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Tiago Silva Advogado
27.09.2024

O FC do Porto volta a sofrer com os altos e loiros

Depois de assistir em directo ao pesadelo, procurei, mais tarde, rever o jogo com outra tranquilidade por forma a procurar decifrar as razões do descalabro colectivo e o que vi deixou-me ainda mais preocupado. 

1. Depois de um jogo muito competente e de uma vitória limpa e indiscutível contra um dos melhores Vitórias dos últimos largos anos, o FC do Porto deslocou-se à Noruega para se estrear na Liga Europa, tendo começado por assistir, à chegada, a uma impressionante e maravilhosa aurora boreal e acabado a tournée a ver estrelas tal foi a facilidade com que o Bodo Glimt expôs as debilidades de um FC do Porto que, com excepção dos primeiros quinze minutos, assinalou uma exibição confrangedora e repleta de erros individuais e colectivos. 

Depois de assistir em directo ao pesadelo, procurei, mais tarde, rever o jogo com outra tranquilidade por forma a procurar decifrar as razões do descalabro colectivo e o que vi deixou-me ainda mais preocupado. 

Com efeito, vi, não raras vezes, o FC do Porto a procurar condicionar a primeira fase de construção do adversário colocando 4 / 5 homens praticamente junto ao limite da sua área, enquanto Grujic (pior exibição individual do colectivo) se mantinha quase na linha do meio campo e a defesa ainda mais afundada, o que levava a que o adversário, quando jogava directo na frente e ganhava a segunda bola (o que sucedeu várias vezes), tivesse sempre imenso espaço para procurar agredir a linha defensiva do Porto tal era a forma pouca equilibrada como a equipa estava em campo. 

Vi ainda, no primeiro golo do Bodo Glimt, uma equipa que, estando na frente do marcador, tinha praticamente 7 jogadores à frente da linha da bola quando a perde junto à grande área do adversário, sendo que um dos poucos jogadores mais recuado (Eustáquio) ao invés de procurar, nesse momento, recuar rapidamente para a sua defesa (por forma a dar mais equilíbrio defensivo e retirar profundidade), revelou-se perdido e atraído pelo portador da bola (que rapidamente a colocou nas costas da defesa do FC do Porto), vindo o passe para o golo a entrar, precisamente, na zona onde Eustáquio deveria estar se tivesse feito o que se impunha (o que não invalida a má abordagem ao lance de Nehun Pérez que hesitou entre fechar à direita ou defender as suas costas). 

Vi ainda muitas vezes os dois médios que formavam o duplo pivot muito afastados da zona onde estava a bola (Eustáquio, por vezes, recuava para o lado de Nehum Pérez por forma a que a equipa pudesse sair a jogar e, quando a bola circulava até ao outro lado, Grujic, que oferecia apoio frontal a Eustáquio, demorava sempre imenso tempo a ajustar e a aproximar-se da zona da bola), vi muito espaço entre sectores e entre os jogadores do corredor central do meio campo (não foi por acaso que o FCP registou ontem 30,7% de bolas recuperadas no meio campo adversário quando os valores no campeonato são quase o dobro), vi João Mário (outra exibição individual horrível) a perder bolas em zonas proibidas e a voltar a cometer os mesmos erros de posicionamento ao ser atraído pela bola e a deixar o seu homem sozinho nas costas, vi inúmeras vezes Grujic mal posicionado e a não recuperar a posição com a rapidez que o lance exigia (como sucedeu aos 18, 58 minutos e nos lances do segundo e terceiro golos, etc), vi os homens da frente, que pressionavam a primeira fase de construção do Bodo Glimt, a não serem rápidos a ajustar e a taparem o adversário solto mais próximo, vi Gonçalo Borges e Zé Pedro a confirmarem que a camisola do FC do Porto lhes fica demasiado grande dado que não cumprem os mínimos olímpicos para integrarem uma equipa como a do FC do Porto (e junte-se-lhes Grujic), e vi, por fim, o treinador Vítor Bruno, que deixou Vasco Sousa no banco e pensou ser boa ideia jogar com Grujic a médio defensivo contra uma equipa que apostava tudo nas transições rápidas ofensivas, a não perceber o que se estava a passar em campo pois só isso explica que tenha deixado rolar aquele estado tenebroso das coisas até aos 60 minutos. 

Não, o FC do Porto não perdeu, e bem, pelo facto de o clube ser tido como favorito a conquistar a Liga Europa ou por assumir essa ambição mas por ter sido manifestamente incompetente dentro do campo e por más opções técnicas fora dele. 
Esperemos que todo aquele mar de equívocos seja rapidamente corrigido por Vítor Bruno, cujas boas ideias de jogo já aqui expressei e defendi mas que devem voltar a ter correspondência prática nos interpretes e terreno de jogo.   
Sim, porque o FC do Porto não pode voltar a ser aquilo. 
 
2. Quando parece relativamente pacífico que Benfica, Sporting e FC do Porto apoiarão a candidatura de Pedro Proença à FPF, eis que o nome de Fernando Seara aparece lançado ao barulho nessa contenda.  
Com efeito, na passada terça feira, nas páginas do Record, Luís Miguel Henrique havia lançado a suspeita que a demissão de

Fernando Seara de Presidente da Mesa da AG do Benfica poderia ter sido motivada pela necessidade de Fernando Seara libertar-se das amarras institucionais que aquele cargo lhe impunha para se poder dedicar à candidatura do seu "protegido" Nuno Lobo à presidência da FPF. 

Ontem, numa entrevista ao Record, o Ex-CFO da Benfica Sad, Luis Mendes, parecia ávido a confirmar aquela suspeita, ao criticar a liderança de Pedro Proença à frente da Liga e defender que Fernando Seara seria um bom candidato a Presidente da FPF. 

No futebol, tal como na política, não há coincidências pelo que parece claro que o Benfica foi e continua a ser instrumentalizado por terceiros por forma a que sejam alcançados outros voos fora do clube. 
 
3. A semana que corre ficou também marcada pelos protestos de vários jogadores e treinadores das principais Ligas Europeias contra o calendário absurdo de jogos na corrente época desportiva. 

Nesta matéria, a FPF primou pela ausência total de medidas que combatessem o excesso de carga competitiva, ao contrário do que fez Pedro Proença e a Liga que, antecipando o que vinha por aí, decidiu reformular o formato da Taça da Liga, tendo ainda o Presidente da Liga, enquanto Presidente da European Leagues, decidido, em conjunto com a Fifpro (Sindicato Internacional de Jogadores), interpor uma ação na Comissão Europeia contra a FIFA por falta de diálogo e consenso nas decisões sobre o calendário competitivo, nomeadamente sobre o formato e calendarização do Mundial de Clubes e da Liga das Nações. 

Quando vejo terceiros a criticarem a liderança de Pedro Proença à frente da Liga, a primeira coisa que me ocorre é que o fazem, não por falta de memória acerca do estado da Liga antes do início do seu mandato, mas por mero oportunismo pois o verdadeiro desiderato parece ser o de procurar fragilizar a sua candidatura à Presidência da FPF por forma a colocarem lá o protegido e, porventura, eles próprios. 

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