Sábado – Pense por si

João Pedro George
João Pedro George
27 de junho de 2018 às 09:00

Elogio da Feira da Ladra

É uma síntese que engloba e exprime todos os conteúdos, uma encarnação particular da nossa vida colectiva, que todos reconhecemos mas que a todos ultrapassa. Se Lisboa é a capital de Portugal, a Feira da Ladra é a capital de Lisboa. Louvada seja.

Tudo quanto há pode lá ir parar. O necessário e o supérfluo. O conhecido e o desconhecido. O prescindível e o imprescindível. O banal e o estrambótico. O vulgar e o sublime. O erudito e o popular. O novo e o antigo. Na Feira da Ladra tudo o que vem à mão é vendível, roupa e trapos velhos, papéis bolorentos e fotografias cada vez mais desmaiadas, de pessoas e paisagens de outras épocas, que parecem vigiar-nos, discos de vinil sem uso e sem vida, cartazes amarelados de filmes com galãs mexicanos, sapatos sujos e disformes, peças clássicas de antiquário e moderna quinquilharia produzida em série, que parece mais velha do que é na realidade, restos mortais de casas ou bibliotecas despejadas, tralha da mais variada espécie, que aos olhos dos menos entendidos não vale nada e que só ao conhecedor é dado contemplar, bugigangas escondidas ou esquecidas em sótãos, cubículos, caixas, pequenas gavetas, coisas fora do tempo e do sítio, sem ordem nem lógica nem dialéctica, que não se relacionam mas que coexistem pacificamente sem se excluírem nem se oporem, porque tudo tem a ver com tudo e está unido por um idêntico sentido.

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