"É preciso força para pecar. Se tu achas que és frágil, transforma isso numa virtude. Não peques. Principalmente, não peques contra ti"
"É preciso força para pecar. Se tu achas que és frágil, transforma isso numa virtude. Não peques. Principalmente, não peques contra ti." O jovem H. lembrava-se com frequência deste conselho da avó, salvo do entulho que restava da infância. Pouco ficou dessa época baça, para além da amargura com que acumulava dias de escola, enquanto aprendia que é sempre possível ser um pouco mais infeliz. Tímido e enfermiço por vocação, H. aproveitava todas as oportunidades para escapar às aulas, ensaios da maldade com intervalo para almoço. Já homem desfeito, era-lhe fácil reconhecer que o seu aspecto favorecia o escárnio dos colegas, quase todos louros e robustos. Só se destacava na oratória, mas Deus era a única testemunha. Nos tempos de oração, em monólogos para dentro, H. apercebia-se de uma invulgar capacidade para construir discursos, atributos que foi aprimorando, em sigilo, à medida que acumulava leituras. Concorreu, sob pseudónimo, a um prémio de poesia. E venceu, claro. No momento de o reclamar, temendo nova vaga de zombaria — naquela altura, a poesia era coisa pouco recomendável para a virilidade —, manteve o silêncio e o prémio foi atribuído a um colega ligeiramente estúpido, mas com um pai persuasivo. É fácil de perceber que H. fez tudo para passar despercebido. Forçava-se, até, a forjar erros nos testes da língua materna. Ser mediano e passar incólume, eis tudo. H. não podia negar, porém, que lhe doeu a exclusão no concurso da pinhata humana. Foram os próprios professores a excluí-lo, uma vez que o fato, devidamente almofadado e pejado de doces, ficaria demasiado largo, explicaram aos pais. Nem para pinhata humana se servia, queixava-se a Deus.
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
A escola é um espaço seguro, natural e cientificamente fundamentado para um diálogo sobre a sexualidade, a par de outros temas. E isto é especialmente essencial para milhares de jovens, para quem a escola é o sítio onde encontram a única oportunidade para abordarem múltiplos temas de forma construtiva.
O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.