A minha personalidade no meu telemóvel
No início dos anos 2000, a ideia de uma consulta de psicologia ser feita a distância era algo novo para muitos e certamente não era a prática regular. Vinte anos depois, a discussão já não é apenas sobre teleconsultas ou atos da profissão feitos a distância, que são uma prática comum e válida, mas sobre qual é a extensão do papel das tecnologias da informação e da comunicação na compreensão do comportamento humano e na prestação de serviços de psicologia.
Há cerca de 20 anos, numa conferência sobre os desafios à intervenção psicológica, a certa altura alguém disse: "(...) vejam que até já há consultas através da internet, no skype!". Uma afirmação exclamativa e que exclamação gerou nos presentes - entre admiração, sorrisos irónicos e expressões de dúvida, tinha acabado de ser dito algo que dava que pensar.
No início dos anos 2000, a ideia de uma consulta de psicologia ser feita a distância era algo novo para muitos e certamente não era a prática regular. Vinte anos depois, a discussão já não é apenas sobre teleconsultas ou atos da profissão feitos a distância, que são uma prática comum e válida, mas sobre qual é a extensão do papel das tecnologias da informação e da comunicação na compreensão do comportamento humano e na prestação de serviços de psicologia.
Não é que isto seja surpreendente - em todas as áreas do saber tem-se discutido o impacto da transformação digital, e a psicologia não é uma exceção. Mas, tratando-se da compreensão do comportamento humano ou do funcionamento psicológico, a diversidade de ferramentas que são informativas do mesmo e a quantidade de dados que todos nós geramos nas plataformas e aparelhos que utilizamos, traz desafios de grande magnitude. Já não é apenas uma questão de discutirmos o que é que se faz com esses dados (que existem e alguém fica com eles), mas sobretudo de sabermos se e o que é que os mesmos dizem sobre nós. Ou seja, se a nossa pegada digital pode ser utilizada no âmbito da avaliação psicológica.
Quando falamos em avaliação do comportamento humano, surge-nos frequentemente no pensamento a imagem de um psicólogo com uma mala que contém manuais, folhas de registo e itens que são utilizados, por exemplo, para caracterizar o funcionamento intelectual ou identificar características de personalidade, num qualquer âmbito de intervenção (clínico, educacional, forense, comunitário ou de recrutamento e seleção).
Ainda que esta imagem continue a ser válida, a generalização das tecnologias da informação e da comunicação e sobretudo a digitalização na vida quotidiana veio trazer muito maior complexidade.
Como sabemos, a utilização generalizada de smartphones e de aplicações e a navegação em websites e redes sociais é geradora de pegadas digitais que incluem, entre outros, registos de comportamentos, conteúdos, gastos, tipo de linguagem utilizada ou localizações. A conjunção deste vasto e complexo número de dados pode ser analisada, de forma a obter indicadores relativos ao funcionamento de uma pessoa. Por exemplo, os dados fornecidos pelos smartphones podem ser associados a uma variedade de comportamentos e a traços de personalidade. Naturalmente, isto tem muitas implicações e gera debates à luz de várias perspetivas e das questões metodológicas, conceptuais e éticas que coloca. A ideia de os dispositivos com que andamos e comunicamos (e que incorporam mais tecnologia do que um avião de há umas décadas) gerarem dados que são analisados e que, por sua vez, são informativos de muita coisa sobre nós, é vista simultaneamente com entusiasmo e apreensão.
Antes de mais, há quem discuta a validade daquelas ferramentas e dos seus dados, isto é, se nos estão realmente a dar informação sobre personalidade. Dito de outra maneira, se servem para alguma coisa. Mas servindo, como de resto se têm acumulado evidências, como poderemos lidar com questões éticas, por exemplo, de confidencialidade, privacidade e, sobretudo, o profiling (este último de que se tem falado frequentemente, já que, tendo começado por razões comerciais, se coloca agora até no plano político)?
Para que todas estas ferramentas possam responder às necessidades das comunidades e contemplar as suas implicações nos variados planos, será cada vez mais necessário um trabalho de cooperação entre profissionais, incluindo psicólogos, engenheiros e cientistas de dados, juristas, entre outros. Mas isto não é apenas uma questão operacional.
A manutenção de elevados padrões éticos neste campo deve ser uma questão central tanto para profissionais, como para as empresas, as instituições, os políticos e governantes, e os quadros regulatórios das sociedades. E em tempos de fortes ameaças a qualquer tipo de regulação de plataformas eletrónicas, esta será uma questão cada vez mais premente.
O provérbio "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és" é muito conhecido. Se a transformação digital que vivemos permite que possa ser adaptado para "Diz-me qual é a tua pegada digital, dir-te-ei quem és" ainda não é inteiramente claro. A verdade é que se acumulam as evidências da possibilidade de utilização e da utilidade desses dados para perceber como funcionam os indivíduos. Resta agora discutir e saber como é que isso pode ser feito de um ponto de vista equilibrado e eficaz, nos planos operacional e ético.
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