Secções
Entrar

Incêndios: Falta de alimento para os animais é um problema no regresso à normalidade

09 de agosto de 2018 às 17:25

"Está tudo queimado, não há pastos. E o que é que agora vou dar de comer aos animais se não tenho dinheiro para comprar ração?", pergunta Joaquim Silva.

A população de Monchique retoma aos poucos a normalidade, no dia em que o incêndio começou a ceder aos meios de combate, mas debate-se agora com outros problemas, nomeadamente a falta de alimento para os animais.

1 de 3
Foto: Cofina Media
Foto: Cofina Media
Foto: Cofina Media

Ao sétimo dia do fogo, que consumiu milhares de hectares de floresta e de pasto no concelho da serra algarvia e que se estendeu a concelhos limítrofes, as chamas não são visíveis esta tarde em muitas zonas, embora a terra apresente alguns focos fumegantes.

A população, na sua maioria obrigada a abandonar as suas casas e os animais, começa agora a regressar às habitações com a expectativa de que "a casa de uma vida continue de pé, bem como as vacas e os porcos" que foram deixados para trás.

"Saí de casa na segunda-feira. Saí não, fui obrigado pela Guarda [GNR] a abandonar a minha casa e a deixar os meus animais. Tinha possibilidade de os levar daqui, mas a Guarda não deixou que os carregasse na carrinha, quando o fogo ainda estava muito longe. Felizmente que nada lhes aconteceu, nem a eles nem à casa", diz à Lusa Joaquim Silva, que tem duas vacas e cinco porcos.

À semelhança de outros moradores com que a Lusa falou, o habitante de Monchique, de 72 anos, critica a forma como foram obrigados a sair das casas, sem que lhes fosse permitido colocar os animais e viaturas em segurança.

"Os guardas pareciam sei lá o quê. Estavam possuídos por uma agressividade que nem consigo dizer", indica, enquanto olha para a sua habitação, com paredes 'pintadas' pelo preto deixado pelo fogo.

Joaquim faz uma pausa na conversa e chora. Questiona "o porquê de isto ter acontecido" e teme pelo seu futuro e o dos animais.

"Está tudo queimado, não há pastos. E o que é que agora vou dar de comer aos animais se não tenho dinheiro para comprar ração?", pergunta, vezes sem conta, sem conseguir encontrar a resposta.

Joaquim Silva espera encontrar no Governo as ajudas necessárias para refazer o seu pequeno sustento, a criação de "meia dúzia de animais", o mesmo sucedendo com o seu vizinho conhecido como Zé Pastor, que mora ali a menos de cem metros.

Zé Pastor vive o mesmo drama da alimentação dos animais: "Consegui retirar daqui as minhas vacas, levei-as para a casa do Zé Narciso, mas agora não tenho alimento para lhes dar", lamenta.

"Vou ter que ir falar com o presidente da Câmara para ver se ele me dá uma ajudinha para alimentar as minhas meninas - a Maria, a Acácia e a Flora", diz.

O incêndio rural, que está a ser combatido por mais de mil operacionais, deflagrou na sexta-feira à tarde em Monchique, no distrito de Faro, e lavra também no concelho vizinho de Silves, depois de ter afectado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Segundo um balanço feito hoje de manhã, há 36 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 299 pessoas estão deslocadas e distribuídas por centros de apoio, depois da evacuação de várias localidades.

Outras nove pessoas acamadas estão dispersas por unidades de saúde.

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram 23.478 hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

Na terça-feira, ao quinto dia de incêndio, as operações passaram a ter coordenação nacional, na dependência directa do comandante nacional da Protecção Civil, depois de terem estado sob a gestão do comando distrital.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela