Sábado – Pense por si

Pedro Duro
Pedro Duro
27 de outubro de 2017 às 11:31

Por que não podemos bater-lhes (nota: inclui adúlteras)

Por muito que apeteça bater a quem trai, não o podemos fazer, nem desculpar (ainda que parcialmente) quem o fez, designadamente perante essa não necessariamente excecionalíssima circunstância da vida: a infelicidade da traição.

Quando trazemos ao nosso discurso um exemplo (facto) da vida ou argumento, estamos a dar-lhe valor, estamos a dizer que é um ponto a termos em consideração na nossa tese. Parece-me óbvio. Os exemplos e argumentos não são trazidos ao acaso, mas para servirem uma ideia. O que significa que, frequentemente (discussões de café ou até nalguns trabalhos académicos, infelizmente), a ideia já lá está, à espera de algo que a suporte. E esse é o grande vício do Acórdão da Relação do Porto que convoca as sociedades em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte, a Bíblia (já lá vamos) e o Código Penal de 1886, assumindo que "[com] estas referências pretende-se, apenas, acentuar que o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou e condena fortemente (e são as mulheres honestas as primeiras a estigmatizar as adúlteras) e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído, vexado e humilhado pela mulher".

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