Sábado – Pense por si

João Pereira Coutinho
João Pereira Coutinho Politólogo, escritor
18 de novembro de 2023 às 18:00

Dicionário da crise

É preciso um talento natural para sovar o Presidente e, ao mesmo tempo, implodir com a independência e a autoridade que restavam do governador do Banco de Portugal, reduzido assim a pau para toda a obra: ministro, governador, chefe de governo – e, se lhe pedirem muito, representante de Portugal no próximo Festival da Eurovisão.

CENTENO, MÁRIO – Saiu do governo para o Banco de Portugal. Estava disponível para fazer o percurso inverso. Como não o quiseram, deixou-se ficar onde estava. Soaram alarmes na Europa: Portugal fica perto de Marrocos, mas não é Marrocos. Ou será? Centeno removeu o turbante, pôs uma gravata e foi falar com o Financial Times, explicando à Europa civilizada que o convite foi do Presidente da República e do primeiro-ministro. Eu teria sido um pouco mais dramático e colocaria ambos, de joelhos, a chorar de desespero para que Centeno, o Magnânimo, aceitasse a pesada incumbência de os governar. Felizmente, não foi preciso chegar a tanto: horas depois da entrevista, o Presidente voltou a colocar um turbante na cabeça de Centeno e este admitiu que foi tudo um “erro”, talvez de percepção mútua. A demissão, essa, não lhe ocorreu. Nunca lhe ocorre. Os camelos de Marrocos não são exigentes.

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