Sábado – Pense por si

Eduardo Dâmaso
Eduardo Dâmaso
12 de julho de 2018 às 05:30

O mundo é o estreito de Gibraltar

Em Itália, atiçam-lhes cães nas praias. São alvos da raiva e da chacota colectiva. Em Portugal são fantasmas, totalmente ausentes do debate público. Todos os dias o estreito é feito de camadas de sobrevivência e as praias do lado de cá corporizam uma sociedade e um mundo totalmente inacessíveis aos que vêm do outro lado do grande mar.

Leonardo Sciascia, grande escritor siciliano, ajudou-nos a entender como o nosso pequeno mundo, por vezes, comporta uma ideia de universalidade através de valores, factos e ideias que não têm paternidade identitária na perspectiva de um regionalismo ou de um nacionalismo. Sciascia proclamou no essencial da sua obra, devotada à Sicília, ao que chamava sicilianidade e às luzes do racionalismo, que todo o mundo está representado na sua ilha e na forma de ser siciliano. Na relação que tudo isso tem com o poder acertou. O exercício do poder a partir do abuso faz parte da condição humana e não apenas dos sicilianos. A luta contra esse abuso a partir da ideia de cidadania também. Um e outro são faces do localismo identitário sobre o ser siciliano que Sciascia transformou numa metáfora universal sobre o indivíduo e o poder.

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