A obsessão, nos limites da lei, pela igualdade de género e pela identidade cultural tende a menorizar combates mais prementes, ainda longe de encerrados, pelos direitos dos trabalhadores e das mulheres
No último ano, cronistas e opinion-makers da nação que jamais esconderam o seu liberalismo na economia e o seu conservadorismo nos costumes – uma candura pública que deve ser louvada – passaram boa parte do tempo de reflexão e prosa a equivaler os horrores do marxismo cultural, da cancel culture, da ideologia de género, do tribalismo das minorias e do fascismo da linguagem (hoje mais alinhados com a "extrema-esquerda") aos terrores da autocracia e do populismo nepotista (hoje mais alinhados com a "extrema-direita"). Ora, essa equivalência é de uma valente e inapelável hipocrisia. Defender grupos historicamente desfavorecidos da população (os negros, os homossexuais e, sim, as mulheres) numa práxis fundamentalista e, por vezes, criminosa não é a mesma coisa que atacar esses mesmos grupos numa práxis fundamentalista e, muitas vezes, criminosa. Este vírus de ideologia, conceito e linguagem chegou aos moderados de centro-direita. O maior erro de muitos deles é tentar equivaler o combate identitário e de género (classicamente de esquerda desde os anos 70, como pulsão ramificada da luta pelos direitos humanos da década anterior) ao populismo xenófobo (com raízes totalitárias dos dois lados do espectro ideológico mas hoje fértil à direita). As duas trincheiras desta batalha contemporânea não são moralmente equivalentes. Tentar difamar um adversário não é a mesma coisa que tentar envenená-lo. A vigília da linguagem até limites inanes é perigosa. A perseguição de eventuais criminosos, com a inversão do in dubio pro reo, é ainda mais perigosa. A obsessão, nos limites da lei, pela igualdade de género e pela identidade cultural tende a menorizar combates mais prementes, ainda longe de encerrados, pelos direitos dos trabalhadores e – sim, de novo – das mulheres. Mas não é o mesmo, em gravidade ética, peso moral e impacto planetário, que defender que Darwin é um charlatão, que a Terra é plana ou que os militantes antirracistas e os simpatizantes do Ku Klux Klan são duas faces da mesma moeda, como Trump, Bolsonaro e Órban fazem (Duterte resolve mais depressa o assunto, matando os primeiros). Ser activista pela identidade étnica e pela igualdade de género não é – moral como legalmente – o mesmo que ser activista pela supremacia branca ou pela negação do Holocausto. No essencial, nada distingue a acção das ditaduras de esquerda (no passado como no presente; olhe-se para Cuba ou para a Venezuela) dos regimes fascistas de direita. Mas o combate contemporâneo não é esse. A "superioridade moral" da esquerda não se dedica, em 2020, a destruir a consciência das populações. Mas o "pessimismo antropológico" da direita fá-lo hoje prolixamente. Daqui a duas décadas poderá bem ser o contrário. Neste momento, é o que é: não há equivalências.
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Seria bom que Maria Corina – à frente de uma coligação heteróclita que tenta derrubar o regime instaurado por Nicolás Maduro, em 1999, e herdado por Nicolás Maduro em 2013 – tivesse melhor sorte do que outras premiadas com o Nobel da Paz.
É excelente poder dizer que a UE já aprovou 18 pacotes de sanções e vai a caminho do 19º. Mas não teria sido melhor aprovar, por exemplo, só cinco pacotes muito mais robustos, mais pesados e mais rapidamente do que andar a sancionar às pinguinhas?
“S” sentiu que aquele era o instante de glória que esperava. Subiu a uma carruagem, ergueu os braços em triunfo e, no segundo seguinte, o choque elétrico atravessou-lhe o corpo. Os camaradas de protesto, os mesmos que minutos antes gritavam palavras de ordem sobre solidariedade e justiça, recuaram. Uns fugiram, outros filmaram.
Um bando de provocadores que nunca se preocuparam com as vítimas do 7 de Outubro, e não gostam de ser chamados de Hamas. Ai que não somos, ui isto e aquilo, não somos terroristas, não somos maus, somos bonzinhos. Venha a bondade.