Sindicato teme pelo futuro da cirurgia torácica no hospital de Coimbra
Ordem dos Médicos vai propor a suspensão da "idoneidade da atividade formativa" do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra no segmento da cirurgia torácica na sequência de uma advertência feita pelo SIM.
O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) está preocupado com a possibilidade de o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra ver prejudicada a sua capacidade de dar resposta às cirurgias torácicas.
O receio resulta da alegada escassez de médicos no CHUC em matéria de cirurgia torácica, uma valência transversal a outras atividades hospitalares, e da eventual falta de idoneidade formativa de jovens clínicos.
Interpelado pelaSÁBADO, o gabinete de comunicação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra indicou estar "em condições de garantir que a qualidade assistencial sempre esteve, está e estará assegurada".
Para José Carlos Almeida, secretário regional do SIM e médico do CHUC, o risco de comprometimento da "idoneidade assistencial" repercutir-se-á, por exemplo, no Centro de Trauma e na realização de biópsias do foro torácico com prejuízo do tratamento de casos de cancro.
O alerta para o risco de aquela valência no CHUC sofrer de falta de pessoal decorre de uma tomada de posição acabada de divulgar, em declarações à TSF, por José Miranda, presidente do Colégio da Especialidade de Cirurgia Torácica da Ordem dos Médicos.
O cirurgião indicou ir propor a suspensão da "idoneidade da atividade formativa" do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra no segmento da cirurgia torácica na sequência de uma advertência feita pelo SIM.
De acordo com fontes da Ordem dos Médicos (OM), tal proposta está à mercê de análise por parte da instituição, motivo pelo qual o gabinete de comunicação do CHUC declina pronunciar-se acerca das declarações do presidente do Colégio da Especialidade.
Formação em xeque no S. João e em Gaia?
Segundo apurou aSÁBADO, outros dois hospitais, o de Gaia e o de S. João (Porto), também passam por um problema igual, estando agendadas visitas do mesmo Colégio de Especialidade para aferir a idoneidade da atividade formativa.
"Nos últimos anos, de uma forma reiterada e sucessiva, não houve abertura da parte do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra de vagas para novos especialistas nem tão-pouco para os colegas que terminaram o internato complementar de terem a possibilidade de continuar a trabalhar", alegou José Miranda.
Segundo o cirurgião, "houve uma sangria constante de saída de médicos recém- especialistas" e "não está a haver uma estrutura de formação".
José Miranda espera que a sua iniciativa de propor a suspensão da "idoneidade da atividade formativa" constitua uma advertência para o Conselho de Administração (CA) do CHUC – sem qualquer membro que seja professor de Medicina – no sentido de contratar mais cirurgiões.
Foi imediatamente impossível contactar o presidente do Conselho Nacional do Internato Médico, João Carlos Ribeiro.
Fonte hospitalar disse àSÁBADO, sob anonimato, que se for suspensa a idoneidade da atividade formativa no CHUC, em Gaia e no Hospital de S. João terão de ser transferidos para Lisboa (Santa Marta e Hospital de Pulido Valente) 12 jovens médicos (dos 17 internos de cirurgia torácica existentes em Portugal).
Segundo a mesma fonte, a situação a que se chegou em Coimbra resulta de falta de empenho para manter no CHUC os cirurgiões lá formados nos últimos anos.
Para um médico sénior, auscultado pelaSÁBADO, a forma expedita de resolver o problema consiste em as administrações do CHUC e do IPO de Coimbra se reunirem para tratar da partilha de cirurgiões.
Num artigo de opinião recente, o secretário regional do Centro do Sindicato Independente de Médicos questionou "a [falta de] ambição do CHUC enquanto maior centro hospitalar" da sua zona de implantação. Neste contexto, o médico lamenta a alegada "degradação de alguns serviços, outrora de reconhecido prestígio".
"Temo que a ambição do CHUC seja a de se afirmar não enquanto Centro Hospitalar e Universitário (…), mas como Centro Hospitalar Distrital e Universitário de Coimbra", adverte José Carlos Almeida.
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