Vai haver acusação

Uma das coisas mais extravagantes na forma como o processo Marquês tem sido discutido nos media está na dúvida alimentada até agora sobre se o Ministério Público acusaria Sócrates ou, pelo contrário, arquivaria. No essencial, essa linha de argumentação, que resulta da leitura formal dos poderes do MP na fase de inquérito, foi criada e alimentada pelo próprio Sócrates. Ela é mesmo um pilar na linha de defesa política que Sócrates tem feito, apresentando-se como uma vítima da direita e apresentando os investigadores como uma extensão dessas tenebrosas forças que o impediram de continuar a sua carreira política.

Ora, por insustentável absurdo, se é verdade que sempre o MP poderia agora arquivar, isso seria a derrocada de todo o sistema de justiça penal. Como poderiam arquivar um caso com um fluxo torrencial de indícios probatórios contra os arguidos? Como poderiam arquivar um processo cujos indícios foram abundantemente confirmados, só em relação a Sócrates, umas 30 e tal vezes por tribunais superiores, da Relação ao Supremo e Constitucional?

Como poderiam arquivar um processo onde não há uma transferência de dinheiro para as contas controladas por Carlos Santos Silva que tenha uma explicação razoável? Onde há testas-de-ferro, contratos e empregos fictícios, e uma única pessoa a dispor do dinheiro em seu benefício e de quem indica? Como poderiam, afinal, arquivar um processo tão importante para conhecer algumas das causas do tóxico ciclo político e económico que vivemos pelo menos desde 2008 e que levou o País à beira da bancarrota? Só mesmo nos delírios argumentativos de Sócrates.

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