Sábado – Pense por si

Maria Henrique Espada
Maria Henrique Espada
16 de dezembro de 2025 às 23:00

Presidenciais, ou o casting para figurante do regime

A ambiciosa conversa dos debates é só isso mesmo. Vão-nos prometendo ser um bom coach do regime.

Quem continuar atento aos debates presidenciais que embalam o tempo político que vivemos poderá ser levado a pensar que sim senhor, temos candidato (qualquer um, note-se, que as garantias dos próprios são universais) para resolver os grande males que afligem o País, a saúde, a justiça, a habitação. Há quem critique tanta entrada em áreas do governo e quem defenda que, pois se o Presidente tem direito de veto, convém saber o que pensa. Sou dos que acham que até convém saber o que pensam – mas ainda assim é bom ter consciência de que pouco pesa. E é isso e não o contrário que a pré campanha tem demonstrado: dificilmente veremos sair de 8 de fevereiro um presidente forte. O atual concurso é como nenhum outro na democracia: acumula a dispersão com a ausência de um vencedor provável e com potencial para corporizar toda uma área política. Ou sequer para se impor e ter um espaço próprio além partidos, por mais que ameacem dissoluções (pobre Jorge Pinto, a fazer lembrar o clássico “a formiga tem catarro”) e vetos (pobre Henrique Gouveia e Melo, que prometeu vetar o que agora, afinal, já nem tem opinião sobre, como o pacote laboral). O poder do Presidente na normal condução política do País tem escassos ingredientes: o peso específico do próprio, de influência em privado e em público, e de palavra. Gouveia e Melo não mexe nos bastidores que importam (os apoios são de has beens de Natais passados) e quanto à palavra, além de avanços e recuos, nunca será um tribuno inspirador ou sequer eficaz – tem-se visto. Luís Marques Mendes sobra em bastidores, mas passa a vida a dizer que não tem opinião, nem sobre isto nem sobre aquilo, porque um Presidente a não pode ter, sempre com temor de partir algum um vidro. António José Seguro teve demasiado sucesso, e precoce, a criar aura de independente, tanto que têm-lhe faltado bastidores e palavra para convencer o pleno seu próprio campo.

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Há alturas na vida de uma pessoa em que não vale a pena esperar mais por algo que se desejou muito, mas nunca veio. Na vida dos povos é um pouco assim também. Chegou o momento de nós, europeus, percebermos que é preciso dizer "adeus" à América. A esta América de Trump, claro. Sim, continua a haver uma América boa, cosmopolita, que gosta da democracia liberal, que compreende a vantagem da ligação à UE. Sucede que não sabemos se essa América certa (e, essa sim, grande e forte) vai voltar. Esperem o pior. Porque é provável que o pior esteja a chegar.