Fizeram história com o FC Porto em Famalicão mas vamos ver como acaba a história
Vítor Bruno, desagrado com a recepção aos jogadores, quando, em boa verdade, os impropérios até eram muito mais dirigidos a si do que àqueles, lembrou-se de ficar ali junto às bancadas, a olhar para os adeptos, de mãos na cintura como que a pedir desafio.
1. Depois de vários jogos em que revelou dificuldades em impedir que os adversários criassem oportunidades de golo, o FC Porto deslocou-se ao terreno do sempre difícil Famalicão e controlou completamente o jogo, nunca permitindo que a equipa da casa criasse verdadeiro perigo.
Mesmo tendo o Famalicão conseguido adiantar-se no marcador devido a vários erros individuais de jogadores do FC Porto – a começar por Fábio Vieira e a acabar em Diogo Costa – o FC Porto mostrou neste jogo uma outra competência colectiva defensiva que os próximos jogos irão ditar se foi uma excepção ou passou a constituir regra.
Para além da questão da arbitragem, que já irei abordar, este jogo fica também marcado pelas dificuldades que o FC Porto revelou na criação de oportunidades de golo, não obstante a esmagadora posse de bola que registou (o FC Porto teve 69% de posse de bola para 1 grande oportunidade de golo criada – e isto admitindo, com uma enorme dose de condescendência, que o golo correspondeu a uma flagrante oportunidade de golo).
Ora, há vários factores que talvez permitam explicar aqueles pobres números.
- Mérito do Famalicão: o Famalicão, apresentando-se num bloco muito baixo, teve mérito na forma como manteve sempre uma boa organização defensiva, com os jogadores a serem rigorosos nas coberturas e nos duelos individuais.
- Samu e o que lhe foi pedido para dar ao jogo: ao ver o jogo, fiquei com a convicção que foi pedido a Samu que baixasse e desse apoio frontal para ligar com os colegas quando o jogador revela dificuldades no primeiro toque de recepção da bola, acabando por, invariavelmente, perder muitas bolas para a equipa adversária.
Samu, mais do que um jogador de apoio e de bola no pé, é um jogador de procurar a bola no espaço dada a sua potência e explosão.
No lance do qual nasce a jogada do golo do Famalicão, o erro nasce de Fábio Vieira procurar o apoio frontal de Samu quando este está, precisamente, a fazer o movimento de quem vai procurar a bola no espaço das costas do defesa.
O FC Porto no passado recente, tinha um jogador que, ainda com as devidas distâncias, também revelava dificuldades técnicas de recepção mas era muito forte no ataque à profundidade. Nessa fase, a equipa, mais do que procurá-lo para ser associativo, convidava-o constantemente a atacar o espaço com os resultados que se conhecem. Esse jogador era Marega e todos sabemos que está muito longe do patamar qualitativo de Samu.
Samu é a solução mas para isso deve procurar-se aproveitar as suas maiores qualidades e não expô-lo aos seus maiores defeitos. - Incapacidade de o FC Porto criar desequilíbrios nas laterais: contrariamente ao que sucedeu nas Aves, onde o FCP muitas vezes conseguiu jogar e atrair por dentro para ganhar o espaço por fora (laterais), em Famalicão raras foram as vezes que os laterais do FCP ganharam as costas dos defesas do Famalicão. Se a isto acrescentarmos a incapacidade que o FC Porto revelou em criar desequilíbrios no 1x1, fosse nas alas, fosse quando procurava o jogo interior, facilmente se percebe a inoperância e impotência do jogo ofensivo do FCP, bem patente na forma como procurava, incessantemente, variar o flanco de jogo à procura do espaço que nunca apareceu.
Com Pepê e Galeno a jogarem mais em zonas interiores, o FC Porto não tem elos que pensem e criem o espaço onde pode aparecer o lateral a criar o desequilíbrio pois aqueles jogadores são, sobretudo, de verticalidade e aceleração do jogo.
Nestes jogos apertados, com pouco espaço para jogar no último terço e onde o adversário não tira o autocarro do estacionamento, seria desprovido de sentido fazer de Galeno e Pepê laterais - alas ao invés de extremos interiores?
Neste lance há um conjunto de factos que, por mais que ex árbitros apregoem que foi exemplarmente ajuizado quer pelo VAR, quer pelo árbitro, ainda prometem fazer correr muita tinta.
Comecemos pelo VAR: a que título e com que fundamento considerou estarmos perante um erro claro e óbvio para chamar o árbitro a ver as imagens do lance?
Eu admitia que o VAR tivesse dado indicação ao árbitro se o jogador ao saltar, o fizesse com o braço aberto, vindo a bola a ser desviada ou cortada pelo mesmo mas não foi isso que sucedeu.
Na verdade, percebe-se perfeitamente pelas imagens que Pepê, ao saltar para cortar a bola e ao fazer a rotação do corpo, acaba por desviar a bola com o braço, estando este em movimento natural (o braço acompanha a projecção e a impulsão do corpo), fechado, próximo do corpo e à altura do seu tronco.
Haverá, porventura, mais lance subjectivo do que este?
Então porque razão decidiu o VAR chamar o árbitro?
Quanto a Luís Godinho: o que levou o árbitro, após rever as imagens do lance, a indicar ao público que era penalti porque o jogador tinha desviado a bola com a mão, fazendo a indicação ao jogador que tinha sido a sua mão direita, o que viria a confirmar ao treinador do FC Porto no final do jogo?
Ter-se-á equivocado na linguagem e depois na sinalética?
São muitos equívocos para um lance só, ainda por cima quando estava em causa uma decisão que iria transformar completamente o jogo e, possivelmente, o seu desfecho.
A bem da transparência do futebol português, exige-se que o Conselho de Arbitragem divulgue as comunicações trocadas entre o VAR e o árbitro.
Nós temos o direito de saber, nós exigimos saber, o que viu o VAR e, depois, o árbitro naquele lance para que fosse tomada aquela decisão.
Se se vier a concluir, depois de ouvidas essas comunicações, que quer o VAR, quer o árbitro, procuraram e encontraram ali uma mão (direita) que ninguém viu e que ninguém vê, porque não existe, para fundamentar a anulação de um golo ao FC Porto e marcar um penalti a favor do adversário, então, nesse caso, a gravidade do tema atingirá outras proporções.
3. No final do jogo, e após a equipa do FC Porto ter ido agradecer o apoio dos adeptos presentes numa das bancadas do estádio, os jogadores e Vítor Bruno foram recebidos por fortes protestos tal era a frustração pelo resultado e pela forma como o FC Porto não havia sido capaz de aproveitar a derrota do Sporting para se colar ao primeiro lugar.
Vítor Bruno, desagrado com a recepção aos jogadores, quando, em boa verdade, os impropérios até eram muito mais dirigidos a si do que àqueles, lembrou-se de ficar ali junto às bancadas, a olhar para os adeptos, de mãos na cintura como que a pedir desafio.
O arremesso da garrafa de água que se seguiu vindo das bancadas é intolerável e inadmissível, devendo o seu autor ser devidamente responsabilizado e punido pela Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto, mas aos agentes desportivos também se exige que não se comportem como agentes provocadores.
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