Insustentável é andar depressa demais
E se, apesar de, como se costuma dizer, nos ouvirem, monitorizarem movimentos, localização e comportamentos, esta aceleração forçada que nos faz andar depressa demais for, afinal, tão insustentável que acabe por (espero) ter efeito contrário?
E, esse, é o ponto em que nos encontramos: um ponto de não retorno em que a nossa existência se acelerou num movimento incessante que parece não ter travão, segue cada vez mais depressa, sem pausa. Chama-se tecnologia e está em roda livre, num propósito absurdo de domínio e controlo global. As notícias sucedem-se e, à semelhança do que tem vindo a acontecer com as alterações climáticas (e alteração do discurso para ‘emergência climática’), as notícias sucedem-se mas (quase) não circulam na comunicação social tradicional. Nas fontes alternativas de informação, como as redes sociais digitais, o alcance também é limitado, ou seja, não são virais. Precisamos viralizar a informação mas não à velocidade da instantaneidade. Precisamos do oposto: consistência, tempo e consciência. Porque online estamos sozinhos, mesmo que, aparentemente, em comunidade.
Quando, em 1993, Howard Rheingold, professor americano, publicou o livro Comunidades Virtuais, falava sobre as relações mediadas por computador e como estas imitavam e reproduziam as conexões reais, em sociedade. Mais tarde, em 1996, avançou com a ideia de web social e que as novas ferramentas digitais trariam novas formas de comunicação e relação. Eram outros tempos, talvez de uma certa inocência e ingenuidade. Recentemente, Rheingold falou-nos sobre a desatenção que os media sociais provocam e a ilusão da produtividade multitarefa. Novamente uma certa ingenuidade, lembrando que a interacção online supõe competências e literacia para a socialização digital que, claramente, ainda não temos.
No sector tecnológico há cinco grandes empresas que dominam o mercado: a Microsoft, a Apple, a Meta, a Google e a Amazon (as big tech). Hoje, a estas devemos juntar a Alphabet (da Google), a Nvidia e a Tesla. Pelo seu impacto, também a OpenAI.
Por partes.
Alphabet, Meta, Amazon e Apple têm contribuído para grandes alterações sociais, nos nossos comportamentos e desenhando um sistema de vigilância cujo objectivo é capitalizar a tecnologia que produzem. Por outras palavras, ganhar dinheiro. Como?
Alphabet e Meta dominam o mercado publicitário digital, no qual milhares de pequenas empresas também contribuem para vender informações (dados) sobre a vida privada de cada um: o que procuramos online mas, também, onde estamos, com quem estamos, que caminhos fazemos com mais frequência.
O investimento massivo na inteligência artificial atribui um papel relevante à Nvidia e à OpenAI, bem como à Microsoft. A Amazon é o destino das compras e a novidade é a possibilidade de fazer compras através do Chat GPT (OpenAI), sem sair da aplicação. Em resumo? Se pensarmos no quotidiano digital, percebemos que estamos nas mãos de um grupo restrito de empresas que controlam a nossa vida, recolhendo todo o tipo de dados sobre nós e a nossa vida pessoal, dominando um sector que controla as nossas vidas. Como? Simples: controlando os nossos sistemas de recompensa e prazer.
Durante anos falava-se do declínio da atenção e de como as plataformas digitais, sobretudo redes sociais, influenciavam os nossos comportamentos. Já se percebeu que a recompensa imediata proporcionada pelos vídeos curtos provoca um declínio nas nossas capacidades cognitivas. Menor atenção e cada vez menos concentração.
A inteligência artificial está a ser incorporada em todos os dispositivos, criando experiências cada vez mais próximas e imersivas, criando assistentes que fazem (quase) tudo por nós. Aumenta a dependência e diminui a necessidade de pensar.
E, já agora, para quem não sabe, usar o Chat GPT como um psicólogo não só é duvidoso como a informação é categorizada e vendida, para que outras empresas possam direccionar-nos publicidade altamente personalizada. E, por falar em informações pessoais: as fotografias de meninas de 13 anos em anúncios dirigidos a homens adultos? Fotografias que foram publicadas em perfis pessoais, alguns privados (dos pais destas crianças), e que a Meta usou. Porquê? Porque pode. A não ser que optemos por não dar acesso e o não acesso, significa que não publicamos. E não publicar é, para muitos, não estar, não fazer parte. Optemos, então, por escolher (muito bem) o que partilhar.
A boa notícia? Pela primeira vez, depois do pico em 2022, com excepção para os E.U.A., o tempo passado nas redes sociais começa a diminuir. Maior consciência, noção da influência no bem estar e saúde mental e o crescimento de alternativas offline ou sem telemóveis podem ser razões que explicam esta tendência, a mesma que revela, timidamente, um crescimento nas vendas dos telemóveis de teclas, sem acesso à Internet.
Estamos perante um paradoxo: se, por um lado, os grandes da tecnologia se misturam em jantares e encontros com os líderes mundiais, lado a lado na tomada de decisão; se as plataformas tudo fazem para entrar em cada vez mais dimensões do nosso quotidiano, transformando-o, adaptando-o, pela nossa própria adaptação, vício e dependência, por outro lado, resistimos. Procuramos alternativas. Passamos menos tempo nas redes e em rede, regressamos aos encontros cara a cara. Deixamos o telefone no bolso.
E se, apesar de, como se costuma dizer, nos ouvirem, monitorizarem movimentos, localização e comportamentos, esta aceleração forçada que nos faz andar depressa demais for, afinal, tão insustentável que acabe por (espero) ter efeito contrário? Parar.
Insustentável é andar depressa demais
E se, apesar de, como se costuma dizer, nos ouvirem, monitorizarem movimentos, localização e comportamentos, esta aceleração forçada que nos faz andar depressa demais for, afinal, tão insustentável que acabe por (espero) ter efeito contrário?
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Boas leituras!