"É preciso força para pecar. Se tu achas que és frágil, transforma isso numa virtude. Não peques. Principalmente, não peques contra ti"
"É preciso força para pecar. Se tu achas que és frágil, transforma isso numa virtude. Não peques. Principalmente, não peques contra ti." O jovem H. lembrava-se com frequência deste conselho da avó, salvo do entulho que restava da infância. Pouco ficou dessa época baça, para além da amargura com que acumulava dias de escola, enquanto aprendia que é sempre possível ser um pouco mais infeliz. Tímido e enfermiço por vocação, H. aproveitava todas as oportunidades para escapar às aulas, ensaios da maldade com intervalo para almoço. Já homem desfeito, era-lhe fácil reconhecer que o seu aspecto favorecia o escárnio dos colegas, quase todos louros e robustos. Só se destacava na oratória, mas Deus era a única testemunha. Nos tempos de oração, em monólogos para dentro, H. apercebia-se de uma invulgar capacidade para construir discursos, atributos que foi aprimorando, em sigilo, à medida que acumulava leituras. Concorreu, sob pseudónimo, a um prémio de poesia. E venceu, claro. No momento de o reclamar, temendo nova vaga de zombaria — naquela altura, a poesia era coisa pouco recomendável para a virilidade —, manteve o silêncio e o prémio foi atribuído a um colega ligeiramente estúpido, mas com um pai persuasivo. É fácil de perceber que H. fez tudo para passar despercebido. Forçava-se, até, a forjar erros nos testes da língua materna. Ser mediano e passar incólume, eis tudo. H. não podia negar, porém, que lhe doeu a exclusão no concurso da pinhata humana. Foram os próprios professores a excluí-lo, uma vez que o fato, devidamente almofadado e pejado de doces, ficaria demasiado largo, explicaram aos pais. Nem para pinhata humana se servia, queixava-se a Deus.
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O regresso de Ventura ao modo agressivo não é um episódio. É pensado e planeado e é o trilho de sobrevivência e eventual crescimento numa travessia que pode ser mais longa do que o antecipado. E que o desejado. Por isso, vai invocar muitos salazares até lá.
É muito evidente que hoje, em 2025, há mais terraplanistas, sim, pessoas que acreditam que a Terra é plana e não redonda, do que em 1925, por exemplo, ou bem lá para trás. O que os terraplanistas estão a fazer é basicamente dizer: eu não concordo com o facto de a terra ser redonda.