de se informatizar: necessita de computador, de um livro de reclamações eletrónico, "de uma série de coisas".

"Seria um investimento razoável e a adaptação não seria fácil", apontou.

Tanto o pai como o filho decidiram não optar por essa via, reforçando ainda mais a ideia de vender a loja.

"A gente decidiu, numa reunião, encerrar a casa. Decidimos vender as paredes", revelou José Lemos.

A falta de clientes não é um dos motivos para a decisão, pois a clientela foi sempre diminuindo aos poucos, ao longo dos anos, mas o que faturavam servia para cobrir as despesas.

"Nos últimos dois anos tem estado um bocado fraco, em relação ao que era antigamente, mas o que ganhamos tem dado para as despesas", salientou José Lemos.

Acrescentou ainda que "as expetativas não são boas" para o futuro, por isso a venda da loja, bem conhecida no centro da capital, seguiu em frente.

Hoje realiza-se, pelas 15:00, uma concentração de cidadãos em frente ao estabelecimento, para se despedirem e demonstrarem o carinho que têm pela loja, mas também para apelar ao não encerramento da mesma no fim do ano.

A Casa Pereira, reconhecida pelos seus produtos 'gourmet' e de qualidade, fazia parte dos 63 estabelecimentos comerciais inseridos no programa Lojas com História.

O programa pretendia salvaguardar este tipo de comércio, mas já alguns dos estabelecimentos que faziam parte fecharam portas nos últimos anos, e a Casa Pereira vai ser mais um desses casos.

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