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António, Eduardo e Fernando: motoristas heróis dos incêndios distinguidos

10 de novembro de 2017 às 19:43

Três motoristas de uma empresa de transporte rodoviário de passageiros foram hoje distinguidos. "Os passageiros diziam para eu não os deixar morrer", contou um deles.

Três motoristas de uma empresa de transporte rodoviário de passageiros foram hoje homenageados, em Coimbra, pelo "mérito e profissionalismo" demonstrados em serviço nos incêndios de 15 de Outubro, que mataram 45 pessoas.

Eduardo Botto, António Castro e Fernando Alves, da empresa Transdev Portugal, conduziam autocarros repletos de passageiros quando foram "apanhados" pelo fogo e tiveram de efectuar diversas manobras para evitar as chamas.

"Pelo valor que atribuímos à segurança, reconhecemos e distinguimos o brio e profissionalismo demonstrados por estes motoristas", salientou o director executivo da empresa Pierre Jaffard, na homenagem que decorreu numa unidade hoteleira de Coimbra.

O administrador frisou a "forma responsável, corajosa e profissional" como os três condutores enfrentaram as situações adversas provocadas pelos fogos com que se depararam nos seus percursos.

O caso mais mediático passou-se com Eduardo Botto, de São João da Pesqueira, que, no Itinerário Principal (IP) 3, em direcção a Coimbra, foi várias vezes surpreendido pelo fogo e teve de atravessar um "túnel de chamas" com 48 pessoas a bordo em pânico.

"Os passageiros diziam para eu não os deixar morrer e eu disse-lhes que não os abandonava e que iria lutar por eles", disse o motorista aos jornalistas, salientando que teve de "avançar, sem visibilidade, entre fumo e chamas" para escapar ao cerco do fogo.

O autocarro ainda pegou fogo na traseira, mas os bombeiros conseguiram apagar a ignição.

Fernando Alves, de Condeixa-a-Nova, fazia a viagem Cabanas de Viriato para Coimbra, também no IP3, quando foi impedido de prosseguir viagem. Volta a Viseu e apanha a A25, com o objectivo de ir até Albergaria e mudar para a A1, mas em Vouzela as chamas impediram o seu percurso e teve de refugiar-se na área de serviço.

Com as chamas a cercarem "rapidamente" a área de serviço de Vouzela, Fernando Alves conduziu em contramão em direcção a Viseu e conseguiu chegar a Tondela, onde julgava estar livre de perigo, mas o "fogo diabólico chegou rápido" e teve de "fugir novamente" para um jardim. E aí se manteve até às 04:00, hora em que retomou a marcha com 52 pessoas dentro do autocarro.

"Em Vouzela pensei que morríamos todos, tal era o fogo e a velocidade do vento", disse aos jornalistas.

Já António Castro, que fazia a ligação Braga-Guarda, teve de mudar a rota para escapar ao fogo e esperar várias horas na central de camionagem de Albergaria-a-Velha e utilizar o sangue frio para "acalmar as pessoas, que tinham crianças consigo". A viagem que deveria ter terminado às 23:00 prolongou-se até às 11:00 do dia seguinte.

As centenas de incêndios que deflagraram no dia 15, o pior dia de fogos do ano, segundo as autoridades, provocaram 45 mortos e cerca de 70 feridos, perto de uma dezena dos quais graves.

Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.

Esta foi a segunda situação mais grave de incêndios com mortos em Portugal, depois de Pedrógão Grande, em Junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 vítimas mortais e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.

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