É preciso ver de perto para perceber que os alentejanos não são lentos, são é mais espertos do que nós porque já viram muitos chegar e partir. Guardam-se para quem está para ficar, e fazem-se despercebidos para quem tem a arrogância de achar que o Alentejo tem de ter a pressa de Lisboa ou do Porto.
O MEU PAI REPETE muitas frases, sempre com a alegria e o espanto de quem as está a partilhar pela primeira vez. Há algumas que repete mais do que uma vez por dia, e outras que só se pode dar ao luxo de repetir em situações muito específicas. No meio de tantas, há uma delas que entretanto já fiz minha, mesmo sem ele saber: “Mal passo a ponte 25 de abril, sinto-me logo de férias.” Quando ouvia esta frase, não conseguia que tivesse em mim o eco que tinha nele. Era novo, sabia lá eu. Hoje em dia, percebo mais esta frase do que percebia há uns anos, e já a repito, como se tivesse sido eu a inventá-la. Quando é de pai para filho, não é um roubo, é uma herança emocional que a faz vingar pelo menos mais uma geração. Há qualquer coisa em deixar Lisboa para trás e atravessar o rio, que faz com que a cabeça sinta que pode baixar a guarda, e o corpo vai-se deixando acalmar até se esquecer da rigidez de que estava refém 30 minutos antes. Os cheiros vão mudando, e quase se pode fazer a viagem de olhos fechados, e ir adivinhando por onde se está a passar. Passada a ponte, há muito por onde escolher. Dependendo da altura do ano, o viajante tem uma lista grande para se entreter. Mas há um sítio onde todos os dias do ano há uma alegria garantida: o Alentejo. O Alentejo é esperto, porque faz-se difícil no Inverno e no Verão, e convidativo na Primavera e no Outono. Afasta quem se queixa dele, e assim – esperto – guarda espaço só para quem está disposto a aceitar que estamos nas mãos dele, e que temos de nos render ao que ele tem para nos dar. Os alentejanos são injustamente chamados lentos nas anedotas que ouvimos desde sempre. É preciso ver de perto para perceber que eles não são lentos, são é mais espertos do que nós porque já viram muitos chegar e partir. Guardam-se para quem está para ficar, e fazem-se despercebidos para quem tem a arrogância de achar que o Alentejo tem de ter a pressa de Lisboa ou do Porto, ou de outra cidade qualquer onde se está sempre atrasado para o que não se quer. Eles sabem a sorte que têm, e não a querem oferecer de mão beijada a quem lá passa sem chegar a parar. O Alentejo tem o seu tempo, que não é o tempo de mais lado nenhum. Lá, a mesma paisagem são quatro paisagens, consoante a altura do ano em que a vamos visitar. Se de 3 em 3 meses nos sentarmos no mesmo lugar, vamos ver 4 sítios diferentes, todos eles no mesmo sítio.
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