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Chineses dizem que leis em Portugal são "antigas" e "desajustadas"

09 de junho de 2016 às 18:51

China Three Gorges International recusa um reforço da participação dos chineses na EDP . A decisão está relacionada com a blindagem dos estatutos, que limita os direitos de voto a 20%, independentemente da participação do accionista

O vice-presidente executivo da China Three Gorges (CTG) International, Wu Shengliang, entrevistado pela Lusa, recusou um reforço da participação dos chineses na EDP, uma decisão que admitiu estar relacionada com a blindagem dos estatutos, que limita os direitos de voto a 20%, mesmo que a participação accionista seja maior.

 

"Esta é uma questão à qual prestamos especial atenção", disse, observando que "muitas leis em Portugal são já antigas e desajustadas face ao funcionamento actual do mercado" e constituem um "obstáculo para os investidores".

 

Questionado sobre a possibilidade da sua empresa vir a comprar ou vender ações da eléctrica portuguesa, visto que o período de bloqueio terminou no mês passado, Wu negou ambas as hipóteses.

 

"Somos diferentes dos outros accionistas; temos uma visão a longo prazo e o interesse é mais estratégico do que financeiro", justificou.

 

Wu Shengliang negou ainda a existência de uma concertação entre a CTG e a CNIC, a outra accionista da EDP (participação de 3,02%) detida na totalidade do capital pela República Popular da China.

 

Segundo explicou, a CNIC pertence à Administração Estatal das Reservas Externas (SAFE, na sigla em inglês), um braço financeiro do Estado chinês.

 

Já a Three Gorges é directamente tutelada pelo Governo central chinês, através de um organismo conhecido como SASAC (State-owned Assets Supervision and Administration Commission).

 

"A CNIC não tem nada a ver connosco", frisou Wu. "Trata-se de um "investidor puro", focado na "gestão financeira", enquanto "nós fazemos investimento industrial", disse.

 

Ainda assim, na estrutura accionista da EDP é aclarado que a alínea b) do n.º 1 do artigo 20.º do Código dos Valores Mobiliários obriga à agregação das duas participações, tornado imputável à República Popular da China 24,37% dos direitos de voto.

 

Para Wu, a decisão gera dúvidas: "Se, no futuro, a soma da participação de ambas as empresas ultrapassar os 25%, quem é que assume a responsabilidade", questiona. 

"A China tem centenas de milhares de empresas, e ninguém tem obrigação de nos comunicar sobre os seus planos", explica. "Caso aquela questão não seja resolvida, a CTG vai pensar duas vezes antes de continuar a investir ou comprar mais acções da EDP", concluiu.

 

Este administrador, disse ainda que as expectativas que a sua empresa tinha quando investiu na EDP "foram cumpridas", mas excluiu um reforço da participação na eléctrica portuguesa.

 

"Consideramos, sobretudo, as metas estratégicas e, nesse aspecto, estamos satisfeitos", disse Wu à agência Lusa em Pequim, enaltecendo o contributo da EDP para a internacionalização da estatal chinesa.

Em 2012, na sequência de um concurso internacional, a CTG pagou ao Estado português 2.700 milhões de euros por uma participação de 21,35% no capital da EDP, num dos maiores investimentos chineses na Europa.

 

"Hoje, a CTG é a segunda maior geradora de energia com capital privado no Brasil (...) temos projectos conjuntos com a EDP em Inglaterra e França, e presença em Itália, Polónia e Portugal", afirmou Wu.

 

Por outro lado, o gestor chinês lembrou que a entrada da CGT permitiu à eléctrica portuguesa financiar-se junto do Banco de Desenvolvimento da China, uma instituição financeira do Governo chinês, "num período em que os mercados se fecharam ao sul da Europa".

 

"Foi só após um primeiro empréstimo [da China] de mil milhões de euros que a EDP conseguiu voltar aos mercados", lembrou.

 

Wu Shengliang, 45 anos, formado em engenharia hidráulica e mestre em Economia e Gestão, é também membro do Conselho Geral e de Supervisão da EDP e director-adjunto do Departamento de Planeamento Estratégico da CTG.

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