Sábado – Pense por si

João Pedro George
João Pedro George
05 de setembro de 2018 às 09:00

Açúcar

Percebe-se que o açúcar tenha estado na origem de revoluções demográficas, económicas e sociais. O açúcar foi um dos grandes responsáveis pelo surgimento do capitalismo e do colonialismo económico.

Sou viciado em açúcar. Assumo-o. Sou daquele tipo de pessoas que não conseguem viver sem consumir alimentos com C12H22O11. Pois há uma semana tomei a decisão, tão lúcida como utópica, de passar um dia inteiro sem ingerir nada que contivesse açúcar refinado. A experiência foi, é o menos que posso dizer, penosa: a ansiedade disparou, achei-me deprimido, agitado, desmotivado, sem energia própria e sem vontade de trabalhar, a fadiga apoderou-se das minhas pernas, apercebi-me de ligeiros tremores nas mãos e até os dentes rangeram um pouco, facilmente me irritava; para compensar a privação de açúcar, desatei a comer pão de fermentação lenta (o paraíso é um lugar onde se come pão de fermentação lenta acabado de fazer). De madrugada, entrei em guerra comigo próprio, transpirei, dei voltas na cama sem conseguir dormir, fui invadido por pensamentos sombrios e pessimistas quanto ao mundo em geral e quanto à minha atitude pessoal perante a existência. Vi com clareza o fracasso da minha vida. "Desisto. Eu desisto!", gritei. Fui aos tropeções até à cozinha e, ó alma perdida, engoli tudo o que tivesse carboidratos solúveis, incluindo um comprimido efervescente de vitamina C (que, como sabem, costuma levar sacarose) dissolvido em água. Os opiáceos naturais do meu cérebro, produzidos pelo açúcar, foram mais fortes que o meu desejo de purificação. Regressado ao quarto, tentei dormir, mas o sono não veio: a obscena nudez do meu corpo irradiava energia suficiente para manter um país inteiro acordado.

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