Secções
Entrar

Sampaio afirma que regulação do uso de drogas depende de mais e melhores políticas

28 de abril de 2019 às 22:42

O antigo Presidente da República falava durante a 26.ª edição da Conferência Internacional de Redução de Riscos (HR19), evento que arrancou hoje e prossegue até quarta-feira na Alfândega do Porto

O antigo Presidente da República Jorge Sampaio afirmou este domingo que seria "mais fácil" alcançar a regulação do uso das drogas, se todos os países, cidades e comunidades pudessem "fazer mais e melhores políticas públicas".

"Não é hora de descansar num dos louros. Todos os países, todas as cidades, todas as comunidades podem fazer mais e melhor para fazer políticas públicas de risco", apontou Jorge Sampaio, também membro da Comissão Global sobre Política de Drogas.

Jorge Sampaio, que falava durante a 26.ª edição da Conferência Internacional de Redução de Riscos (HR19), evento que arrancou hoje e prossegue até quarta-feira na Alfândega do Porto, salientou que apesar de ser "longo" o caminho a percorrer para "alcançar" a regulação do uso de drogas, é fundamental "não desistir".

"É hora de virar a maré. Um medicamento não estigmatizante e baseado em evidências pode influenciar e orientar as pessoas a fazerem escolhas mais responsáveis e menos nocivas. Portanto, para desenvolver mais uma estratégia de drogas credíveis, um novo passo à frente tem que ser feito, aquele que usará evidências racionais para a avaliação dos danos das drogas. Sem dúvida, este é o caminho a seguir", assegurou.

Sob o tema 'People before Politics' (‘As pessoas antes da política’), esta 26.ª edição vai reunir, nos próximos três dias, representantes das Nações Unidas, políticos, investigadores, profissionais de saúde e ativistas de mais de 80 países no Porto, e dar a conhecer o modelo português de descriminalização do uso de drogas.

Introduzido em 2001, o modelo descriminalizou a posse para o consumo de drogas e promoveu medidas para a sensibilização dos consumidores, contribuindo para a redução da criminalidade, das taxas de transmissão de VIH e do número de overdoses em Portugal.

Durante a sessão, Jorge Sampaio lembrou que o modelo de controlo de drogas em Portugal tem "muito a partilhar" com outros países, uma vez que foram "grandes mudanças" introduzidas e os resultados obtidos com a sua implementação.

"Esta nova e ousada abordagem humanística e pragmática valeu a pena", disse, salientando a redução do número de consumidores de drogas, que, consequentemente passaram a integrar de forma voluntária os tratamentos, a redução do número de casos de HIV e de "viciados" e a redução das taxas de mortalidade.

"Esta história de sucesso permite-nos defender fortemente a mudança das políticas de drogas, que põe em primeiro lugar a saúde pública, a segurança da comunidade e os direitos humanos", frisou.

Durante a sessão, o antigo Presidente da República avançou ainda que os resultados do próximo relatório da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, que será lançado a 25 de junho, em Lisboa, vão "desafiar a comunidade internacional".

"Pela primeira vez, este relatório desafiará a comunidade internacional mostrando que a classificação de drogas tem pouca ou nenhuma correlação com os danos cientificamente avaliados. No entanto, todos sabemos que tem desempenhado um grande papel na formação das perceções atuais de drogas e dos seus potenciais perigos", referiu.

A conferência, organizada pela Harm Reduction International e pela Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES) quase três décadas após o primeiro encontro em Liverpool, vai ainda retratar as respostas e os desenvolvimentos relacionados com a saúde pública.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela