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Bastonário dos Médicos atribui problemas na gestão da pandemia a falta de meios

07 de julho de 2020 às 12:25

Miguel Guimarães defende que o aumento recente de mortes, contágios e internamentos hospitalares por Covid-19 em Portugal deveu-se à falta de meios e a uma menor atenção às regras de segurança pela população.

O aumento recente de mortes, contágios e internamentos hospitalares por covid-19 em Portugal deveu-se à falta de meios e a uma menor atenção às regras de segurança pela população, defendeu o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Em entrevista à agência Lusa, o responsável lamentou que o país não tivesse aproveitado da melhor forma o tempo para acautelar uma situação como aquela que se vive atualmente. Por outro lado, deixou um aviso para os efeitos nefastos que novas falhas no planeamento podem ter face a uma eventual segunda vaga da doença sobre os doentes covid-19, "mas também sobre os doentes não covid-19", que diz estarem a ser esquecidos.

"Para termos isto equilibrado, temos de colocar os meios necessários. Ainda estamos a tempo de colocar as coisas no terreno, porque vamos na primeira fase da pandemia. Se tivermos uma segunda fase no inverno, a nossa capacidade de dar resposta tem de chegar aos doentes covid-19, mas também aos outros doentes. Não se nota já, mas a curto e médio prazo vai começar-se a notar e pode ter um impacto muito maior do que a covid-19", observou.

Segundo Miguel Guimarães, os 'passos em falso' registados no desconfinamento são indissociáveis de uma mudança do "alerta relativamente à vigilância e à fiscalização do que está a acontecer", lamentando que forças de segurança e câmaras municipais não tivessem tido uma "atenção redobrada" na exigência do cumprimento das regras.

"Há países que já chegaram aos zero casos por dia e nós também podemos chegar. Isso implica um grande trabalho e recursos que têm de ser garantidos aos profissionais na 'linha da frente'. Quanto mais depressa resolvermos isto, mais depressa a economia começa a crescer. É fundamental pensarmos que a pandemia ainda não acabou", referiu, sem deixar de vincar que a atual situação "não é nenhuma segunda onda da pandemia".

Ato contínuo, o bastonário dos Médicos reconheceu igualmente que "existe o risco" de negligenciar a preparação atempada do futuro em termos de resposta de saúde pública nos "recursos humanos, recursos físicos e tratamentos" face à concentração das atenções em exclusivo no desafio no presente.

"Se continuarmos concentrados no combate que temos neste momento, é possível que não se tomem as medidas adequadas para no inverno estarmos preparados para uma segunda onda de covid-19", disse, expondo outros problemas além da pandemia: "O inverno é uma altura mais complicada, não só pela gripe sazonal, mas porque há, muitas vezes, a descompensação de doenças crónicas. Se não tivermos um planeamento rigoroso, o inverno vai ser muito duro".

Apesar das críticas e dos alertas, Miguel Guimarães mostrou-se convencido de uma trajetória de normalização dos números na região de Lisboa e Vale do Tejo e destacou a importância da eventual aceitação de Portugal como um destino seguro para turistas.

"A questão é se normalizamos mais rapidamente ou mais tardiamente. Tivemos agora uma 'nega' do Reino Unido em relação aos turistas, porque não temos a situação ainda controlada. Por isso, temos de acelerar todos os processos", adiantou, acrescentando: "Há várias questões que têm de começar a ser resolvidas, porque se começarmos apenas em agosto ou setembro já estamos a começar tarde".

O líder da Ordem dos Médicos relativizou ainda a troca de críticas entre políticos e especialistas científicos sobre a orientação no combate à pandemia para a área metropolitana da capital, finalizando que "todos estão aqui para ajudar o Governo e o país" e que tudo não passou de "um grito de alerta" para os governantes.

Portugal contabiliza pelo menos 1.620 mortos associados à covid-19 em 44.129 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 535 mil mortos e infetou mais de 11,52 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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