Secções
Entrar

Departamento de Energia dos EUA suspende despedimento de trabalhadores do setor nuclear

Lusa 17 de fevereiro de 2025 às 08:08

As centenas de despedimentos na NNSA fazem parte da estratégia para o DOGE, liderado por Elon Musk, que tem como alvo perto de 2.000 funcionários do setor.

O Departamento de Energia inverteu as ordens de demissão de funcionários federais encarregados de programas de armas nucleares, numa reviravolta que os confundiu e deixou especialistas a alertar para riscos dos cortes em curso, noticiou a Associated Press.

ALLISON ROBBERT/Pool via REUTERS/File Photo

Três responsáveis norte-americanos, que falaram à agência de notícias norte-americana "sob condição de anonimato por temerem retaliações", disseram que até 350 funcionários da Administração Nacional de Segurança Nuclear (NNSA, na sigla original) foram despedidos na quinta-feira à noite, com alguns a perderem o acesso ao correio eletrónico e a não poderem aceder ao local de trabalho, na sexta-feira de manhã.

Na sexta-feira à noite, a diretora interina do Departamento de Energia, Teresa Robbins, emitiu um memorando a revogar as demissões de quase todos os funcionários despedidos.

"Esta missiva serve como notificação formal de que a decisão de rescisão emitida em 13 de fevereiro de 2025 foi rescindida, com efeitos imediatos", lê-se no memorando, obtido no domingo pela Associated Press (AP).

A fábrica da Pantex, perto de Amarillo, no Texas, que opera na remontagem de ogivas nucleares, foi uma das mais afetadas pelos despedimentos, segundo a AP, tendo sofrido cortes de 30%.

As centenas de despedimentos na NNSA fazem parte da estratégia para o Departamento de Energia do chamado Departamento de Eficiência do Governo (DOGE), liderado por Elon Musk, que tem como alvo perto de 2.000 funcionários do setor.

"O pessoal do DOGE está a chegar sem absolutamente nenhum conhecimento sobre as responsabilidades destes departamentos", disse à AP o diretor executivo da Arms Control Association, Daryl Kimball, referindo-se à equipa de Musk. "Parece que não percebem que, na verdade, o Departamento de Energia é mais o departamento de armas nucleares."

Os relatos dos três responsáveis que falaram com a AP contradizem uma declaração oficial do Departamento de Energia, que resumiu os despedimentos a 50 trabalhadores da NNSA, considerando-os "funcionários probatórios" que "ocupavam principalmente funções administrativas e de escritório".

Segundo o vice-diretor da NNSA, Rob Plonski, não foi esse o caso, tendo publicado um apelo à ação, na rede do LinkedIn.

"Este é um momento crucial. Precisamos de decidir se estamos realmente empenhados em liderar o palco mundial ou se estamos satisfeitos por minar os próprios sistemas que garantem o futuro do nosso país", publicou Plonski, citado pela AP. "Cortar a força de trabalho federal responsável por estas funções pode ser visto como imprudente, na melhor das hipóteses, e adversamente oportunista, na pior", acrescentou.

Enquanto alguns dos funcionários despedidos do Departamento de Energia lidavam com projetos de eficiência energética e com efeitos das alterações climáticas, questões que não constituem prioridades para a administração Trump, muitos outros lidavam com projetos nucleares, mesmo que não trabalhassem diretamente em programas de armamento. As suas funções incluem a gestão de grandes depósitos de resíduos radioativos.

Neste caso, encontram-se o Laboratório Nacional de Savannah River, em Jackson, Carolina do Sul, o Sítio Nuclear de Hanford, no estado de Washington, onde os trabalhadores protegem 177 tanques de resíduos resultantes de produção de plutónio, e a Reserva Oak Ridge, no Tennessee, onde foi feito grande parte do trabalho inicial do Projeto Manhattan.

A entrada na reforma de funcionários mais antigos da NNSA, nos últimos anos, custou à agência conhecimento institucional, escreve a AP. A situação vinha a ser superada com um esforço de modernização e investimentos de 750 mil milhões de dólares (714 mil milhões de euros), a aplicar em novos mísseis balísticos intercontinentais terrestres, novos bombardeiros e novas ogivas para submarinos.

O diretor de segurança de energia nuclear da Union of Concerned Scientists, Edwin Lyman, disse à AP que os cortes podem perturbar o funcionamento diário da NNSA e criar uma sensação de instabilidade em relação ao programa nuclear, tanto no país como no estrangeiro.

"Penso que o sinal dos EUA é bastante claro. [...] Isto só pode beneficiar os adversários deste país", afirmou.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela